Braga assinalou 160º aniversário da morte de Frei João d’Ascensão Neiva

Na homilia, o Arcebispo D. Jorge Ortiga recordou o “Fradinho do Carmo” que foi “proibido de exercer o ministério sacerdotal” em público, mas que se dedicou “ao atendimento espiritual de quem a ele recorria, e dedicadamente ia repartindo bens pelos pobres da cidade que a ele recorriam com várias necessidades”. “Particularmente significativa era a sua atenção aos pobres, a quem dava o que tinha e o que não tinha. Todos recorriam a ele e nele encontravam conforto espiritual e material”, especificou, salientando que “gostaria” que Frei João d’Ascensão Neiva “se tornasse apelo para a vivência da caridade, no encontro com as diferentes fórmulas de pobreza” que se vivem na cidade de Braga. “Sabemos que ainda temos fenómenos de pobreza. Não os podemos ignorar. Há muita pobreza nesta cidade que se diz acolhedora de todos! Na aparência parece uma coisa, mas por dentro é totalmente diferente”, alertou.

D. Jorge Ortiga evidenciou ainda “a importância de perder tempo com os outros, com a família, para dar tranquilidade e alegria”. “Hoje precisamos de fazer o que o Papa Francisco sintetiza como «gastar tempo». Parece que se perde tempo, mas estamos a enriquecer-nos com tudo o que o amor pode dar. Se fôssemos capazes de perder tempo uns com os outros, muitos problemas jamais existiriam, ou seriam ultrapassados”, referiu, considerando que a estátua de Frei João d’Ascensão Neiva dirá à cidade de Braga que “só o amor permanece, e que nesta época de viragem cada um terá de se comprometer num estilo de vida não só solidário quanto fraterno”. “Não se trata da imagem de um santo, como muitos poderão imaginar. Não é uma pintura mais ou menos impressionista. O nosso Programa Pastoral diz que «a grande tradição hermenêutica patrística vê no Bom Samaritano uma figura de Jesus Cristo que se aproximada humanidade ferida, abandonada e deixada meia morta na beira do caminho». É esta a grande lição de Frei João d’Ascensão. É Cristo que, como Samaritano, vai cuidando, procurando ver, interrogando-se sobre o que poderá fazer, discernindo experiências de grupo e inculcando um ambiente de verdadeira participação, para juntos irmos às raízes dos problemas. Não é fácil tomar consciência sobre o que importa fazer. Acredito que, juntos, conseguiremos encontrar razões e delinear estratégias”, acrescentou.

No final, o Arcebispo lembrou a pobreza que existe nas casas, mas também nas ruas. “Esta imagem vai suscitar algumas críticas sobre a sua concepção, mas deveria provocar unanimidade no afirmar e reconhecer que há muito para fazer em Braga em favor dos pobres. Só juntos tomamos Braga uma cidade justa”.

A efeméride coincidiu com o início da Semana dos Seminários. “Braga não pode ser apenas um lugar, segundo alguns pensam, com muitos padres e com alguns seminaristas a percorrerem as suas ruas. Necessita de generosidade e coragem de muitos jovens”, alertou D. Jorge Ortiga, terminando: “Olhando para o Fradinho do Carmo, gostaria de bater à porta de muitos jovens para que viessem experimentar a alegria de seguir Jesus para prosseguir a sua missão. Precisamos de reagir a este mundo de egoísmo e superficialidade. (…) Houve um tempo em que o povo chamava a Frei João d’Ascensão «O Santinho do Povo». Passados 160 anos pode este ser o momento ideal para promover a devoção, recorrendo a ele solicitando graças, pedindo bênçãos e milagres. A Arquidiocese, juntamente com a Ordem dos Carmelitas Descalços, recuperará a causa da beatificação de modo a que na honra dos altares se torne referência de vida para todos.”

Fotografia: Catequese Paroquial de São Romão do Neiva