O Seminário Diocesano de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana – subsídios para a sua história – parte XLIII

O monumento Foi um ilustre «cabouqueiro-mor» da criação da Diocese de Viana do Castelo que afirmou, na passagem do quarto centenário da reabertura do Concílio de Trento (13 de Dezembro de 1545), ter sido o Seminário Conciliar de Braga, promovido por D. Frei Bartolomeu dos Mártires e inaugurado em 1572, a maior obra da arquidiocese […]

Notícias de Viana
14 Jan. 2022 6 mins
O Seminário Diocesano de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana – subsídios para a sua história – parte XLIII

O monumento

Foi um ilustre «cabouqueiro-mor» da criação da Diocese de Viana do Castelo que afirmou, na passagem do quarto centenário da reabertura do Concílio de Trento (13 de Dezembro de 1545), ter sido o Seminário Conciliar de Braga, promovido por D. Frei Bartolomeu dos Mártires e inaugurado em 1572, a maior obra da arquidiocese bracarense.

Então membro clandestino da «comissão de doutores» da «Colónia de Viana» e, ao mesmo tempo, professor e prefeito daquele seminário, o padre José Fernandes de Carvalho Arieiro (1911-2009), natural de São João Baptista de Nogueira, incluiu a afirmação – «o Arcebispo conseguira ver realizada a maior obra desta Arquidiocese» – num texto publicado no boletim arquidiocesano, em Dezembro de 1945, sob o título «D. Frei Bartolomeu dos Mártires e a fundação do Seminário Conciliar de Braga», passados dois anos de ter estado envolvido no envio à Nunciatura Apostólica de uma estridente petição em prol da criação da diocese vianense.

O «grande amor» que D. Frei Bartolomeu dos Mártires dedicou à «Princesa do Lima», a devoção ao «grande Prelado» – «de cuja beatificação se trata a sério», acreditava ele – e o «respeito» devido a quem o convidou a escrever foram os únicos «três motivos» que moveram o padre José Arieiro a lembrar «a acção daquele Arcebispo na fundação do Seminário de Braga». Basicamente, Bartolomeu dos Mártires e Viana do Castelo, a futura cidade episcopal, a diocese vindoura…

Depois de ter sido exonerado dos cargos de prefeito e bibliotecário do Seminário Conciliar, o mesmo redigiria, em 1964, a «Mensagem dos católicos do distrito de Viana do Castelo enviada a Sua Santidade Paulo VI pedindo a criação da diocese de Viana», composta e impressa, às suas expensas, na Tipografia «Primavera», do Porto, por intermédio de Maria Olímpia Pinto da Rocha (1910-2002), que também trabalhou na sua distribuição, tendo por isso sido interrogada até pela PIDE.

Nessa petição, o Convento de São Domingos, fundado por D. Frei Bartolomeu dos Mártires e onde viria a falecer mais tarde, foi apontado como um espaço que entretanto poderia «servir para seminário, enquanto não se construir o novo».

Ora, se a construção do Seminário Conciliar foi, no episcopado de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, precursor dos Seminários em Portugal, após o Concílio de Trento, a maior obra da Arquidiocese de Braga, logo o mais sublime monumento vivo erguido em sua homenagem, na Diocese de Viana do Castelo, só poderia ser o Seminário Diocesano, aquele que leva o seu nome, «desde cada alicerce» – conforme as palavras de D. Armindo no encerramento do quarto centenário do falecimento do referido antístite –, na cidade que guarda os seus restos mortais «tanto como a memória do santo».

Quis, no entanto, a Câmara Municipal de Viana do Castelo erguer na cidade, em 1989, um outro monumento ainda aquele principal estava apenas no papel e aos papéis andava, na expectativa de ver a luz verde da DGOT que abriria caminho para uma tão necessária comparticipação estatal.

O mais sublime monumento dedicado a D. Frei Bartolomeu dos Mártires seria inaugurado em 25 de Março de 1997, embora já tivesse alma a partir do último trimestre de 1995. O condigno, sob o patrocínio da autarquia vianense, só o seria em 2008, quase vinte anos depois de ter sido congeminado.

O condigno

Em 10 de Janeiro de 1989, a autarquia vianense aprovou a proposta do vereador Maurício Soares da Cunha e Sousa de se mandar erigir, em homenagem a D. Frei Bartolomeu dos Mártires, «um condigno monumento», que seria alegadamente a primeira de «uma série de realizações» de preito «a todas as figuras, da cultura em geral, que a este concelho pertence(ra)m, por origem ou adopção».

Pois, era intenção do referido vereador propor em breve à Câmara Municipal «a elaboração de um painel (em baixo relevo, onde as mais altas personalidades da vida cultural vianesa figurem», para que a todo o tempo os vianenses pudessem «prestar a homenagem e o reconhecimento a quantos de cujas vida e obra nos orgulhamos», «figuras de raro prestígio local e nacional que, a vários níveis, contribuiram para o enriquecimento e desenvolvimento desta terra e suas gentes».

Para Maurício de Sousa, poeta e inspector do Ensino Básico, que se perfilaria como cabeça de lista da CDU nas eleições autárquicas de 17 de Dezembro de 1989, o objectivo era «‘alevantar’ quem o tempo quer diminuir: a memória e a dignidade de ser vianês», uma vez que nem sempre «terá Viana sabido prestar a melhor atenção e o acentuado reconhecimento a essas figuras, sobretudo quando não se enquadra(va)m nos parâmetros ideológicos de certos mentores da opinião pública, investidos ou não em funções de poder».

Aliás, conforme referiu na proposta, «se nos dermos ao cuidado de proceder a uma análise retrospectiva (sempre útil), talvez cheguemos à triste conclusão de que Viana tem sido, para muitas dessas figuras, mais uma preconceituosa madrasta que extremosa mãe. Infelizmente, afirma-se pois frequentemente se tem visto esta cidade tributar honras e louvores a quem, nem por vida nem por obra, deles terá sido mais dignamente merecedor».

Porque era tempo de «se emendar a mão e o trigo separar das ervas», corringindo «os critérios», reconhecendo «os valores» e repondo «a verdade», «homenagear os vultos que, a vários níveis, enobrece(ra)m a terra e as gentes de Viana é obrigação de quantos desejam ver este concelho e esta cidade ainda mais enobrecidos e honrados». 

Politicamente correcta e provavelmente a mais consensual entre o povo vianense, a primeira escolha do vereador recaiu em D. Frei Bartolomeu dos Mártires, «uma das figuras de maior relevo e de prestígio para Viana», que, sendo natural de Lisboa, passou os últimos anos naquela cidade, onde foi sepultado, na igreja do Convento de São Domingos por si fundado enquanto arcebispo bracarense, «homem de bem» que muito «fez em defesa dos pobres e abandonados».

(continua na próxima edição)

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