Sensação de insegurança aumenta, mas “criminalidade não aumentou”

Na semana passada, um texto tornando público uma perseguição a duas jovens, tornou-se viral. Poucos dias depois, viralizou, também, o relato de um cenário idêntico nas imediações da Praia Norte.

Em geral, são relatos vivos, extremamente pormenorizados, colocando um grande foco nos detalhes dos perpetradores, normalmente identificados com características físicas associadas à população imigrante, gerando uma ligação imediata entre os dois polos.Mas, o que dizem os indicadores? Viana é, ou não, uma cidade mais insegura? Existe alguma relação com os fenómenos da imigração mais recente?

Na rua, as opiniões dividem-se, mas existe uma tendência generalizada para acreditar que “a cidade não é aquilo que era antes”. Ouvido pelo Notícias de Viana, uma testemunha chega mesmo a reconhecer que acaba por ter “pensamentos que considera xenófobos perante as publicações, e que, mesmo não tendo certeza acerca do que aconteceu, sente que a cidade está mais insegura”.

Outro testemunho recolhido confirma o anterior, dizendo que “tem medo do futuro”. “Neste momento, há aí muita gente. É um bocado demais. Nós não estávamos habituados a isso. Muitos estão sem condições, e isso traz problemas, porque se na sua casa não há que comer, o que é que você vai fazer?”, comenta.

Só uma das pessoas ouvidas é que foi perentória a discordar de um aumento da insegurança, atestando que “a origem não influencia a criminalidade”.

Questionada pelo Notícias de Viana, a PSP de Viana do Castelo confirmou que recebeu o “reporte de uma situação referente a uma ‘hipotética’ perseguição a duas jovens, tendo sido enviado o Auto de Denúncia ao Ministério Público, para início da ação penal”, garantido, ainda, que “a análise de toda a informação disponível permitiu já direcionar a atenção policial para este tipo de eventos e suspeitos conhecidos”.

Quanto aos níveis de criminalidade, a resposta é perentória: “A criminalidade em Viana do Castelo não aumentou, não sendo de excluir alguma mudança no tipo de incivilidades que não configuram crime, mas que poderão transmitir algum sentimento subjetivo de insegurança”.

Em relação a uma das denúncias em específico, a PSP afirmou que “caso tivesse sido feito o contacto com a PSP, de imediato e numa fase anterior à formalização da denúncia, poderiam ter sido desenvolvidas diligências tendentes à identificação imediata dos suspeitos e conhecidas as suas motivações”.

Consultando os dados divulgados pelo Sistema de Segurança Interna e pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, a sensação inicial é de que a posição da PSP tem pouco fundamento factual, mas analisando mais a fundo os indicadores, não é possível uma leitura tão linear. É verdade que a criminalidade geral e violenta aumenta desde 2020, assim como os números da imigração, mas, não só os valores da criminalidade estão longe de máximos como os registados em 2013, com 8.554 ocorrências contra as 7.065 de 2022, como as percentagens de crescimento desta variável não encontram uma proporcionalidade direta na variação da imigração. De facto, se de 2018 a 2021 a taxa de criminalidade desceu em todos os anos exceto no último – -6,2%, -0,6%, -12,0% e 6,0% respetivamente – a taxa de imigração aumentou em todos eles – 17,3%, 22,6%, 22,3% e 17,8%, respetivamente – coincidindo, inclusive, uma descida acentuada da criminalidade no ano no qual a tendência de aumento da população imigrante em Viana do Castelo voltou a superar os 20%, o que permite afirmar, com elevado grau de certeza, que não há qualquer fundo de verdade para afirmar ou sugerir que a criminalidade em Viana do Castelo seja cometida por imigrantes ou minorias étnicas, ou se situe em números históricos.