Saudade e Comunhão

Está a terminar o mês de novembro que é, entre nós, um tempo de saudade benéfica. Temos sentimentos. Neste mês, voltamo-nos particularmente para todos os que, vivendo antes de nós, nos deixaram um mundo onde podemos viver, e fizeram de nós o que puderam. A nossa atitude é, hoje, de saudade, de recordação e de agradecimento.

Notícias de Viana
24 Nov. 2023 3 mins
Saudade e Comunhão

Desde tempos imemoriais, os povos lembraram os seus antepassados, o que no início do cristianismo fora recordado em atenção ao acontecimento salvador de Cristo, a Sua morte e a Sua ressurreição. Muitos dos povos executam gestos e símbolos que representam crenças diversas, manifestando que os vivos continuam em união com os mortos. Os cristãos lembram que Jesus deu a vida por todos e que os mortos esperam que a vida em plenitude lhes seja doada. Com esta finalidade, os vivos rezam pelos mortos: assim os recordam e assim continuam a ter uma relação pós-morte com eles. Na esperança da ressurreição, acalentam saudade e esperam, rezando no presente em relação ao futuro.

Foi a partir do século IV, iniciado por Santo Odilão (994-1049), abade de Cluny em França, que começou a comemorar-se Todos os Fiéis Defuntos a 2 de novembro. Foi a partir de 998 que esta celebração se foi estendendo a toda a Igreja. 

Esta comemoração entre nós continua bem viva, sendo que tem ritos muito variados nas diferentes comunidades, desde a celebração da Eucaristia, a celebrações da Palavra no cemitério, a confissões individuais em celebrações comunitárias, a alocuções emotivas de memória, a orações individuais ao pé das sepulturas, a gestos inusitados de emigrantes de regresso à sua terra natal. Celebrações, gestos e palavras que confirmam a saudade, que fazem chorar, que revelam amor e agradecimento.

As celebrações eucarísticas deste mês comportam muitas intenções, confirmando esta tradição presente de memória, de saudosa presença, de comunhão retemperante, de alívio agradecido. Nos mais diversos locais, eram bem visíveis as celebrações na véspera do dia 2, já que este era um dia de trabalho. No fim do dia de Todos-os-Santos, aglomeravam-se muitos nesta saudosa recordação que dava ânimo, unindo as três Igrejas: a Triunfante, a Purgante e a Peregrinante. 

Rezar é acalentar esperança e dar alma a uma relação forte entretida na vida: as lágrimas são um retempero para o presente, acudindo individualmente a cada personalidade, concedendo paz e arejando o interior.

A vida tem futuro, a comunidade tem futuro, o que o luto lubrifica, emprestando ordem e despertando sentimentos de comunhão. Falar com os presentes nas celebrações de finados faz reter apaziguamentos que se buscam e que a comunidade, sem objetivos previamente fixados, facilita, mesmo no anonimato. Esta é portadora de um além de si, que, na simplicidade, partilha e favorece.

Para os cristãos, está em jogo aquela força que acontece sempre que se reúnem em nome de Cristo, sentindo a presença do Espírito, que embebe a Igreja: vai-se construindo sempre que muitos se encontram louvando e cantando ao Senhor do céu e da terra. A comunhão expecta-se como plenária.

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