Rui Teixeira: “Há sempre aspetos a melhorar”

O país regressa às urnas a 10 de março, e os dois maiores partidos surgem taco a taco nas várias sondagens. No entanto, o Chega afirmou, durante a Convenção em Viana do Castelo, que poderá “haver surpresas”: ser Governo, tornar-se a segunda força política e crescer percentualmente em todo o país.

Micaela Barbosa
26 Jan. 2024 6 mins
Rui Teixeira: “Há sempre aspetos a melhorar”

O PS mantém a liderança e, logo após, surge o PSD. De acordo com um artigo publicado na Visão no início do mês de janeiro, o PSD caiu percentualmente, mas, “apesar disto, a direita toda junta ainda vale mais do que a esquerda, mas a diferença está dentro da margem de erro. A CDU continua muito para baixo nas intenções de voto; no entanto, o PAN pode ser suficiente para contribuir para uma nova versão da ‘geringonça’ que permita à esquerda governar”.

O Notícias de Viana quis perceber que leitura faz o autarca Rui Teixeira, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira, do momento político atual. “É a democracia a funcionar”, afirmou, admitindo que a continuidade à realidade governativa seria “a mais indicada” porque havia uma “maioria absoluta” e o país estava “estabilizado”.

Sem querer atribuir culpas ao que aconteceu e sem grandes comentários, o autarca entende que António Costa tomou a decisão com “consciência” e “convicção”. “O PS governou bem Portugal?”, questionámos. “Sim”, respondeu, confidenciando que, “cada vez mais, é difícil de governar, sobretudo devido à cultura política”. “As redes sociais permitem que se confunda democracia com o que se quer dizer”, atirou, recordando o ditado que diz que “a minha liberdade termina quando começa a liberdade do outro”. “Dizem-se tantos disparates, o que dificulta a própria vivência política para quem está a governar”, considerou, reconhecendo a dificuldade local e, “mais ainda”, nacional e internacional.

Rui Teixeira admite que o concelho de Vila Nova de Cerveira evoluiu nos mandatos do PS, com o aumento do salário mínimo nacional, das pensões, e a valorização das carreiras. “Muito foi feito na captação de investimento em várias áreas. Tivemos o primeiro superavit orçamental (ocorre quando a receita é maior do que a despesa). Reduziu e investiu na dívida, que é um acontecimento raro”, exemplificou, fazendo um balanço “positivo” da governação nacional. No entanto, reconhece que “há sempre aspetos a melhorar”, e aponta como negativo a gestão do Serviço Nacional de Saúde (SNS). “Não tem tido os melhores resultados, embora isso se tenha devido, do meu ponto de vista, não à governação socialista dos últimos quatro anos, mas ao Governo da ‘geringonça’, que não foi o melhor para o SNS”, referiu.

Pela sua experiência, enquanto representante dos dez municípios no Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM), frisa que “algumas das medidas aplicadas pelo Governo da ‘geringonça’ prejudicaram o SNS e, em particular, as instituições”. “É uma visão radical para o SNS, nomeadamente, naquela que é a sua resposta a toda a atividade na área da saúde, quer do atendimento, das consultas, das cirurgias, das parcerias público-privadas ou da gestão hospitalar. São políticas diferentes, de partidos diferentes e, por isso, teve de se suportar, para que houvesse um equilíbrio governativo”, disse.

No caso “particular” da ULSAM, Rui Teixeira fala da importância de um debate “interno” sobre a função da saúde, como atuar e que recursos são necessários para dar resposta às necessidades. “Tendo em conta a população que temos, quantos médicos e enfermeiros temos que ter e quais as atividades que temos de fazer” exemplificou, defendendo uma organização da instituição. “A saúde é um negócio curioso… Quanto mais portas houver, mais clientes vai ter. É um fenómeno estranho. Se abrirmos portas, vamos ter mais clientes e precisamos de mais profissionais e, provavelmente, temos mais. Se cada médico de família tem definido ter entre 1.500 e 1.700 utentes e, se, de facto, existem médicos suficientes para a realidade do nosso distrito, porque são precisos mais médicos?”, questionou, reconhecendo que a saúde é um tema “complexo”. “O principal é apostar nos cuidados primários. Primeiro, começar pela prevenção e promoção da saúde, organizando os cuidados de saúde primários. Ou seja: tudo o que é a atuação na saúde da comunidade e, só depois, passar para a área hospitalar, reestruturando-a para que o sistema se torne eficiente e permita que, por exemplo, os utentes dos lares que, apesar de terem ‘supostamente’ um médico de família, na realidade, não têm porque os médicos não se deslocam ao lar, mas continuam nas suas listas, não tenham problemas que obriguem a ir para o hospital e ficarem internados. Isto acontece porque não têm o acompanhamento devido na área da saúde. Consequentemente, acabam por ser um peso e um gasto no próprio SNS”, apontou, frisando que os programas de prevenção e promoção de saúde nestes utentes mais idosos “vai melhorar o serviço hospitalar”.

Apoiante “convicto” de Pedro Nuno Santos, o autarca acredita nas suas capacidades de “governação”, “liderança” e “execução” para “transformar” e “reformar” o que for necessário, embora ainda seja com uma visão de esquerda. “Estou convicto, até porque ele está a envolver várias personalidades/técnicos para elaborar o programa eleitoral daquilo que vai ser a sua governação, que irá melhorar várias componentes”, afirmou, sublinhando “o cuidado maior” com o cidadão e trabalhador. “Tem uma visão de esquerda, mas não descuidando o seu conhecimento da economia, desde o seu crescimento e a necessidade de apoiar as empresas”, especificou, salientando “as provas dadas” enquanto parte do Governo: assuntos parlamentares, linha ferroviária e TAP. “Acredito que o seu objetivo é ter um país equilibrado. É difícil. Também não sei como irá fazer isso, mas é importante esse equilíbrio para sermos um país sustentável, apoiando jovens, trabalhadores, empresários e pensionistas”, acrescentou, considerando que, se o Governo virasse à direita, seria “uma mudança radical em tudo o que está em transformação” e seria “voltar à estaca zero”. “Se mantivermos um Governo de esquerda, como é o caso de Pedro Nuno Santos, vamos trabalhar em aspetos a melhorar. Há continuidade, com um cunho e perspetiva diferentes”, salientou.

Para as eleições do dia 10 de março, quer Pedro Nuno Santos como Primeiro-ministro, e acredita que o PS não voltará a cair numa ‘geringonça’. “O ideal seria uma maioria absoluta, mas, não a tendo, será necessário um acordo em algumas medidas, na Assembleia da República, com outros partidos. Poderá acontecer à direita ou à esquerda, dependendo até da matéria em causa”, referiu.

Rui Teixeira espera, ainda, que o próximo Primeiro-ministro apoie a estratégia do Município, acreditando que Vila Nova de Cerveira “tem mais a ganhar com um Governo PS do que com um Governo que não seja PS”.

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