Tem mais de 100 ovelhas, mas é na Sagrada Família que está o propósito da construção do Presépio, que é a maior atração da época natalícia na Paróquia de Perre, no Arciprestado de Viana do Castelo.
Filipe Barros é, “há quase 40 anos”, o autor da confeção do Presépio. “Quando comecei, era um miúdo. Ajudava o sacristão e comecei a ganhar gosto”, contou, explicando que o Presépio começou a ser feito na igreja. No entanto, à medida que ia crescendo, mudou-se para um espaço debaixo do salão, mais tarde para uma garagem e, em 2005, para uma divisão do Museu Paroquial. “As pessoas gostavam muito de ver o Presépio na igreja, à exceção das senhoras da limpeza”, confidenciou entre risos, frisando que a passagem do Presépio para o Museu Paroquial ajudou-o “imenso” porque tem mais tempo para o confecionar.
Em outubro, o sacristão já começa a preparar o Presépio. Vai ao monte buscar musgo, constrói casas e bonecos que ilustram as tradições e os costumes da freguesia de Perre. “Começo a imaginar o que se vai fazer de novo, porque todos os anos tento acrescentar alguma coisa”, explicou, adiantando que a novidade deste ano foi a colocação de uma casa/quinta e a cidade de Belém, que estavam arrumadas “há muitos anos por falta de espaço”. “A quinta e o lagar com todos aqueles pormenores, é tudo novo”, exemplificou. Todos os pormenores são confecionados e pensados por Filipe que, com 56 anos e sem estudos, tem “muita paciência e gosto” para os trabalhos manuais. “Trabalhei na agricultura e na carpintaria”, recordou, salientando que tem um gosto especial pela madeira. “Gosto muito de trabalhar a madeira.
Todos os bonecos, que representam algumas das profissões de Perre, são feitos em madeira”, desvendou, especificando que, um dos “homens” da apanha da azeitona deu “muito trabalho”. “Aquele homem ali, em cima da escada, é teimoso. Deu-me uma trabalheira para o segurar”, contou entre risos.
Entre o carpinteiro, o lenhador, o ferreiro, a padeira, a espadeladeira do linho, os agricultores e as vendedoras de doces, estão as tradicionais figuras do Presépio, que são conservadas dos anos anteriores. No meio, há ainda uma fonte de água. “É uma bomba. Não há segredo nenhum. Já era um grande desejo meu recriar uma fonte”, disse, desvendando que, para o ano, quer recriar o sapateiro e, quem sabe, transportar a gruta, onde se encontra a Sagrada Família, para outro lugar do Presépio. “A gruta é uma imaginação minha, mas recria todas as grutas que existem na Cidade Santa”, afirmou. O Presépio abriu ao público no dia 25 de dezembro e pôde ser visitado aos Domingos, até ao dia do Batismo do Senhor. “As pessoas ficam admiradas porque não tenho muitos estudos, mas gostam. Aliás, até dão sugestões. O lenhador tem uma caneca e um copo de vinho em cima da mesa porque me disseram que ele estava com sede depois de tanto trabalhar”, contou, entre risos, afirmando: “Esta é uma obra que nunca vai estar pronta. Quando disser isso, estou doente ou no final da minha caminhada.”
Filipe assegurou que os Párocos sempre se mostram recetivos à construção do Presépio. “Nota-se que o Pe. Nuno gostou de ver o Presépio, e o Pe. Alberto nem se fala. Ele fazia sempre questão que fosse feito na igreja”, frisou, revelando que o seu desejo é envolver “rapazes mais novos” na confeção do Presépio.
O Museu Paroquial acolhe ainda, durante o ano, exposições temporárias e, atualmente, contém uma exposição de presépios feita pelos alunos da escola da freguesia. As salas ilustram as aulas do antigamente, uma barbearia e a arte sacra.
Num outro espaço há uma casa com uma cozinha, um quarto e uma sala de costuras com todos os pormenores históricos.
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