Portugal não está preparado para a JMJ!

Sou natural de Viana do Castelo, trabalho atualmente em Lisboa, e digo que Portugal não está pronto! Desculpemme a sinceridade, mas é o que eu acho. «Esperávamos, desejávamos, conseguimos. Vitória!» foram as palavras do Presidente Marcelo aquando do anúncio. Será mesmo assim? A única coisa que vejo por Lisboa são uns painéis (meia dúzia, se tanto!) espalhados pela cidade com a contagem decrescente dos dias até à Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e, claro, as obras (atrasadas) no Parque Tejo. Em 2019, quando foi anunciado que Portugal receberia em 2022 (agora, 2023) a JMJ, havia mais “publicidade” do que hoje. Faltam 6 meses! Para além das infraestruturas que não estão prontas, Portugal não está pronto. Máquinas e homens trabalham de sol-a-sol, alguns em condições que nem sequer imaginamos. A JMJ é uma festa! É um dos maiores eventos mundiais e isso, quer se queira quer não, tem um custo que se tenta ao máximo que traga proveitos, ou seja, é um investimento!

Notícias de Viana
3 Fev. 2023 5 mins
Portugal não está preparado para a JMJ!

De facto, há «números que magoam», disse D. Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023. A semana passada, falava-se em 80 milhões de euros; agora já se ouve 160. E aqueles milhões que vão surgir pelo caminho? E aqueles que nunca ninguém saberá? No entanto, comparando com outros eventos (alguns de índole mundial) organizados por Portugal, estes números são “trocos”. A Câmara Municipal de Lisboa (CML), no anterior (des)governo, pouco ou nada fez, apenas referia a importância da JMJ para Lisboa. Quando acontece a inesperada mudança de cadeiras na presidência da capital, muita coisa estava por decidir e fazer. Até foi criado um pelouro na Câmara apenas dedicado à JMJ! Definiu-se que a CML investiria, no máximo, 35 milhões de euros. Numa conta rápida: 35 milhões a dividir por 1,5 milhões de participantes (diretos), são cerca de 23 euros por cada jovem que visita Lisboa. Será difícil haver retorno deste valor? Diria que não…

Polémicas atrás de polémicas. Já se sabe: é Portugal! Mas tudo tem explicação… se não tem, arranja-se. Eu arranjei estas:

O local escolhido é estratégico. Reaproveitar um sítio “de ninguém” que, até agora, era um aterro onde os lixos da Expo’98 foram depositados. Ficará, certamente, impecável após as obras (espera-se!). O contra é que as habitações ali perto serão sobrevalorizadas e um T1 passará rapidamente de 150 mil euros para uns 400 mil! À vontadinha…

As empresas envolvidas são sempre as mesmas que “andam na berlinda” e enchem os rodapés dos telejornais. Empresas que ganham concursos “chorudos” de milhões e os chamados “ajustes diretos” que é algo deste tipo: “Ó fulano, queres construir aqui um palco megalómano? Mas tem de ser rápido porque não temos muito tempo!”. A “sorte” é que o evento foi adiado um ano…

Quartos a alugar, imagino o que será! Um balúrdio e com as condições mínimas (ou nem isso!). Uma “tuguice” apenas para ganhar o dinheiro do estrangeiro. 168 mil camas, é o número que o Turismo de Portugal avança que existe em Lisboa. 10% do possível número de peregrinos! Escolas e pavilhões serão soluções. Tendas, é uma possibilidade (pelo menos, perguntavam na inscrição se “não me importava”). Uma notícia dos últimos dias referia que um alojamento local pedia quase 6 mil euros pelas 7 noites da JMJ! (Lembram-se dos 23 euros de que falei atrás?).

Os transportes… uuuiiii, nem consigo imaginar! O caos citadino já é o que é. Deixo só esta nota de quem conhece o metropolitano, autocarros e comboios em Lisboa: há alturas do dia em que as pessoas são literalmente empurradas para dentro do transporte, porque a porta não fecha! Uber, trotinetes e bicicletas não são solução, porque não chegarão, claramente, e são caríssimas! Andar a pé será a solução… um conselho: tragam boas sapatilhas, porque a calçada portuguesa é muito bonita mas é uma autêntica pista de gelo, já para não falar que vão fazer quilómetros e quilómetros na cidade das sete colinas.

As refeições serão à base de fast-food ou umas sandes feitas no Pingo-Doce, porque comer em Lisboa é… é… como hei de dizer… caro! Esqueçam a diária a 5 euros! Isso nem para o prato dá…

Desmotivado? NÃO! Quero apenas trazer a realidade (pelo menos, a que eu vejo) para a discussão. No entanto, há uma coisa que me surpreende e, desta vez, pela positiva.

Nas múltiplas festas que os católicos celebram, muitas vezes damos mais importância aos preparativos físicos/ materiais do que aos intelectuais/espirituais. Saímos há pouco de uma dessas celebrações: o Natal. Quantos de nós não prepararam uma grande mesa cheia de sobremesas e iguarias deliciosas? E quantos de nós rezámos e/ou cantámos a «Noite Feliz»? Pasmem-se, que na JMJ está a acontecer exatamente o contrário! A Cruz Peregrina e o Ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani “andam de mão em mão” com a verdadeira missão de evangelizar e chamar os jovens para a reunião mundial presidida pelo Papa. Mas as infraestruturas (o “físico” de que falava atrás) ainda não está pronto! Curioso…

Espero, obviamente, que tudo corra pelo melhor, mas ainda acho que a JMJ, ou será adiada, ou então muitas alterações serão feitas até à data, incluindo os sítios do encontro que ainda me cheira que passará por terras espanholas… Portugal pode não estar pronto, mas preparemo-nos interiormente com foco e fé! Àqueles que dizem que Jesus nunca permitiria algo assim, lamento dizer, mas foi também a opinião pública que O crucificou. Passados dois mil anos, continuamos a cometer o mesmo erro.  

Este meu artigo não é uma crítica! É apenas a minha opinião até porque a Jornada é para acontecer, caia ou não um santo do altar!

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