Pe. Paulo Correia: “Vivermos e contemplarmos a Paixão de Cristo é procurarmos crescer na capacidade de amar como Jesus.”

Paulo Jorge Martins Correia tem 50 anos e é padre passionista há 24. É natural da freguesia de Junqueira, do concelho de Vale de Cambra (Aveiro), e foi descobrindo a sua vocação no Seminário Passionista de Santa Maria da Feira, onde entrou aos 12 anos. Os anos foram passando e apercebeu-se que queria ser religioso e missionário passionista. Está há 30 anos na Congregação da Paixão de Jesus Cristo e hoje é o Superior Regional.

Micaela Barbosa
11 Mar. 2021 7 mins
Pe. Paulo Correia: “Vivermos e contemplarmos a Paixão de Cristo é procurarmos crescer na capacidade de amar como Jesus.”

Em conversa com o Notícias de Viana, o Pe. Paulo Correia admitiu que, “para além da ação de Deus”, o que o “atraiu” foi a comunidade religiosa, “o viver em comum e o ter como uma família”, abrindo-lhe horizontes vocacionais. “A vida na Congregação já me permitiu viver, estudar e trabalhar em diversas comunidades em Portugal, Espanha e Itália. Além disso, também me ajudou a compreender que a Congregação, com outros passionistas, continua a sua missão em mais de 60 países, animada pela vontade de dar a conhecer o amor Maior de Deus, expresso na Paixão de Jesus”, apontou, admitindo que não consegue identificar um momento marcante enquanto padre passionista. “Talvez sejam vários e dizem respeito a situações em que o desempenho do ministério sacerdotal possa ter ajudado alguém a sair de uma situação difícil”, disse, acrescentando: “Também considero importantes os primeiros anos de formador dos jovens passionistas, quer pelo que pude contribuir para consolidar a vocação, quer pela aprendizagem que me proporcionaram.”

Este ano, a Congregação da Paixão de Jesus Cristo celebra 300 anos da sua fundação e, por isso, dá a conhecer a sua missão e de que forma é que chega à Diocese de Viana do Castelo.

São Paulo da Cruz é fundador da Congregação da Paixão de Jesus Cristo. Quem é esta figura e qual a missão que legou aos Passionistas?

S. Paulo da Cruz é um homem italiano do século XVIII que sentiu profundamente dentro de si o amor de Deus que o “abrasava” e o chamava para congregar outros irmãos para meditarem e depois anunciarem a Paixão de Cristo. Ele acreditava que assim podia renovar a Igreja e contribuir para transformar também o mundo. Foi discernindo a sua vocação, e com ajuda do seu Bispo e de diretores espirituais, foi dando passos para realizar este projeto divino. Olhando Cristo Crucificado, levou uma vida de despojamento, de modo a sentir-se “crucificado com Cristo”, como diz o Apóstolo S. Paulo.

Durante a sua vida dedicou-se à pregação, à direção espiritual e à edificação da Congregação, com a construção dos primeiros conventos.

A sua ideia e projeto atraíram muitas vocações e, por isso, a Congregação desenvolveu-se rapidamente em Itália.

Como é que a Congregação chega à Diocese de Viana do Castelo, em particular, à Paróquia de S. Pedro de Barroselas?

A chegada dos Passionistas a Barroselas tem a ver com a vontade de se estabelecerem definitivamente em Portugal. Tendo chegado a Braga a 7 de outubro de 1931, depressa procuraram um lugar para se estabelecerem e construírem um convento de raiz. As normas da Congregação requeriam que houvesse algum distanciamento das povoações. Assim, ao procurarem uma propriedade na região, descobriram em Barroselas a quinta do Pe. Luís Faria que se adequava às pretensões. Aí chegados em 1933, começaram a edificação do Convento. Com a ajuda efetiva e o bom acolhimento da população local e do vale do Neiva, tiveram razões mais do que suficientes para ali passarem a viver e a missionar.

Quantos padres existem na comunidade? Há, hoje em dia, jovens a querer integrar a Congregação? Quais as principais razões que os conduzem a esta vocação? Qual é o núcleo da proposta para a vida consagrada?

Neste momento, a Comunidade Passionista compõe-se de 8 religiosos (7 padres e 1 irmão) e ainda de um jovem a realizar o postulantado (ano anterior ao Noviciado). Em geral, não há muitos jovens a bater às portas das Congregações. Contudo, aqueles que o fazem, pelo que me é dado ver, a motivação principal é sentirem-se atraídos por Cristo, é quererem fazer parte da Sua vida e missão, é colaborar para transformar o mundo. Por isso, penso que Cristo continua a chamar. Talvez as dificuldades para os jovens responderem tenha a ver com os que já cá estamos há mais tempo, que não apresentamos bem a mensagem de Jesus.

A vida consagrada procura seguir Jesus, na Sua forma de vida concreta, isto é, com a vivência dos conselhos evangélicos, transformando-os de conselhos em votos: pobreza, castidade e obediência. Também é aspeto essencial à vida comunitária procurar viver como Jesus com a comunidade dos Apóstolos.

Qual o papel da Congregação da Paixão de Jesus Cristo nas comunidades de Barroselas e Carvoeiro, e na Diocese de Viana?

O papel da Comunidade Passionista, para além da Eucaristia e das confissões na nossa igreja, na Paróquia local, é de colaboração ministerial. Também, de tempos a tempos, tem promovido missões populares renovadas. Além disso, apoia o Grupo de S. Paulo, grupo laical com várias expressões culturais e artísticas, promovendo a representação da Paixão de Cristo, de várias formas.

A ação da Comunidade estende-se a toda a região, principalmente através da pregação e da colaboração nas celebrações da Eucaristia e da confissão. Ainda há dois anos promovemos uma missão em três Paróquias de Paredes de Coura, em 2016, em cinco Paróquias de Vila Verde e, em 2014, na própria Paróquia de Barroselas.

Este ano, a Congregação da Paixão de Jesus Cristo está a celebrar os 300 anos da sua fundação com o lema “Renovar a nossa missão: gratidão, profecia e esperança”. De que forma está a comunidade, em Barroselas, e a Congregação, no seu todo, a viver a efeméride?

É verdade, celebramos os 300 anos da fundação da Congregação. A nível da Congregação, foi-nos concedido um ano de Jubileu, como acontece com os anos Santos. Temos um Ícone a passar por todas as Comunidades Passionistas do mundo. Já passou cá em Barroselas em dezembro passado. Além disso, temos temas de reflexão para estudar, ligados ao carisma passionista e à forma como devemos fazê-lo presente hoje. Daí que o “renovar a nossa missão” seja o desafio mais importante. O anúncio que fazemos deve seguir, por exemplo, as linhas propostas na Evangelii Gaudium. Uma Comunidade Passionista, uma Congregação em saída, que anuncia, forma e revitaliza, com alegria, a Igreja e o mundo.

Os Passionistas estão intimamente ligados ao mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Qual a forma mais responsável de o vivermos e contemplarmos no dia-a-dia?

A Paixão de Cristo revela até onde vai o amor de Jesus, filho de Deus, pelo bem do ser humano. É um amor que não se detém, nem mesmo diante da ameaça da morte, e que também ama profundamente, entregando e doando totalmente a Sua vida. Assim, viver e contemplar a Paixão de Cristo é procurar crescer na capacidade de amar como Jesus, aprender a compaixão que nos leve a “calçar os sapatos do outro”, principalmente dos mais frágeis e oprimidos, chegando à própria Criação, casa comum, seriamente ameaçada.

Frequentemente olhamos e lemos a Paixão numa linha ou demasiado pietista ou de um modo demasiado sofredor. Como podemos pressentir beleza e amor no meio daquele caos? 

É precisamente procurando descobrir e fixar a nossa atenção no motivo, no que leva Jesus a fazer o que fez, isto é o AMOR. É um amor que não é leve, “ligth”, mas assume todas as consequências de ser fiel à verdade, a Deus Pai e ao amor pelo bem do ser humano. Esse amor levou Jesus a sofrer horrivelmente e injustamente, e esse sofrimento que vemos no Crucificado deve ser como que um espelho, para vermos o que pode fazer a nossa maldade e para aprendermos como a resposta de Deus, em Jesus, é amar até ao fim. “Amor tão grande, profundo e sublime!”.

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