PADRE LEMOS

Ainda não digeri a notícia que recebi no dia 6 de manhãzinha. A notícia travou-me os sentidos e iniciei uma reflexão que agora partilho com os estimados leitores do NV.

Notícias de Viana
14 Out. 2021 3 mins
PADRE LEMOS

De facto, nas carteiras do Seminário fomos colegas, desde 1965, e mais tarde, em 1972-78, condiscípulos em Teologia, uma estafeta que durou uns treze anos. Por motivos de pouca idade, o Pe. Lemos fora ordenado sacerdote um ano mais tarde do que eu, em 1979. Depois, estagiámos ambos em Darque, Arciprestado de Viana do Castelo, ajudando o Pároco e o então Pe. Pedreira, que dirigia a informação de uma nova Diocese – Informação Pastoral – ainda aprendiz das estruturas iniciais. Com os nossos curtos conhecimentos da Diocese nova à qual pertencíamos, íamos escrevendo o que nos era pedido e auxiliávamos os primeiros esboços de uma imprensa diocesana que dava conta do que se ia fazendo neste rincão do território nacional, o Alto Minho.

Depois de ordenado sacerdote, o Pe. Manuel Lemos foi meu companheiro na nossa primeira aventura pelas Paróquias da Diocese, residindo com o Sr. Pe. João Batista Gomes na residência paroquial de Arcos de Valdevez. O Pe. Lemos foi então Pároco de Extremo e de Padroso, nos limites do concelho dos Arcos. Foi uma experiência singular, também pela dureza do ministério, dada a orografia e tendo em conta os nossos primeiros passos como Párocos. Ainda bem que vivíamos juntos, o que se prestava a muita partilha, a um cafezinho tomado em comum e aos avanços de algumas iniciativas pastorais, então pouco notórias. Partilhávamos a Palavra com o Povo de Deus, simples e conscientes obreiros nas mãos de quem nos enviava.

O Pe. Manuel de Oliveira Lemos (09. 12. 1954 – 06. 10. 2021) era simples e sempre bem-disposto, amiudamente com uma anedota na ponta da língua. Sabia colocar as pessoas na risota, era extremamente dado ao bom humor. Era difícil estar com ele sem soltar uma gargalhada repentinamente. A vida deu voltas e o Pe. Lemos foi nomeado a paroquiar Ruivães, Agualonga e Cunha, no Arciprestado de Paredes de Coura. Foi aí, ao mesmo tempo, professor de Educação Moral e Religiosa, levando muita boa disposição aos alunos inscritos: isto granjeou-lhe muitos amigos e admiradores; quem não aprecia uma boa tirada cheia de humor? E contada com mestria?

Foram passando muitos anos. Encontrávamo-nos na formação do Clero e o Pe. Lemos mantinha a frescura do seu humor culto. Lembro a última vez que com ele estive pessoalmente: falou comigo como nos primeiros tempos, embora tivessem passado mais de 25 anos. Era o seu estilo. Sempre elegante e bom para os que conhecia e recheando as conversas com pitadas de bom humor. Manteve-se como sempre foi, cortês, delicado, nobre, bem-disposto, cultivado, fiel e contagiante. A alegria surgia-lhe da alma carregada do humor de Deus.

Por meados de julho informou-me do seu calvário, estando convicto do período difícil que viria a ser o seu. Passou ainda por tentativas de terapia que não se revelavam frutíferas, mas o Pe. Lemos enfrentava com seriedade, sem dar moléstias a ninguém e escolhendo mesmo não sobrecarregar as pessoas amigas com o seu sofrimento pessoal. Sabia sofrer no silêncio a que estaria votado. A sua cruz última fora muito dolorosa, mas vivida com serenidade, pois acreditava que Deus é mais forte do que os nossos sofrimentos e que o que passava não era nada em relação ao que Jesus sofrera por ele. 

Obrigado Pe. Lemos. Ajuda-me a ter sempre este mesmo Norte. Obrigado pela tua fé que dá frutos em muitos. Repousa em paz.

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