O Seminário Diocesano de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana – subsídios para a sua história – parte XXXVIII

O programa base

Com base nas indicações apresentadas pelos representantes da Diocese de Viana do Castelo, o projectista selecto produziu prontamente um programa que serviria de base ao desenvolvimento das fases ulteriores do projecto.

Ao arquitecto Alfredo Moreira da Silva foram previamente dadas informações relativas ao ritmo de vida próprio de um seminário, bem como apontadas algumas condicionantes a ter em devida conta no desenvolvimento do programa.

Concretamente, não só «poupar o máximo de terreno para que fique algum disponível para recreio», como também ter «atenção ao uso do vidro a baixa altura», pois, habitualmente, «os rapazes chutam a bola sem olhar aos vidros!».

Além disso, sugeriu-se «o recurso a poucos ângulos para prevenir infiltrações», tendo em consideração que a cidade de Viana do Castelo era «muito pluviosa» e que os «ventos dominantes» sopravam «do quadrante Oeste (Sul e Noroeste)».

Para uma noção mais completa da distribuição dos diferentes espaços e da comunicação entre eles, o conhecimento do ritmo de vida dos seminaristas ajudou seguramente o projectista a delinear, sob o ponto de vista técnico, a melhor solução arquitectónica.

A experiência de vida em seminário tanto em Monção como em Darque facilitava a indicação de um programa que viesse a reger o compasso diário dos seminaristas a quem se destinava o novo Seminário Diocesano.

Regra geral, após a hora de levantar, feita a higiene pessoal e arranjada a cama (vinte minutos aproximadamente), os seminaristas tomavam a direcção da capela. Daí seguiam para o refeitório para tomar o pequeno almoço (cerca de quinze minutos) e, depois, necessitavam de «passar pela sala de estudo/quartos para pegar em artigos escolares». Até às treze horas decorria a «normalidade académica», com «aulas fora do Seminário» como «hipótese provável». 

Após o almoço, havia um intervalo de recreio antes das aulas da tarde. Durante o intervalo do almoço não seria «absolutamente necessária a passagem pelas salas de estudo, mas pode ser conveniente». Entre a merenda e o jantar no refeitório, o tempo seria repartido entre o estudo e a ida à capela, intercalado por intervalos. Depois do jantar, o intervalo era seguido por um período de estudo até serem horas de voltar à capela e, de seguida, mergulhar no «silêncio» da noite.

Consequência de uma série de condicionantes, o arquitecto e a sua equipa técnica desenvolveram «o organograma em torno de um claustro central, na intenção de virar o Seminário para dentro, defendendo-o das agressões a que a sua localização o sujeita, nomeadamente o conjunto de prédios altos de uma urbanização a norte e a via de grande velocidade de saída de Viana a poente».

O programa base «foi articulado por sectores de actividade, dando um relativo e necessário isolamento aos dormitórios e quartos, que se localizam nos pisos superiores dos Corpos A e B, abrindo os refeitórios e as salas, em rés do chão, para o claustro, para onde se abre também o Corpo C, que corresponde à zona escolar». Ou seja, a área residencial sugerida inicialmente seria desdobrada em dois corpos (A e B), ficando a cozinha enquadrada no rés-do-chão do primeiro, o que ia ao encontro de uma pretensão dos representantes do dono da obra: «possível aproveitamento do calor da cozinha para aquecimento».

A capela foi apresentada como o Corpo D, «corpo autónomo, de algum modo virado também ao exterior», «em associação volumétrica com o Corpo E, do ginásio e balneário de apoio. Dado que o ginásio será também salão de festas, haverá como espaço comum à capela, o vestíbulo».

Além disso, «os espaços exteriores, visando, para além da recreação dos alunos com os seus possíveis campos de jogos, uma melhor defesa do ambiente, serão tratados como zonas a arborizar, adensando as cortinas já existentes sobretudo a norte e poente, para melhor isolamento de uma comunidade que aqui se instala para uma descoberta vocacional».

Os acertos

Da análise do programa base não só resultaram alguns acertos que orientaram o projecto de construção do Seminário Diocesano para a fase seguinte de estudo prévio, concluído em Julho de 1988, como também «considerações de raiz, mais importantes», «nomeadamente a previsão de uma grande sala de reuniões de toda a população discente e de uma sala de música, disciplina básica num Seminário».

Grande parte das observações chegaram ao projectista por intermédio do «encarregado do Seminário», o padre Sérgio Augusto Gonçalves Pereira, havendo entre ambos um contínuo e regular diálogo, quer pessoalmente quer por correspondência.

Em razão do que foi dado a observar nas primeiras peças desenhadas houve, por um lado, a necessidade de rever algumas soluções propostas para os mais variados espaços, desde a medida dos quartos destinados aos seminaristas – que poderia ser mais pequena –, da cozinha – que seria «de duplicar» –, do refeitório – que deveria andar pelos duzentos metros quadrados ou mais –, e da biblioteca – talvez o dobro da proposta –, até à da capela, que parecia «excessivamente grande». 

Por outro, foi também necessário dar indicações complementares que deveriam merecer a atenção do projectista, como o caso da área das salas de aula, que deveria ser desigual, pois «normalmente há menos alunos no 9º, 10º e 11º anos». Sugeriu-se, por isso, que fossem projectadas quatro salas para 25 alunos e duas para uma capacidade compreendida entre 15 e 20 alunos.

Outras indicações diziam respeito à localização da secretaria – que deveria ser «imediatamente acessível em relação à entrada principal», podendo ter um gabinete anexo – e à necessidade de prever umas casas de banho anexas ao ginásio, outras para servirem dois ou três quartos que as não tiverem integradas e, pelo menos, uma para cada dois quartos destinados ao pessoal de serviço.

Também foi sugerido ao projectista que, além dos cinco ou seis quartos previstos para os elementos directivos e «possíveis visitas», com casa de banho privativa, houvesse igualmente lugar para um «amplo gabinete para o Director, não anexo ao quarto e com casa de banho privativa», e um «gabinete para o Director Espiritual, de preferência não próximo do Director do Seminário».

(continua na próxima edição)