O Seminário Diocesano de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana – subsídios para a sua história – parte XXXVI

A aposta Essencialmente, a necessidade de construir um edifício para Seminário na cidade episcopal alicerçou-se, ao longo de uma década, sobretudo em três fundamentos, realçados entre outros pela recorrência com que foram patenteados em diversas ocasiões.  Se o primeiro de todos nasceu do espírito da bula da criação da Diocese de Viana do Castelo, que […]

Notícias de Viana
30 Jul. 2021 8 mins
O Seminário Diocesano de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana – subsídios para a sua história – parte XXXVI

A aposta

Essencialmente, a necessidade de construir um edifício para Seminário na cidade episcopal alicerçou-se, ao longo de uma década, sobretudo em três fundamentos, realçados entre outros pela recorrência com que foram patenteados em diversas ocasiões. 

Se o primeiro de todos nasceu do espírito da bula da criação da Diocese de Viana do Castelo, que preceituava a instituição do Seminário, os outros dois germinaram fundamentalmente da consciência diocesana que os dois primeiros bispos procuraram infundir no ânimo da Igreja vianense.

Em ambos tornou-se inquebrantável a convicção de que, por um lado, uma diocese sem seminário equivaleria a existir sem «coração», sintonizando assim o alcance do decreto conciliar «Optatam totius» (n. 5), e, por outro, que, sem seminário próprio, ela estaria sempre desprovida de identidade. Por outras palavras, «uma diocese sem seminário não tem razão de existir», tal como escreveria o monsenhor Antonino Fernandes Dias, primeiro reitor do Seminário Diocesano de Viana do Castelo, no texto do opúsculo distribuído por ocasião da sua inauguração oficial, em 25 de de Março de 1997, sob o título «Um Seminário para quê?».

Ainda muito antes disso, nos alvores da sua construção, a mesma pergunta tinha sido objecto da reflexão de Maria Fernanda, no boletim paroquial «Ecos da Meadela», na edição de Novembro de 1990, à qual respondeu dizendo que «o Seminário é um risco» e «seguir por ele é um risco maior». Ora, se «quem vence os grandes riscos torna-se herói», então «é com heroísmo que vamos arriscar», pois «vale a pena arriscar por Cristo e de forma concreta, neste momento, por um Seminário airoso, moderno, que seja viveiro de muitas vocações».

Por conta dos tais primordiais fundamentos, D. Armindo aceitou corajosamente correr o risco e, assim, levando por diante um projecto prioritário para a construção da identidade da Diocese, pôs à prova toda a comunidade cristã altominhota quanto ao seu dever de fomentar as vocações sacerdotais, responsabilidade afecta de modo especial às famílias cristãs, educadores, sacerdotes – principalmente, párocos – e, de modo ainda mais especial e directo, ao bispo, conforme o tal decreto «Optatam totius» (n. 2), sintetizado no cânone 233 do Código de Direito Canónico.

Aliás, o cânone seguinte deste «codex» (c. 234) incumbe o bispo diocesano de fomentar o seminário menor e de providenciar a sua erecção onde o julgar conveniente, embora não estabelece a sua absoluta necessidade como no caso do seminário maior.

De facto, projectar e construir um edifício de raiz para seminário menor, em Viana do Castelo, com capacidade para uma centena de seminaristas, era uma aposta em grande. Sendo múltipla ou combinada, isto é, em vários domínios em simultâneo – por exemplo, na consolidação da consciência diocesana, na dinâmica da pastoral vocacional, no aumento das vocações sacerdotais, no crescimento da fé dos cristãos, na reevangelização das famílias, etc. –, era, de facto, uma grande aposta.

Para a ganhar não bastaria arremessar-se simplesmente na construção de um seminário na cidade episcopal. Seria necessário também que, a par do investimento e na linha de pensamento do papa João Paulo II, manifesto na mensagem para o XXV Dia Mundial de Oração pelas Vocações, com data de 16 de Outubro de 1987, as famílias cristãs diocesanas, «definidas como primeiro seminário e insubstituível reserva de vocações», soubessem criar «um clima de oração cristã e mariana que favoreça entre os seus filhos o acolhimento da voz do Senhor, a sua generosa resposta e a sua gozosa perseverança».

De acordo com o Santo Padre, as vocações germinam progressivamente «onde se vive intensamente a fé, se realiza a nova evangelização e se incarna o mistério pascal de Jesus na vida da pessoa». Sem este substracto fertilizante e com a secularização cada vez mais a entrar pelas portas de casa adentro, não levaria muito tempo para que as famílias cristãs de uma Igreja diocesana que envidava esforços para a construção de um edifício para seminário se tornassem paulatinamente pouco fecundas de novas vocações e, por conseguinte, convertessem aquela aposta simplesmente num desafio colectivo de erguer apenas um edifício em vez de um alfobre de vocações sacerdotais.

Em abono da verdade, os indícios de que a curto prazo o decréscimo das vocações se instalaria acentuadamente ainda não eram tidos em devida conta na Igreja vianense, talvez porque se quisesse apenas acordar para a realidade quando esta se tornasse demasiado evidente ou, então, em razão de um certo deslumbramento com outros indicadores.

Reis Ribeiro escreveu, na edição de 21 de Abril de 1988 do jornal diocesano, que era «fácil e cómodo instalarmo-nos no facto de a Igreja Diocesana de Viana do Castelo ter um presbitério com a média etária mais baixa, no País, o que não significa desde logo que tenha um clero jovem. Apenas no conjunto tem um nível de idades inferior às outras Dioceses».

Depois de considerar positivo que a Igreja diocesana tivesse mantido nos derradeiros anos uma média de ordenações sacerdotais que permitia socorrer às necessidades pastorais, alertava para o facto de que havia «sacerdotes com encargo de quatro paróquias, algumas bem distantes, e sacerdotes idosos a pastorear grandes comunidades».

Por isso, convidava, em comunhão com as palavras do Santo Padre, «a não descansar sobre o presente, mas a olhar, ler e preparar o futuro. E esse, em termos vocacionais, na Igreja Diocesana de Viana do Castelo, não se apresenta tão festivo para o imediato».

Para o director do jornal diocesano, «o núcleo do problema vocacional está no aprofundamento da educação da fé pela reevangelização, mesmo quando as pessoas e as comunidades se consideram evangelizadas, pela vivência da comunhão com Deus à qual todo o baptizado é chamado, e pela animação cristã de toda a vida, acontecimentos e estruturas».

Neste sentido, «a aposta diocesana nos Seminários Menor e Médio não é apenas para acolher e acompanhar a caminhada vocacional na adolescência. Quer ser e tem de ser, num compromisso de Igreja, um desafio extremamente actual, que é ir ao encontro de jovens e adultos disponíveis para ouvir o apelo de Deus, cujo Espírito chama em todas as idades».

O reconhecimento do lugar insubstituível do Seminário na vida da Igreja diocesana exigiam assim tanto a reevangelização das famílias e comunidades como a disponibilidade, o compromisso e a colaboração de todos, sem que houvesse lugar a desinteresses, «demissões ou fugas», como acrescentaria mais tarde Reis Ribeiro no editorial do «Notícias de Viana» de 10 de Novembro de 1988.

De acordo com o monsenhor, «à dimensão da comunidade humana alto-minhota, a Igreja Diocesana alimenta dois grandes projectos que devem interessar e corresponsabilizar a todos os fiéis, comunidades e movimentos. É a atenção à família e a construção do Seminário em Viana do Castelo. Um e outro devem estar presentes e ser assumidos por todos e cada um, sem perda de especificidade ou paragens de expectativa».

Ao traçar as grandes linhas de acção para um novo ano pastoral, o Conselho Presbiteral já tinha apontado como urgente, na reunião de 23 de Setembro de 1988, um trabalho de fundo centrado no tema da família, para o que foi sugerida a constituição de um grupo de trabalho ligado à Pastoral Familiar para delinear uma programação para vários anos.

Mais pertinente se tornaria o referido tema pastoral quando, em simultâneo, a Diocese avançava para a construção do Seminário Diocesano em Viana do Castelo, que, conforme D. Armindo tinha adiantado aos arciprestes na reunião de 11 de Outubro de 1988, seria destinado para os seminaristas que frequentassem os anos do secundário e complementar, isto é, para seminário menor.

Para Reis Ribeiro, ambos os projectos constituíam «apelos e desafios a uma profunda corresponsabilidade num esforço de re-evangelização para descoberta da verdadeira realidade e situação da família no Alto Minho e o seu crescimento em fidelidade ao projecto de Deus, e o reconhecimento do lugar insubstituível do Seminário na vida da Igreja Diocesana. As duas grandes tarefas exigem a disponibilidade, compromisso e colaboração de todos. Ninguém pode ficar como espectador ou desinteressar-se. Os dois envolvem toda a Igreja Diocesana no seu tecido vivo. Não deve haver lugar para demissões e fugas».

Uma vez «re-evangelizada a comunidade familiar, esta integrar-se-á na dinâmica do crescimento na Fé e será alfobre de vocações para a vida consagrada, em apelo constante a que o Seminário acolha e forme fazendo desabrochar essas vocações que revelem Jesus Cristo, O comuniquem e tornem activo na libertação e salvação do homem e de todo o Alto Minho e do Mundo».

(continua na próxima edição)

Tags Diocese

Em Destaque

Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.

Opinião

Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.

Explore outras categorias