A campanha Em comunhão com o Bispo, os responsáveis da diocese, secretariados, movimentos e obras decidiram, em 3 de Dezembro de 1980, que toda a acção pastoral da III Semana da Diocese, que decorreria entre 4 e 11 de Janeiro de 1981, seria centrada na reflexão sobre o Seminário Diocesano, consequência imediata e necessária da […]
A campanha
Em comunhão com o Bispo, os responsáveis da diocese, secretariados, movimentos e obras decidiram, em 3 de Dezembro de 1980, que toda a acção pastoral da III Semana da Diocese, que decorreria entre 4 e 11 de Janeiro de 1981, seria centrada na reflexão sobre o Seminário Diocesano, consequência imediata e necessária da realidade que era ser diocese ou igreja particular.
Constituída uma comissão organizadora, a mesma prontamente avançou com o tema – «a construção do Seminário» – e com o objectivo de fazer desabrochar nos corações de sacerdotes e leigos diocesanos um maior interesse pelo seminário e despertar nos jovens um maior acolhimento da vida sacerdotal.
A situação de então na Diocese justificava a pertinência do tema. Conforme se poderia ler no anúncio das jornadas diocesanas, «são 219 sacerdotes, (onze ao serviço de outras Dioceses) que vão exercendo o seu munus sacerdotal através das 292 paróquias da nossa Diocese, que, maiores ou mais pequenas, todas desejam o seu pároco próprio. Acontece que alguns, devido à doença ou outras causas, vão deixando de exercer a sua actividade pastoral. Os sacerdotes que se ordenam são em percentagens mínimas relativamente aos que vão envelhecendo. As carências da Diocese aumentam».
Além disso, o número de seminaristas diocesanos que frequentam os seminários de Braga também não muito reconfortante. Pois, 75 seminaristas frequentavam humanidades e havia 3 em Filosofia e 14 em Teologia.
Por conseguinte, havia que valorizar o trabalho do Secretariado da Pastoral das Vocações e tomar consciência das responsabilidades que a cada um competia na «construção» do seminário eram tarefas mais necessárias do que limitar as acções «a um simples peditório» em seu benefício.
Para fortalecer a comunhão e a identidade diocesana no mesmo desígnio, D. Júlio elegeu para as suas intervenções, tanto na eucaristia do dia da abertura como na do encerramento da Semana da Diocese, um slogan, uma fórmula curta, intensamente repetida, como linguagem compactada, que permaneceria facilmente retida na memória colectiva como um conceito.
No primeiro dia assumiu a construção do «NOSSO SEMINÁRIO» como a grande preocupação do momento, «essa empresa que daqui por diante nos vai ocupar, Deus sabe por quanto tempo».
D. Júlio usava o pronome possessivo na primeira pessoa do plural, «porque a diocese não é o bispo e os padres, mas todo o Povo de Deus. Havemos de ser todos nós a geração escolhida para que o seminário seja O NOSSO SEMINÁRIO».
A mensagem foi rebatida no encerramento, no dia 11 de Janeiro, em que o arcebispo-bispo referiu que «cada diocese tem o seu seminário, cada instituto religioso tem o seu seminário, porque necessitam de formar os seus padres para a acção pastoral concreta das suas áreas. E se, por necessidade, delegamos noutros, no que respeita ao seminário menor, só por necessidade o fazemos, porque nem é aconselhável para nós nem para aqueles que nos ajudam, neste caso a Arquidiocese de Braga, a quem, aliás, estamos muito gratos».
Em relação ao primeiro dia, novidade foi a defesa pública da construção do Seminário face a quem sustentava a possibilidade de adaptação de um dos três seminários existentes na Diocese, então meio vazios ou desactivados e que eram propriedade das congregações religiosas, correndo assim menos riscos do que construir um edifício de raiz para ficar vazio no futuro.
Ponto por ponto, D. Júlio alegou que, «primeiro, viver é arriscar e uma diocese nova exige os implementos necessários e novos para alcançar os eus fins e este, do seminário, é indispensável e urgente; segundo, todos esses três edifícios pertencem a Institutos Religiosos, custaram dinheiro aos ditos Institutos, têm dono e não são da diocese; terceiro, gastaríamos, praticamente, tanto dinheiro a adquirir e a adaptar qualquer dos velhos seminários, como a fazer um novo, ficando sempre em casa velha; quarto, se estão vazios, certamente os seus responsáveis, missionários como são e com as urgências da Igreja do nosso tempo, esperam amanhã poderem de novo reabri-los ou aumentar a sua frequência o que muito desejamos; e mais razões podíamos apresentar».
Após aludir ao que deveria ser o seminário menor, acrescentou que «os párocos, as paróquias e todos os sacerdotes, as famílias, os jovens, as crianças, os mais velhos, os doentes e os emigrantes, carrearão aquilo com que se constróem as paredes, serão o corpo e alma do NOSSO SEMINÁRIO».
Por fim, manifestou o desejo de que, uma vez construído o seminário, «como legenda e brasão, fossem gravadas na sua frontaria só estas simples e significativas palavras: ‘O NOSSO SEMINÁRIO’».
Ambas as intervenções, no princípio e no fim da III Semana da Diocese, eram partes de um mesmo discurso, o qual se foi replicando em cada uma das estações de uma procissão que só ainda ia no adro.
No encontro dos jornalistas e colaboradores da imprensa do distrito, reunidos em 29 de Janeiro de 1981 para celebrar o padroeiro São Francisco de Sales, D. Júlio confidenciava-lhes que as primeiras diligências para encontrar uma área para a implantação do seminário tinham resultado infrutíferas.
O mesmo daria notícia o editorial do «Notícias de Viana», órgão de comunicação oficial diocesano, na edição de 12 de Fevereiro, sob o título «O Seminário imprescindível», onde se referia que «não encontraram a conveniente receptividade as tentativas para adquirir o terreno necessário para construir o seminário e respectivos anexos».
«Isto vai»
Contudo, o prelado vianense não deixava por isso esmorecer o objectivo prioritário e, em 8 de Fevereiro, no dia da sagração do altar da igreja paroquial de Areosa, quando cinco diocesanos foram admitidos ao diaconado e presbiterado, lembrou a «necessidade de sacerdotes e sentir a urgência do NOSSO SEMINÁRIO».
Na ocasião referiu que, «quando falamos e nos lançamos na construção de um seminário novo, com isso mostramos que temos fé e esperança. E que desejamos que a sua construção e funcionamento seja um remexer na alma da diocese, um reforçar na unidade o Povo de Deus do Alto Minho, um reavivar da fé que anda por aí demasiadamente descomprometida com a vida».
Se, por um lado, o propósito de construir um seminário novo fomentava a consciência de uma identidade diocesana própria e se enquadrava na perspectiva de actualização e renovação da Igreja vianense, o ritmo a que todo o processo se desenvolveria no tempo seria, por outro, proporcional ao de uma diocese com os primeiros anos de existência.
Aliás, D. Júlio frisava várias vezes – uma das quais no encerramento do Encontro de Pastoral Litúrgica, em 3 de Março de 1981 – que «a Diocese de Viana do Castelo, ainda muito jovem não foi criada para ser uma pequena Braga, um pequeno Porto ou igual a Aveiro, a Lamego e a Vila Real. Cada diocese, na profunda fraternidade eclesial que a todas une, não tem a medida das outras nem se governa pela cabeça das outras, para efeitos de avaliação, projectos e desenvolvimentos pastorais. Embora aceite tudo o que de bom lhe venha, seja de onde for, e lhe interesse, faz a sua caminhada na certeza de que é uma igreja local, com os seus dinamismos próprios, com as possibilidades que tem e com os métodos que achar mais ajustados, segundo os critérios do discernimento das suas instâncias competentes».
No entanto, a par do Centro ou Instituto de Cultura Católica, a construção do Seminário Diocesano iria ser sempre entendida por D. Júlio como uma das estruturas fundamentais e necessárias à vida da Igreja vianense. Entre as prioridades da acção pastoral, era a «pedra angular sob vários aspectos, indispensável para vingar a identidade diocesana».
«Ao ritmo da Igreja diocesana»
Em 16 de Abril de 1981, na homilia da missa crismal, D. Júlio desafiou os agentes da pastoral a elaborarem um plano de acção em conjunto, depois de se «dialogar muito e de conhecer bem o estado da diocese, de examinar com realismo os objectivos a atingir e os meios de que dispomos e os passos a dar; de estudar e ouvir o parecer do presbitério, dos vários conselhos diocesanos, de pessoas conhecedoras, de movimentos e obras, das comunidades religiosas e de instituir uma equipa diocesana competente, encarregada da acção a realizar».
O jornal «Notícias de Viana» entendeu a mensagem e não só abriu espaço nas colunas do semanário a uma secção de entrevistas a agentes da pastoral, a que deu o título «Ao ritmo da Igreja diocesana», como também se declarou notoriamente, através da publicação de pequenos artigos, pela sensibilização da consciência de Igreja diocesana e da sua grande motivação: a construção do seminário.
Na edição de 23 de Julho foi publicada a entrevista ao padre Adelino Fernandes de Sousa, pároco de Cerdal e responsável do Secretariado Diocesano da Pastoral Vocacional, aproximadamente quinze dias depois de mais um «dia de investimento do Espírito Santo na comunidade diocesana», expressão usada, em 5 de Abril, na homilia da ordenação dos cinco diáconos, que, em 12 de Julho, foram ordenados presbíteros, um dos quais, mais tarde, viria a ser nomeado prefeito no Seminário Diocesano de São Teotónio.
De acordo com os dados apresentados pelo responsável diocesano da Pastoral Vocacional, a Diocese de Viana do Castelo contava com 91 seminaristas a frequentar os seminários de Braga, dos quais 63 era o total de alunos do 5.º até ao 9.º ano de escolaridade, quando apenas 8 frequentavam os 10.º e 11.º anos. No seminário maior, a partir do 12.º ano, contavam-se 20 seminaristas.
Na perspectiva do padre Adelino Sousa, havia arciprestados «ricos em Vocações, pelo menos em relação a outros que estão muito falhos e alguns até em zero. Evidentemente que quanto à abundância de vocações, levam a bandeira os Arciprestados de Viana do Castelo e de Ponte de Lima».
Os arciprestados de Paredes de Coura, Vila Nova de Cerveira e Caminha não tinham seminaristas nos primeiros anos do seminário, enquanto o de Ponte da Barca tinha 2, o de Monção 3 e o de Valença 1. No seminário maior, apenas os arciprestados de Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e Paredes de Coura estavam representados.
(continua na próxima edição)
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