O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – parte XXVII

A protelada conversa A avaliação da comissão mista não caiu bem entre os mesários da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo, sobretudo junto do Provedor Oliveira e Silva, que, em 23 de março de 1986, dia de Ramos, disse a D. Armindo não a ter ainda recebido quando lhe entregou pessoalmente, na igreja […]

Notícias de Viana
28 Mai. 2021 7 mins
O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – parte XXVII

A protelada conversa

A avaliação da comissão mista não caiu bem entre os mesários da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo, sobretudo junto do Provedor Oliveira e Silva, que, em 23 de março de 1986, dia de Ramos, disse a D. Armindo não a ter ainda recebido quando lhe entregou pessoalmente, na igreja da Misericórdia, um convite para comparecer no Lar de São Tiago, situado na Praça General Barbosa, no dia 5 de abril, para assistir ao lançamento do livro «Histórias da Terceira Idade», da autoria do médico e escritor José Crespo (1902-1992).

D. Armindo aproveitou a presença no evento para agendar no dia 14 de abril uma conversa pessoal com o Provedor, uma vez que, na semana anterior, estaria a participar na Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, em Fátima.

Talvez porque esperasse dessa conversa alguma novidade com vista a decidir a negociação, D. Armindo tomou nota de todas as diligências feitas para que o encontro efetivamente acontecesse, bem como tudo o que nele foi tratado com o Provedor.

Depois de se ter encontrado com o Provedor no dia 5 de abril, no Lar de São Tiago, anotou: «chegado a casa, escrevi-lhe a confirmar e lembrar que nos encontraríamos no dia 14. Eu telefonar-lhe-ia de manhã, no dia 14, para combinarmos hora e local».

No dia agendado, o Provedor decidiu inesperadamente adiar o encontro. D. Armindo registou: «como não conseguia ligação, mandei o Secretário, Padre José Luís, à Misericórdia. Encontrou o Sr. Provedor, muito ocupado, a pedir que se adiasse para o dia 21. Ele mesmo iria à Casa Episcopal às 11 horas».

De facto, o Provedor apresentou-se nessa segunda-feira na residência episcopal, mas «quase ao meio dia», e depois de ter sido alertado por telefonema do secretário particular do Bispo vianense, conforme foi por este registado: «como não aparecia, o Padre José Luís telefonou-lhe. Disse que não estava esquecido, e que viria logo a seguir».

Em conversa, Oliveira e Silva manifestou a D. Armindo «que não estava de acordo com as avaliações» e considerou «que os avaliadores se deixaram dominar por sentimentos muito reverentes» para com o Bispo de Viana do Castelo, todos exceto o engenheiro Valdemar Coelho, que não subscreveu a avaliação conjunta e, por isso, motivou a pergunta sobre a razão por que não terá nela participado.

A réplica de D. Armindo consistiu simplesmente em recordar ao Provedor o facto de que a comissão de peritos era mista – aliás, proposta pela Mesa da Santa Casa, em reunião de 6 de novembro de 1985 – e, a respeito do engenheiro Valdemar Coelho, em dizer-lhe apenas o que constava no preâmbulo da avaliação.

Depois, Oliveira e Silva revelou «que precisava do Pavilhão para a Misericórdia. Que portanto agora havia dificuldades novas. Que havia quem pensasse num lar para acamados… Que o Turismo queria as instalações do Castelo da Barra, e que precisaria de encontrar soluções de emergência… Que ia precisar também de lá meter trabalhadores que estão no Hospital Velho». 

Além disso, considerou inviável incluir na permuta as propriedades de Loivo, na qual se incluía a «Casa da Aldeia», para onde tinham ido viver em comunidade, desde 8 de outubro de 1985, três irmãs Missionárias do Santíssimo Sacramento e Maria Imaculada, congregação fundada por Maria Emília Riquelme y Zayas (1847-1940). 

Ora com mais ou menos um membro, a comunidade aí permaneceu residente pelo menos até 2001 – o ano da morte da irmã Maria Fernanda de Oliveira Santos (1936-2001), natural de Lobão (c. Santa Maria da Feira) –, sendo-lhe reconhecida, sobretudo na área do Arciprestado de Vila Nova de Cerveira, uma meritória ação pastoral nos âmbitos da educação, catequese e evangelização.

Desfiadas todas as dificuldades que, no entendimento do Provedor, impediam a negociação, Oliveira e Silva acabou por pedir a D. Armindo que aguardasse mais algum tempo, pois «ia ver se era possível resolver o caso com a casa do caseiro de Valverde», sendo certo que a Diocese não iria necessitar de todo o terreno para a instalação do Seminário Diocesano.

A influição

Imediatamente após o encontro com Oliveira e Silva, D. Armindo expôs o ponto de situação ao Núncio Apostólico D. Salvatore Asta, solicitando-lhe uma nova intervenção junto de João Joaquim Gomes (1934-2020), Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa desde 1983 e que tinha terminado o seu mandato em janeiro de 1986.

Jornalista de formação, com desempenho de funções relevantes em diversos órgãos de comunicação social, João Gomes foi um dos fundadores do Partido Socialista, deputado à Assembleia Constituinte, em 1975, e deputado à Assembleia da República, pelo círculo de Lisboa, até 1985, tendo integrado, em 1978, o II Governo Constitucional de Mário Soares, como Secretário de Estado da Comunicação Social, tal como Oliveira e Silva, como Ministro da Administração Interna, até ser substituído por Jaime Gama.

Com um histórico de militância na Acção Católica durante a sua juventude, chegou a ser Presidente diocesano e, mais tarde, nacional da Juventude Operária Católica. Entre 1972 e 1974 foi Presidente da Liga Operária Católica, organismo que representou na Junta Central da Acção Católica Portuguesa.

Depois do Núncio Apostólico, foi a vez de D. Armindo, por recomendação daquele, entrar ele mesmo em contacto com João Gomes no dia seguinte, 22 de abril de 1986, de cuja conversa o Bispo vianense anotou não só que ele, a pedido do Núncio, havia falado na véspera com Oliveira e Silva e que este lhe disse o mesmo que havia dito a si anteriormente na conversa pessoal, como também «que não tinha mais que fazer…».

No entanto, conforme as notas registadas por D. Armindo, João Gomes terá dito que «ia sugerir ao Sr. Núncio que pedisse a intervenção do Dr. Mário Soares (já que falou ao Dr. Oliveira e Silva do interesse do Núncio, mas o Provedor não se impressionou, dizendo e repetindo que tinha boa vontade, que estava de óptimas relações comigo, e que esperava que eu o ajudasse com a Câmara a resolver o assunto)».

Na manhã desse dia 22 de abril, D. Armindo presidiu à reunião trimestral do Conselho Presbiteral, na qual expôs «a situação do diálogo entre a Diocese e a Misericórdia sobre o antigo pavilhão cirúrgico». 

As informações dadas pelo Bispo na ocasião foram posteriormente transmitidas aos Párocos de Ponte da Barca, na reunião arciprestal de 14 de maio, pelo Monsenhor Sebastião Pires Ferreira, Vigário Geral. 

Em ata, ficou registado que o Vigário Geral, «quanto à construção do Seminário, disse que continua em negociação com a Misericórdia a permuta do pavilhão com uma faixa de terreno em Darque depois da avaliação por peritos. A Mesa está sempre a protelar, não se tendo ainda chegado a acordo definitivo».

(continua na próxima edição)

Tags Diocese

Em Destaque

Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.

Opinião

Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.

Explore outras categorias