As abordagens À medida que o tempo foi passando, tornou-se cada vez mais evidente para D. Armindo que a morosidade da negociação e o silêncio do Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo eram demasiadamente insólitos, de tal modo que, uma vez conjugados sequencialmente os factos, faziam gravitar conjeturas sobre alegados interesses […]
As abordagens
À medida que o tempo foi passando, tornou-se cada vez mais evidente para D. Armindo que a morosidade da negociação e o silêncio do Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo eram demasiadamente insólitos, de tal modo que, uma vez conjugados sequencialmente os factos, faziam gravitar conjeturas sobre alegados interesses implícitos de quem estava do outro lado da mesa de negociação.
O Provedor Oliveira e Silva passou assim a ser alvo da abordagem de interlocutores ou intermediários a quem a Diocese de Viana do Castelo recorreu com o propósito de exercerem sobre o Provedor a devida influência para imprimir andamento à negociação.
Na reunião da Comissão pró-Seminário, realizada em 14 de outubro de 1985, na Cúria Diocesana, foi o doutor Manuel Rosado Coutinho, consultor jurídico da Diocese e ex-Provedor da Santa Casa, que se propôs a falar com o Provedor Oliveira e Silva. Em 22 de outubro ainda não o tinha conseguido, embora viesse a saber pelo engenheiro Valdemar Portela Coelho, avaliador da parte da Santa Casa, que se estavam ainda a refazer o estudo e os cálculos.
No dia 23 de outubro, foi a vez de Henrique Rodrigues da Mata, Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo entre 1983 e 1986, prometer a D. Armindo abordar o assunto junto do Provedor e de alguns irmãos da Santa Casa, depois de lhe ter perguntado pelo estado da questão, tal como o havia feito àquele o deputado António Roleira Marinho.
Idêntica influência procurou D. Armindo que fosse exercida até pelo Núncio Apostólico D. Salvatore Asta (1915-2004), a quem escreveu, em 24 de outubro, a pedir «os melhores ofícios no sentido de convencer o Sr. Provedor (Deputado Socialista) a dar seguimento, (e com vontade de negociar) àquilo que foi resolvido em Assembleia Geral dos Irmãos da Misericórdia».
Juntamente com o pedido, seguiu para a Nunciatura um «dossier» sobre a negociação entre a Diocese e a Santa Casa da Misericórdia, a respeito da qual D. Armindo já tinha fugazmente conversado com D. Salvatore Asta, por ocasião da sua primeira visita ao Alto Minho, a convite do Bispo vianense, quando decorriam as festividades em honra de Nossa Senhora da Agonia.
Os esclarecimentos
Durante a estadia em Viana do Castelo, entre 16 e 19 de agosto, o Núncio Apostólico, D. Salvatore Asta, não só assistiu aos momentos altos do programa das festas de Nossa Senhora da Agonia, como também presidiu, no dia 18, na igreja de São Domingos, à concelebração eucarística onde foi entregue ao Padre Sebastião Pires Ferreira, Pároco de Nossa Senhora de Monserrate desde fevereiro de 1979, e segundo Vigário Geral da Diocese a partir de 16 de março de 1985, o rescrito pelo qual o Papa João Paulo II o tinha nomeado Monsenhor, datado de 24 de abril.
A propósito, D. Salvatore referiu na homilia que «o Senhor Bispo, ao propor o Padre Sebastião para a dignidade de Monsenhor, quis reconhecer as capacidades apostólicas e eclesiais de um membro do seu Presbitério. O cargo de Vigário Geral que ele exerce é prova dessa aptidão, ao menos nos critérios do seu Pastor e eu creio que não só, pois desde a visita que me fez à Nunciatura com o seu predecessor D. Carlos Pinheiro, pude apreciar a sensibilidade religiosa, apostólica e a profunda delicadeza que o anima».
Meses depois de ter estado em Viana, era a vez do Núncio Apostólico apreciar a negociação da Diocese com a Santa Casa, em ordem à solução do problema do Seminário Diocesano, com base no tal «dossier» enviado por D. Armindo, em 24 de outubro de 1985, e corresponder ao pedido que lhe foi proposto.
Para além da informação contida no «dossier», a carta que o acompanhava com o pedido de D. Armindo para que o Núncio Apostólico convencesse o Provedor a dar andamento à negociação incluía também alguns esclarecimentos.
D. Armindo fez saber que «a Diocese tem urgência em resolver o assunto. A solução que nos parece melhor vai no sentido de instalar o Seminário em Viana, mas não podemos esperar indefinidamente. Estão já 40 seminaristas instalados no Centro Pastoral Paulo VI, em Darque, a deslocar-se diariamente a Viana (Colégio do Minho), mas para o próximo ano não há mais hipótese de instalar mais alunos».
De momento, a solução passaria pela instalação do Seminário Diocesano no antigo pavilhão cirúrgico, caso a Santa Casa da Misericórdia estivesse na disponibilidade para assinar um contrato de permuta de bens imóveis, para o que a Diocese já havia entregado a sua proposta no passado mês de março.
Contudo, D. Armindo esclareceu o Núncio Apostólico de que, passados vários meses, «apesar das palavras escritas do Sr. Provedor, na realidade parece não ter interesse em ceder o Pavilhão». Aliás, conforme o Bispo vianense foi constatando ao longo do tempo, «as pessoas que o contactam ficam sempre com a impressão de que ele está a protelar a questão para me obrigar a desistir», falando-se até de «outros interesses e envolvimentos do Sr. Provedor».
Os «outros interesses»
A presunção de que haveria «outros interesses e envolvimentos» a presidir à negociação ganhou ainda mais força depois que D. Armindo recebeu, do gabinete do Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, o resultado das diligências que Henrique Rodrigues da Mata lhe tinha prometido fazer «no sentido de tentar desbloquear o problema do nosso desejado Seminário», segundo as palavras do próprio, em carta datada de 7 de novembro de 1985.
Henrique da Mata referiu que, depois de ter reativado o caso após conversa com várias pessoas e ter chamado à razão alguns mesários, «o cenário mudou um pouco, embora, infelizmente, haja responsáveis pela Misericórdia – nomeadamente o Provedor e o Dr. Manuel Rodrigues de Freitas – que têm opinião contrária à nossa. De qualquer modo, estou a fazer sentir que é criminoso o boicote a esta iniciativa».
A abordagem do autarca junto dos mesários da Santa Casa deverá ter produzido um tal efeito que, na reunião da Mesa do dia 6 de novembro, «o comportamento de alguns já não foi igual». Inclusivamente, houve, entre eles, quem afirmasse que, estando prevista para breve a realização de uma Assembleia Geral, o Provedor andaria, alegadamente, a angariar «muitos ‘irmãos’ a quem paga os 200$00 só para que na Assembleia tenha quem o acompanhe nas suas ideias».
Apesar de tudo, Henrique da Mata dizia acreditar que «o caso vai ter rapidamente um fim», estando convencido de «que não haverá coragem de prejudicar tanto esta terra e os seus habitantes». Conforme as suas palavras, «por minha parte tudo farei, como estou a fazer, para que, pelo menos, a opinião pública se vá manifestando e force a resolução rápida do caso».
(continua na próxima edição)
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