O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – Parte XX

A visita Assim aconteceu às dezasseis horas do dia 25 de Janeiro de 1983. D. Armindo visitou o «Seminário das Ursulinas» guiado pelo padre provincial Manuel Durães Barbosa, que se apresentou acompanhado pelo vice-provincial responsável pelos seminários e pelo padre António Luís Gonçalves, superior da casa. Pelo que lhe foi dado observar, a casa ocupava […]

Notícias de Viana
9 Abr. 2021 8 mins
O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – Parte XX

A visita

Assim aconteceu às dezasseis horas do dia 25 de Janeiro de 1983. D. Armindo visitou o «Seminário das Ursulinas» guiado pelo padre provincial Manuel Durães Barbosa, que se apresentou acompanhado pelo vice-provincial responsável pelos seminários e pelo padre António Luís Gonçalves, superior da casa.

Pelo que lhe foi dado observar, a casa ocupava «uma grande área», na qual se circunscrevia um «bom espaço» de recreio, «mas não diversificado», com um campo de futebol. A área cultivável era «relativamente pequena» e a do seminário propriamente dito e anexos estava «bem vedada por um muro». 

A arquitectura dos edifícios revelava notórios «acrescentos e adaptações», executados ao longo dos tempos. No entanto, a sua estrutura parecia «boa». No interior verificou-se que, acima do rés-do-chão, só havia pisos em soalho, tinha alguns quartos, quatro camaratas e bastantes salas, «que dariam para aulas». 

Concluída a visita, D. Armindo pôde constatar que a sua localização na cidade era, sem dúvida, uma das vantagens, se bem que poderia vir a ser «um estorvo» para a urbe «a médio prazo (vide muro em toda a volta)».

Mas, também viu com os seus olhos que qualquer iniciativa de reabilitação do complexo arquitectónico seria previamente obrigada a admitir que «a limpeza, reparações imediatas, etc. ficariam muito caras» e que «a conservação do edifício também será difícil e dispendiosa». Talvez, por isso, tivesse ficado com a sensação de que os padres espiritanos estavam «ansiosos por se libertarem daquele pesadelo».

O «dossier»

D. Armindo demorou um ano a voltar a pôr em cima da mesa a hipótese de instalar o Seminário Diocesano no edifício pertencente à Congregação do Espírito Santo, situado em Viana do Castelo. Durante esse período de tempo viveu na expectativa de que as negociações com a Venerável Ordem do Carmo correspondessem ao consensual desejo das instâncias diocesanas a respeito da quinta da Areosa.

Uma vez colocadas de lado em finais de Janeiro de 1984 – embora a «obrigação de abrir um parêntesis nas negociações com a Ordem do Carmo» apenas tivesse sido comunicada por escrito em 1 de Fevereiro –, D. Armindo preocupou-se em dar continuidade às diligências com a Congregação do Espírito Santo em que foi parte activa, mas, desta vez e conforme a palavra dada anteriormente ao provincial, em 14 de Janeiro de 1983, estava agora em condições de o fazer de modo formal.

De tanta demora inquietou-se entretanto o superior provincial espiritano, o padre Manuel Durães Barbosa, e, em 17 de Janeiro de 1984, escreveu a D. Armindo para lhe dizer que, não tendo recebido até à data qualquer novidade da sua parte a respeito da possibilidade da casa de Viana servir para futuro Seminário Diocesano, tudo levava a crer «ter a Diocese escolhido outra hipótese de trabalho».

Na verdade, a diligência do superior provincial em pedir esclarecimentos ao Bispo de Viana do Castelo surgiu no seguimento da resolução tomada pelo Conselho Provincial, realizado em finais de Novembro de 1983, em Lisboa, de dar uma solução, sem mais delongas, ao chamado «dossier de Viana do Castelo», ainda durante o ano escolar de 1983-84.

Por outras palavras, até à data do próximo Conselho Provincial, a Congregação tinha que decidir se a casa de Viana seria restaurada para seu uso ou se seria vendida à Diocese de Viana do Castelo para ser convertida em Seminário Diocesano.

Posto isto, percebe-se por que só então o padre Manuel Barbosa se apressou a escrever a D. Armindo e a reclamar urgência na resposta. Aliás, não o fez mais cedo, em finais de Dezembro de 1983, porque a carta permaneceu sobre a sua secretária, «por engano e esquecimento», «durante alguns dias de ausência».

Na tal carta de 17 de Janeiro de 1984, o superior provincial referiu, primeiramente, que o Conselho Provincial não quis adiantar nenhuma solução – «o que já está mais ou menos esboçada» –, sem atender também «aos interesses da Igreja de Viana do Castelo num gesto de comunhão eclesial e de fraternidade».

Depois, solicitou ao Bispo de Viana do Castelo que manifestasse «o mais depressa possível, por escrito, o interesse ou não interesse na referida casa, com finalidade de Seminário Diocesano, a fim de prosseguirmos o nosso estudo na melhor solução a dar à mencionada Casa Espiritana», de tal modo que «já em Março do corrente ano se possa dar uma solução teórica, em Conselho Provincial, caso a Diocese se encaminhe por outra solução».

Nova ronda

Jamais o superior provincial imaginaria que a sua carta seria tão oportunamente recebida por D. Armindo. Pois, surgiu precisamente na ocasião em que não havia grande volta a dar à negociação com a Venerável Ordem do Carmo, do Porto.

D. Armindo respondeu ao provincial em 31 de Janeiro de 1984 – isto é, um dia antes de ter comunicado ao provedor da Ordem do Carmo a abertura de um parêntesis nas negociações –, dizendo-lhe que a sua carta «chegou precisamente no momento em que eu me preparava para dar continuidade a este processo. E é o que venho fazer formalmente. A Diocese de Viana está neste momento interessada em tratar com a Congregação, naturalmente através de V. Rev.cia, a cedência da vossa Casa à Diocese, com o fim exclusivo de a utilizar como Seminário Diocesano». 

Assim como havia pressa da parte da Congregação, também D. Armindo manifestou urgência em dar uma solução ao problema da Diocese de Viana do Castelo, pois, como confessou por escrito, «sempre pensei ser possível fazer uma opção durante o ano que findou, mas muito me pesaria não ter possibilidades de resolver este caso no ano corrente». 

Por conseguinte, pediu ao superior provincial que lhe «dissesse com a brevidade possível se a Congregação está na disposição de colaborar com a Diocese neste caso, e em que condições», sendo certo que «as condições apostas serão um dado essencial para a nossa opção».

Em atenção ao manifesto interesse, o padre Manuel Durães Barbosa comunicou por escrito, com data de 14 de Fevereiro de 1984, que, tendo em consideração que a decisão seria tomada dali a um mês – no Conselho Provincial previsto para os dias 13 e 14 de Março de 1984, em Lisboa –, D. Armindo ainda ia a tempo de enviar para Lisboa «alguma nota ou observação» oportuna a ser tida em consideração na reunião, assim como ele andava, entretanto, para o efeito, «a fazer uma sondagem à sensibilidade da Província». 

Antes da realização do Conselho, a confirmação do interesse chegou às mãos do provincial, com data de 28 de Fevereiro de 1984, acompanhada das razões pelas quais, no momento, a alternativa da cedência da casa espiritana era merecedora de uma «atenção prioritária» da parte da Diocese de Viana do Castelo.

Segundo D. Armindo, a Congregação do Espírito Santo dispunha «de vários edifícios no país, e certamente em melhores condições do que em Viana, razão pela qual terá sido encerrado o Seminário de Viana». Além disso, «atendendo à história recente e à imagem desta casa para a povoação vianense, seria pena que esta casa fosse destinada a fins que não fossem estritamente os da Igreja». 

Principalmente quando «a Diocese tem necessidade e urgência de abrir Seminário na cidade de Viana ou nas suas proximidades, pois o Seminário em Monção não só oferece capacidade muito limitada, mas, satisfazendo embora necessidades daquela área, não corresponde psicologicamente ao desejo do clero e povo que pretende o Seminário mais perto da sede episcopal e do centro da decisão diocesana».

Ainda que houvesse intervenções a fazer, «construído que está o edifício, as obras de reparação necessárias poderiam ser feitas por fases sucessivas, à medida das possibilidades fracas da Diocese e da necessidade de receber os alunos que vêm de Monção», sendo certo que, «porque é fácil adivinhá-lo, a Diocese tem menos recursos do que necessidades em ordem às estruturas indispensáveis». 

Por fim, D. Armindo confessou que, «se eu não fosse demasiado suspeito como bispo da Diocese interessado nesta solução, atrever-me-ia desde já a dizer que esta transferência, dentro do âmbito da Igreja em que estamos embarcados, seria uma solução exemplar para o povo a cujo serviço nos encontramos, até porque o povo de Viana, certamente por ignorância das autonomias e responsabilidades das partes envolvidas, mas também por virtude de um notável senso comum, já vai apontando o Seminário do Espírito Santo como a solução natural e ideal para uma Diocese que dele carece».

(continua na próxima edição)

Tags Diocese

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