O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – parte V

«Recrutamento» vocacional Com o anúncio da abertura do Seminário Diocesano, em Monção, o Secretariado da Pastoral Vocacional propôs aos Párocos, promotores vocacionais natos, os critérios de recrutamento. Publicados na edição de 30 de junho de 1983 do jornal «Notícias de Viana», eram indicações que não só ajudariam os Párocos a fazer uma triagem ainda antes […]

Notícias de Viana
4 Dez. 2020 9 mins
O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – parte V

«Recrutamento» vocacional

Com o anúncio da abertura do Seminário Diocesano, em Monção, o Secretariado da Pastoral Vocacional propôs aos Párocos, promotores vocacionais natos, os critérios de recrutamento.

Publicados na edição de 30 de junho de 1983 do jornal «Notícias de Viana», eram indicações que não só ajudariam os Párocos a fazer uma triagem ainda antes dos candidatos se apresentarem ao estágio de admissão, como também sugeriam lugares e momentos em que lançar a semente.

Pois, nem a carência de vocações serviria de justificação para a admissão de todo e qualquer jovem, nem interessava «encher o Seminário de rapazes só porque parecem ‘bonzinhos’, porque os pais os querem mais bem guardados ou porque têm de emigrar».

Convinha que fossem propostos «aqueles e só aqueles que Deus quer» e que evidenciassem «vontade de decidir em ir para o Seminário e atração pelo sacerdócio».

Para isso, «antes de serem mandados a estágio, os Párocos (e já antes os pais…) deveriam verificar bem os sinais reais de uma possível vocação à vida sacerdotal» e «acolher os que (pessoalmente ou através de outras pessoas: pais, catequistas, professores) se oferecem e pedem para entrar no Seminário (ou vida religiosa), desde que manifestem reta intenção e reúnam as qualidades necessárias».

Os Párocos eram também desafiados a promover a vocação sacerdotal na visita às escolas, na catequese, sobretudo por ocasião da profissão de fé ou do Crisma, na realização de encontros vocacionais e no convite direto a quem desse algum indício.

A regra seria «inquietar, sem condicionar e sem forçar, deixando-os totalmente livres. E REZAR. Enquanto a semente fica a amadurecer…»

Primeiros candidatos

O número de candidatos que, pela primeira vez, requereram o ingresso no Seminário Diocesano para o ano letivo de 1983-84 foi realçado, em 18 de julho de 1983, na reunião inaugural do Conselho Presbiteral, que tomou conhecimento de que as obras de adaptação do Externato Liceal estavam a decorrer a bom ritmo.

Para a frequência do primeiro ano do ciclo no Seminário Diocesano, em Monção, foram admitidos 27 candidatos e 22 para os anos de escolaridade seguintes, a frequentar nos Seminários de Braga.

Se, por um lado, o número de candidatos era um sinal de esperança para a Igreja diocesana, a instalação do Seminário na área da Diocese, ainda que não na cidade episcopal, significava, por outro, que o Bispo e a sua comunidade estavam fortemente empenhados em contribuir para a «renovação de facto na Igreja renovada em doutrina e em direito», expressão usada por D. Armindo no dia da instituição de novos ministros extraordinários da comunhão, em 24 de julho de 1983, na igreja paroquial de Castelo de Neiva, Arciprestado de Viana do Castelo.

Na ocasião, D. Armindo teceu magistralmente as linhas fundamentais teológico-pastorais dos ministros na Igreja e, depois de refletir sobre o futuro da Diocese, sublinhou que instalar o Seminário na Diocese e abrir o Centro Diocesano de Cultura, à disposição do laicado, era dar «prioridade simultânea a duas instituições que estarão ao serviço da Igreja para a formação do Povo de Deus, para a cultura da fé, para a descoberta da própria vocação em Igreja e para a preparação dos futuros ministros, ordenados ou não».

Santa Sé aplaude

Em 15 de outubro de 1983, D. Armindo recebeu pessoalmente do Papa João Paulo II palavras congratulatórias de apoio e ânimo ao saber do que estaria prestes a acontecer na Diocese de Viana do Castelo. 

As palavras do Santo Padre foram dirigidas ao prelado vianense por ocasião da sua participação, juntamente com D. João Alves, Bispo de Coimbra, em representação da Conferência Episcopal Portuguesa, na VI Assembleia do Sínodo dos Bispos, que se realizou no Vaticano, entre 29 de setembro e 29 de outubro, sob o tema «A penitência e a reconciliação na missão da Igreja».

Idêntico aplauso recebeu também da parte da Sagrada Congregação para a Educação Católica, em resposta à comunicação feita pelo Bispo de Viana do Castelo, no dia 17 de outubro, de que iria inaugurar o Seminário Diocesano. 

Na carta assinada pelo Cardeal americano William Wakefield Baum (1926-2015), prefeito da referida Sagrada Congregação, com data de 24 de outubro, foi manifestado o vivo apreço e aplauso pela decisão importante e significativa para a vida da nova Diocese, a qual permitiria ao Bispo seguir mais de perto e com maior eficácia os candidatos ao sacerdócio, ter um válido centro de animação e promoção da pastoral diocesana e, de modo especial, um seguro ponto de referência para a pastoral vocacional.

O Seminário em Monção

Efetivamente, o Seminário Diocesano, instalado em Monção, iniciou a sua atividade no dia 24 de outubro de 1983, com um grupo de 27 seminaristas, que viria a ficar reduzido a menos um por desistência no dia 2 de novembro, nas vésperas da inauguração oficial.

A abertura estava prevista para o dia 17 de outubro, mas a impossibilidade de resolver a tempo pormenores da requalificação do edifício, surgidos à última da hora, motivou o adiamento.

A maioria dos primeiros alunos do Seminário Diocesano, que começaram a frequentar o 5.º ano de escolaridade, eram provenientes de localidades dos Arciprestados de Ponte de Lima, Viana do Castelo e Melgaço.

Conforme já havia sido anunciado anteriormente por D. Armindo, embora nomeado somente em 15 de agosto, assumiu a direção da casa o Pe. Antonino Eugénio Fernandes Dias, como Vice-reitor, desempenhando as funções de Reitor, acompanhado pelo Pe. António Maurício da Rocha Guerra, como prefeito, nomeado em 3 de outubro, ambos membros do Conselho Presbiteral, desde 13 de julho, e ex-Párocos.

Natural de Longos Vales (Monção), o Vice-reitor foi, entre 1976 e 1983, Pároco de Santa Marta de Portuzelo (Viana do Castelo) e tinha sido nomeado, em 20 de janeiro de 1983, assistente da Junta de Núcleo e adjunto do assistente regional do Corpo Nacional de Escutas e assistente regional da Associação das Guias de Portugal.

Por sua vez, o Pe. Maurício Guerra (1958-1987), natural de Portela Susã (Viana do Castelo), foi Pároco de Cunha, Agualonga e Rubiães (Paredes de Coura), depois de ter sido ordenado presbítero em 12 de julho de 1981, por D. Júlio Tavares Rebimbas.

Ao Vice-reitor e ao prefeito juntou-se, como diretor espiritual, o Pe. Avelino Felgueiras Marques, Pároco de Troviscoso (Monção) e professor efetivo da Escola Secundária de Monção.

Em consonância com o despacho nº 95/ME/83, de 4 de outubro, que equiparava ao ensino oficial o ensino ministrado nos Seminários menores, as aulas eram ministradas internamente por um corpo docente maioritariamente composto por professores das escolas públicas de Monção.

Constituíam o grupo de pessoal auxiliar Maria dos Prazeres Álvaro Cardoso Fernandes, Ana Veiga Freitas, ambas da vila de Monção, e Laurentina Fernandes Correia, de Pinheiro (Monção).

A inauguração oficial

Em 13 de novembro de 1983, a Diocese de Viana do Castelo inaugurou oficialmente, em Monção, seis anos após a sua criação, o seu Seminário Diocesano, dedicado a São Teotónio, padroeiro secundário da Igreja vianense, declarado em 20 de janeiro de 1982 por decreto da Sagrada Congregação para os Sacramentos e Culto Divino, confirmado por breve pontifício da mesma data.

Dia histórico presidido por D. Armindo Lopes Coelho, que, em menos de um ano, conseguiu concretizar o que era determinação da bula da criação da Diocese, o sonho do seu antecessor, o voto do presbitério e a aspiração da comunidade cristã diocesana, embora não plenamente.

A bênção e inauguração oficial do Seminário de São Teotónio foi o culminar da VI Semana da Diocese, centrada no tema da «Vocação» e repleta de acontecimentos assinaláveis para a vida da Igreja vianense, como o encerramento do centenário de Santa Teresa de Ávila e a ordenação de um Diácono, no dia 6 de novembro, e o início das atividades do Centro Diocesano de Cultura, no dia 8. 

No dia anterior ao primeiro da «Semana da Diocese», na manhã de 5 de novembro, D. Armindo visitou o Seminário de São Teotónio pela primeira vez desde que tinha entrado em funcionamento, tendo conversado com os seminaristas e reunido com a direção.

Segundo o seminarista residente Manuel Lourenço Coutinho, de Moreira de Geraz do Lima, Arciprestado de Viana do Castelo, que fez o relato da visita, publicado no semanário da Diocese, o Bispo conversou com os seminaristas, de quem recebeu um desenho, e, depois de reunir com a, direção almoçou com todos no refeitório.

Ver o Seminário Diocesano em plena atividade, era para D. Armindo, conforme as suas palavras pronunciadas na celebração eucarística do primeiro dia da «Semana da Diocese», a «realização de um sonho que se vinha prolongando e da concretização de uma necessidade que o tempo ajudará a compreender».

Se, por um lado, «preparar os futuros sacerdotes ao ritmo e em perfeita sintonia com as realidades desta Diocese que precisa de alimentar as próprias raízes é função evidente e inequívoca do Seminário, que é sempre a instituição primeira e basilar de uma Diocese», é, por outro, exigência de todos, tanto de sacerdotes como de leigos, a «conjugação de esforços e de sacrifícios, pois é sempre mais difícil manter do que criar instituições».

Iniciativas como a criação da LIASE ou «como a recetividade das famílias abrangidas pela pastoral familiar, como os vários movimentos e obras de apostolado, como até as crianças na oração da sua inocência e no contributo simbólico e comovedor retirado das suas economias infantis» representavam um bom augúrio para o Seminário.

(continua na próxima edição)

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