Iva Viana tem 43 anos. Trabalha na mesma rua onde cresceu. Estudou Belas Artes. Seguiram-se 6 anos numa empresa de origem francesa. “Uma outra faculdade”, nas suas palavras. Há 10 anos despediu-se, e abriu um atelier em nome próprio. Mas consigo não traz nenhuma “história romântica” para contar. “As pessoas querem aprender rápido, mas nada disto me caiu do céu”, assume.
Considera que é injusto que a apelidam de “herdeira” dos antigos estucadores da região de Viana. Além do mais, não querer carregar esse peso. Acredita “profundamente” que não descobriu a pólvora, e acrescenta, certeira e liminar: “a minha única pólvora é a minha paixão”.
Antes de mais, vive apaixonada pela “dimensão manual”. Mesmo equacionando poder, um dia mais tarde, trabalhar com outro material, como a pedra, garante que não o fará com máquinas, mas com o “cinzel, o ponteiro e o maço”. Na conversa sublinha a intimidade com a matéria. “Ela não espera por ti. Tens mesmo de a conhecer”, acentua.
Pelo lugar onde construiu o atelier, têm passado muitas pessoas. “As portas estão sempre abertas. Não escondo nada a ninguém”. Mas, ainda assim, apercebe-se que o confronto que esta atividade implica leva a várias desistências. “Quando veem o trabalho que dá, que é sujo, afinal já não era bem isto que estavam à procura”, confessa.
Sem preconceitos, assume que, sem querer, acabou por criar uma empresa. “Sinto-me escultora, sinto-me artista, sinto-me empresária”, reconhece. O trabalho divide-se entre uma parte mais comercial e uma parte mais exclusiva, em que Iva não prescinde de uma “tela branca” para poder criar. Além de uma equipa de trabalho no estabelecimento prisional, tem uma equipa permanente consigo, no atelier. Percebe que vejam na ideia de empresa a imagem de alguém “que ganha muito dinheiro e que vai explorar os empregados”, mas contra o “processo de aceleração”, o trabalho no atelier está circunscrito a 31 horas por semana, para que todos “tenham tempo” para si.
No final da conversa, perguntamos por que razão as peças são monocromáticas. Iva respondeu sem hesitar: “Aquilo que me interessa nas minhas peças é sempre a luz, para provocar a sombra (…) se a luz for muito frontal, tu não vês nada. Vês um branco. Por isso, é importante que a luz seja rasante”.