Nos documentários sobre vida selvagem, é costume terminar-se com uma referência clássica: Nenhum animal foi maltratado nas filmagens. O mesmo é preciso dizer sobre a reportagem que hoje publicamos acerca da 6ª Convenção do Chega, que decorreu em Viana do Castelo este fim-de-semana. É importante dizê-lo porque, como é possível ver no nosso texto, uma grande preocupação daqueles que entrevistámos e dos congressistas que falaram na convenção, era que “a comunicação social falasse verdade” sobre o que aconteceu no Centro Cultural de Viana do Castelo, entre os dias 12, 13 e 14 deste mês.
Sinceramente, gostava que as referências à castração química como ato de misericórdia por parte de Rita Matias, ou a citação de uma passagem do Catecismo da Igreja Católica, que não existe, por parte de um deputado do Chega para justificar a sua preconceituosa política de imigração, quando, curiosamente, estava a ser entrevistado por um padre, devidamente descaracterizado, fossem construções da manipulação jornalística, mas não são.
Eu não sou neto de sapateiro. Infelizmente, sou só bisneto. Mas aquilo que nos limitámos a fazer foi observar, colocar perguntas, verificar informações, encontrar pontos comuns e divergentes, contar uma história. Manipulação, seria confundir o embrulho com o interior da embalagem. Parcialidade, seria deixar passar a mentira descarada como verdade.
Em Viana, o Chega não foi só o “partido que diz o que as pessoas querem ouvir”, como também não foi o partido moderado que deixou cair as suas bandeiras mais radicais. Em Viana, o Chega foi o partido que quer que o país seja aquilo em que o Centro Cultural se viu transformado no final da Convenção: uma imensa discoteca, onde tudo está às escuras menos o palco, onde o líder acena ao seu público, porque, nesse ambiente, tudo pode ser feito, por estarmos demasiado inebriados. Afinal de contas, as luzes nunca nos “deixam ver se isto é uma festa, ou uma luta de poder”.
Mas já sabemos: escrutinar o Chega é sempre um ato de má-fé. A culpa será certamente nossa e só nossa, porque não sabemos ler as subtis ironias e perspicazes figuras de retórica, que no início do dia são verdade, e à noite são só metáforas.
O mais dramático é que, entre os meus alunos, o único líder político que eles conhecem é André Ventura. É a esse dado que devemos estar atentos. A transformação de Ventura em figura de entretenimento tem tudo menos inocência nas intenções.
Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.
Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.