Mons. Sebastião Pires Ferreira: “o primeiro lampejo começou sem eu conhecer este lugar, ainda na minha terra”

Conhecido pela sua forte ligação à Senhora do Minho, Monsenhor Sebastião Pires Ferreira conta a origem da sua relação com o Santuário, o que destaca nesta invocação mariana, e o que pode significar a Senhora do Minho em tempo de pandemia.

João Basto
8 Jul. 2021 5 mins
Mons. Sebastião Pires Ferreira: “o primeiro lampejo começou sem eu conhecer este lugar, ainda na minha terra”

Notícias de Viana (NdV): É Conhecida a sua forte ligação à Senhora do Minho? Mas, qual a primeira memória que o liga a ela e a este lugar?

Mons. Sebastião Pires Ferreira (MSPF): A primeira memória que tenho remete-me para a Senhora do Minho, mas sem conhecer este lugar, pois os dois elementos que estão no topo do desencadear da devoção à Senhora do Minho, o Cónego Correia e o Comendador José Alves, fundaram, com uma licença episcopal oriunda da Arquidiocese de Braga, um jornalzinho que se chamava “O Cruzeiro da Serra d´Arga”, e, como este estava espalhado pelas Paróquias, o meu pai tornou-se assinante, e eu de pequenino foi lendo “O Cruzeiro da Serra d´Arga”, vivendo esta realidade. De modo que o primeiro lampejo começou sem eu conhecer este lugar, ainda na minha terra.

Depois, fui para o Seminário e aí, no primeiro ano, tivemos o nosso passeio anual, e nessa ocasião o passeio permitiu uma volta ao Minho e, passando em Bertiandos, um Prefeito, o Pe. Manuel Pereira da Costa, levou-nos a ver a imagem da Senhora do Minho, que tinha aparecido – o que foi, aliás, notícia em todo o norte, porque estávamos habituados a vê-la vestida de linho e não com estes motivos regionais – e que estava exposta na igreja paroquial desta mesma localidade; e cativou-me aquela imagem.

Posteriormente, o jornal ainda durou e fui acompanhando, ouvindo falar, inclusive, das peregrinações. Entretanto foi criada a Diocese, e o Sr. D. Júlio desencadeou esta devoção em todos nós, e, por ocasião de uma Missa campal com o objetivo de “chamar” gente ao Santuário, revi a imagem e fiquei seduzido. A partir daí, comecei a pertencer à Comissão, porque o Cónego Carlos Pinheiro, na ocasião Vigário-Geral, introduziu-me, assim como outros padres, mesmo que sem qualquer responsabilidade de fundo. 

Por fim, quando o Sr. D. Carlos foi nomeado Bispo, o Sr. D. Armindo chamou-me para a Vigararia Geral, e aí, também, como comissário para a obra que aqui se estava a fazer, a qual ainda não tinha o projeto aprovado, e a primeira ação foi legalizar as ações. 

De modo que me apaixonei e, hoje, um Domingo que não venha aqui não me parece um Domingo. Claro que celebro a Eucaristia, mas faz-me falta, não só para respirar este ar puro, mas esta serra é mistérica e, em qualquer lado que nos sentemos, contactamos com Deus, no silêncio. Aliás, cheguei a chamar ao Santuário A Catedral do Silêncio.

(NdV): O que o atrai e o que destaca nesta invocação mariana da Senhora do Minho?

(MSPF): Uma pergunta que já me foi feita pela comunicação social, questionava o porquê de ser Nossa Senhora da Conceição do Minho, quando as imagens da Senhora da Conceição são todas vestidas de azul e branco e com a lua aos pés, símbolo da fidelidade de Maria. 

De facto, a primeira imagem é da Senhora da Conceição, que ainda se preserva, é que é feita de mármore, que foi feita para celebrar o centenário da declaração do Dogma da Imaculada Conceição. 

Mas, entretanto, dois senhores, ambos de nome António, esculpiram, em pedra, uma imagem já com recortes do folclorismo vianense. Depois, deram outro passo, mas como tinham muito receio, perguntaram ao Núncio Apostólico se a imagem seria aprovada, sendo a Nossa Senhora da Conceição do Minho, composta com o traje à vianesa, mandando esculpir uma imagem na Casa Fânzeres, a mesma casa onde se esculpiu a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Ora, o Núncio aprovou, mas pediu que se expressasse, mesmo com aquela composição, “umas feições divinais”, pois não queria retratada uma rapariga qualquer, o que foi conseguido, de modo que aquele rosto tranquiliza.

Efetivamente, tudo isto tem muito de tradição, mas de tradição positiva e é por isso que, como lembrava o Sr. D. Anacleto, quando a imagem peregrinava pela Diocese se faziam tantas coisas bem feitas, em contexto litúrgico. 

(NdV): O que a devoção à Senhora do Minho pode significar neste tempo de pandemia?

(MSPF): Logo que houve aquelas primeiras quebras, quando ao princípio andávamos assustados porque não sabíamos o que havíamos de fazer, de imediato a nossa intenção principal na oração do Terço e na Eucaristia foi direcionada para o cuidado, neste tempo de epidemia. Mas, não tendo nós um cadastro das graças recebidas, existe um episódio que liga um dos nossos Bispos, que se encontrava com um problema de saúde, a este mesmo santuário.

O Sr. D. Armindo foi acometido de uma doença que o impediu de celebrar, e estando ele em Ermesinde, fui visitá-lo e, nessa ocasião, ele disse-me que queria vir à Senhora do Minho, o que combinei com o seu Secretário e, posteriormente, conversei com o Sr. D. José Augusto. 

Passado algum tempo ele veio, e houve uma coincidência curiosa: apareceu, sem que contássemos, um autocarro vindo do Porto, que não sabia de nada; e quando o Sr. D. Armindo entrou, com o Santuário cheio a bater palmas, foi como que um choque, que o elevou. Aliás, foi nessa celebração que, ao terminar, o Sr. D. Armindo afirmou que o Santuário da Senhora do Minho é “um Santuário universal”.

O que é facto é que ele passou a celebrar, a partir dali, para os seminaristas, e é curioso que a visita dele à Senhora do Minho tenha sido a 1 de outubro, e o seu funeral tenha sido, precisamente, a 1 de outubro, dois anos depois. 

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