Escrevo estas linhas, no dia em que se presta homenagem de velório a um estratega do 25 de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho.
Ao recordar em “memórias” alguns acontecimentos serei, no silêncio ou em público, acusado de fascista, saudosista do passado e outros encómios menos consentâneos com aquilo que sinto por dentro.
Quando se deu o 25 de Abril, jovem padre, fazia retiro no Sameiro, já no Centro Apostólico, hoje Hotel S. João Paulo II.
Vim para a minha paróquia ou paróquias – as mesmas de hoje – e começaram os acontecimentos…
Já com Otelo a comandar o COPCON, fui invadido por escutas nas missas a gravar ou a ouvir as homilias, porque podia dizer algo que não lhes agradasse.
Num convívio, reunião de colegas, mão amiga de GNR graduado, toca à campainha, dizendo que não era das minhas ovelhas, mas era colega, (e tinha sido de estudos) e vinha falar connosco. Era uma reunião normal de padres, em programação arciprestal, ao fim da qual havia um pequeno convívio. Avisou-nos que fora noticiado que havia reunião duvidosa…
O Sr. D Júlio, que ao tempo não conhecia, foi conversa, quando já Bispo de Viana em 77, foi incomodado para defender o Sr. Patriarca – ao tempo era auxiliar do patriarcado – por causa da Rádio Renascença.
O Bispo que me ordenou passou a escrever em 1975, éramos todos ainda da Arquidiocese de Braga, umas crónicas, no Diário do Minho, intituladas: “À Sombra do Castanheiro”.
Foi proibido de escrever. Partiram-lhe o aparo, disse por escrito.
Doente viajava para Londres, para tratamento, e depois de todo revistado dos pés à cabeças, para ver se levava dinheiro gritaram-lhe:– Tire as calças!Isto ao Arcebispo de Braga.
Depois, foi o perguntar do nosso defunto herói, a quem entendido, que acontecerá se eu mandar prender o Arcebispo de Braga?
– Cai-lhe o Minho todo em Lisboa! – responderam-lhe.
Teve medo, o herói!
Mas em Braga houve a manifestação da maioria silenciosa.
Em 28 de Setembro, no célebre dia em que o Marechal Spínola se demitiu, tinha o Clero de Coura, numeroso ao tempo com dez padres, hoje estamos metade, fomos para o Monte de Santa Tecla em La Guardia programar o ano Pastoral.
Ao chegar a Coura vendo-nos juntos, fomos acusados de ter ido a Espanha fazer reunião clandestina contra o regime. Valeu ao energúmeno ser ameaçado com cadeira em riste por um jovem padre irrequieto e de pouca paciência. Não levou, porque o Padre Herculano, de saudosa memória, da minha idade de hoje, ao tempo, e mais sensato, que me tirou a cadeira da mão.
Ficou meu inimigo o tal, mas fui de propósito ao funeral dele para dizer a Deus e à família, que um padre e um cristão não ganha rancor.
Depois fui invadido pelas brigadas de alfabetização, numa aldeia coma três salas de aula cheias de meninos e meninas, mais duas salas em Cristelo e uma em Vascões.
Foi oportunidade para lhes franquear o Salão Paroquial e falar a muita boa gente dos métodos de planeamento familiar que a Igreja recomenda…, porque eles só falavam do resto.
Escandalizou-se uma senhora velhinha de missa diária, que ouviu o que não sabia e também já não lhe fazia falta, mas queria cuscar… e foi e ouviu e falou:
– Aquelas coisas não deviam sair da boca do Senhor Abade!
Foram aqueles tempos dos heróis.
E da minha aqui ficam algumas memórias para os mais novos.
Há muitas mais!
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