Memória agradecida: Professor Carvalhido da Ponte

“Que fofinho!” Esta foi a exclamação de espanto da nossa neta, então com 06 anos, ao olhar a fotografia de D. Anacleto Oliveira, recém pendurada em uma das paredes da Igreja do Carmo, nos idos de 2010. Explicamos-lhe que era o novo Bispo de Viana do Castelo. Foi também nesse dia que pela primeira vez […]

Notícias de Viana
22 Set. 2020 3 mins
Memória agradecida: Professor Carvalhido da Ponte

“Que fofinho!”

Esta foi a exclamação de espanto da nossa neta, então com 06 anos, ao olhar a fotografia de D. Anacleto Oliveira, recém pendurada em uma das paredes da Igreja do Carmo, nos idos de 2010. Explicamos-lhe que era o novo Bispo de Viana do Castelo. Foi também nesse dia que pela primeira vez olhei o substituto de D. José Pedreira. E concordei com a Maria: a fotografia sugeria-nos um homem calmo, capaz de espargir serenidade. E alegre. Uma espécie de avozinho.

No dia da sua entrada solene na Diocese, na sessão de cumprimentos, também eu e a Lai, responsáveis pelo Secretariado Diocesano da Pastoral da Família, lhe demos as Boas Vindas e lhe contamos a reação da nossa neta. Abriu-se num sorriso feliz de quem se sente acarinhado.

Depois convivi com D. Anacleto tanto em eventos diocesanos, como rotários ( disse conhecer e admirar a filosofia e a ética rotárias), da Cooperação com a Guiné-Bissau (trouxe-lhe, em 2012, um abraço fraterno dos Bispos da Guiné, D. José Camnate, D. Lampra Ká e D. Pedro Zili) e, mais proximamente, da Fundação Caixa Agrícola do Noroeste.

Em todos estes momentos, admirei-lhe o suave e calmo tom do discurso, a forma tão pedagógica como nos explicava os textos bíblicos, tão própria de quem bem conhece e ama as águas em que navega. Não raro, vi-o propor-nos didáticas.  Não raro, todo ele se rasgava em apurados espantos perante o nosso folclore, a nossa cultura, a nossa religiosidade popular.

O último contacto que tive com o nosso Bispo foi em finais de 2019, salvo erro. No âmbito do meu cargo rotário (Governador do Distrito 1970 para o ano 2019/2020), fui pedir-lhe conselho sobre a organização de um momento ecuménico que queria organizar, durante a realização da 37ª Conferência Rotária do D.1970, prevista para junho deste ano, no Centro Cultural de Viana do Castelo. E logo me disse que sim. E logo me sugeriu com quem deveria falar. E contou-me histórias de outros momentos idênticos (pareceu-me, sempre, um bom contador de histórias). E percebi que estava a ouvir-me e a conversar sem grades temporais. E falou-me, ainda, da próxima reforma. Que se sentia cansado. E de uma diocese com muitos sacerdotes envelhecidos e cansados também. E fui eu quem terminou o encontro: “Bom, D. Anacleto, por certo tem mais que fazer do que estar aqui a ouvir-me”. “Qual quê!?”, ripostou, e senti-me à vontade. 

Tinha este condão: fazia com que nos sentíssemos à vontade. Hoje relembrei a expressão da Maria: “Que fofinho!”.

Um abraço, D. Anacleto, e até um dia. Que a gente, assim o espero, há de reencontrar-se.

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