A TERRA E A SERRA DE ARGA ESTÃO DE LUTO… mas isso há-de mudar! Este domingo, como habitualmente, subi a Serra de Arga. Mas a serra não está como de costume: a encosta serrana virada ao Atlântico está negra. O incêndio de há 10 dias atrás pintou de preto o terreno verdejante. Celebrar a Eucaristia […]
A TERRA E A SERRA DE ARGA ESTÃO DE LUTO… mas isso há-de mudar!
Este domingo, como habitualmente, subi a Serra de Arga. Mas a serra não está como de costume: a encosta serrana virada ao Atlântico está negra. O incêndio de há 10 dias atrás pintou de preto o terreno verdejante. Celebrar a Eucaristia nas Paróquias da Serra de Arga foi neste domingo muito diferente do que é costume! A Montanha Sagrada, como é conhecida, está triste, muito triste. Em todas as Paróquias a alegria com que as pessoas se dirigem para a casa do Senhor foi substituída pelo luto de alguém que se sente e está órfão: o Pastor morreu e o Rebanho sente a falta do carinho, do sorriso e do abraço…
Mas não era só no templo que era sentida a dor: também em casa! As pessoas que não puderam deslocar-se à Igreja rezavam no seu lar por aquele que os visitara aquando da visita pastoral. Por exemplo, a Tia Avelina de Santo Aginha (nome dado ao Lugar da Freguesia de Arga de S. João onde foi martirizado o santo da Serra de Arga) amarrada ao seu rosário reza pelo seu amigo: “ligou-me no outro dia quando fiz 94 anos e prometeu-me que íamos fazer uma festa quando eu chegasse aos 100… e deixou-nos assim! É um santinho e amigo dos pobres. Nosso Senhor tenha piedade dele. Custa muito…”
A amizade do Povo de Arga com o seu Bispo foi-se construindo aos poucos. O Bispo vindo dos lados da Serra de Aire vinha frequentemente mergulhar na paz e no silêncio serranos. No ar puro das alturas encontrava energias novas e na conversa com quem se cruzava aprendia a sabedoria antiga dos minhotos. Conhecia os carreiros e os rebanhos e gostava de apresentar este lugar místicos às suas visitas e amigos. Na casa paroquial de Arga de Baixo via uma fortaleza onde é possível a gente resguardar-se dos males da sociedade materialista; num dos Largos de Arga de Cima sentia a harmonia primordial do Éden, onde é possível ver criaturas de várias proveniências e raças a conviverem e no final do dia cada um dirigir-se à sua capoeira, corte ou às leiras dos seus donos, sem haver confusão nem trocas; no Mosteiro de S. João de Arga respirava a presença do Altíssimo que fala no silêncio, mas também se manifesta na alegria e no convívio tão característicos daquela que é considerada maravilha da cultura popular.
Este Pastor guardava no seu coração cada história daquele nobre povo. Aquando da visita pastoral em 2018 os Paroquianos das 3 Argas não o receberam com nenhum discurso preparado na véspera, mas sim com uma oração dentro da igreja do Mosteiro. Todos, rodeando D. Anacleto, se dirigiram Àquele que foi (e ali é) anunciado por S. João de Arga: “Senhor dos Apóstolos, a quem não somos dignos de desatar a correia das sandálias, Tu escolheste o Teu servo Anacleto para Bispo de Viana do Castelo e o enviaste a proclamar nestas paróquias a Tua Palavra e a agir em Teu nome.” Foi por ele que rezaram naquele dia, como em tantos, pois ficou o compromisso de acompanhar o ministério episcopal com a oração permanente. Não era apenas o coração grande de D. Anacleto que guardava a gente, é também o coração generoso dos humildes que serve de casa a “quem nos Deus envia nos caminhos da vida para Deus”.
A terra de Arga está negra!
A alma do Povo da Serra está de luto!
Mas o saber empírico diz que do solo vão brotar as plantas e as flores; a fé afirma-nos que os abraços serão de novo dados, o convívio irá continuar e a alegria será eterna. O Aginha está já em casa, o Anacleto está a caminho e nós tentaremos percorrer os caminhos que João de Arga aponta para nos encontrarmos nesse dia tão feliz!
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