Memória agradecida: Catarina Soares, diocesana da Paróquia de Serreleis

Para D. Anacleto só tenho uma história para contar. Uma história que ficará para sempre guardada no coração: a Páscoa.  Quando aceitamos ser Mordomos da Cruz da Paróquia de S. Pedro e S. Paulo de Serreleis estávamos longe de imaginar que “a nossa Páscoa” ficaria para a história de Serreleis. Pela primeira vez seria o […]

Notícias de Viana
20 Set. 2020 3 mins
Memória agradecida: Catarina Soares, diocesana da Paróquia de Serreleis

Para D. Anacleto só tenho uma história para contar. Uma história que ficará para sempre guardada no coração: a Páscoa. 

Quando aceitamos ser Mordomos da Cruz da Paróquia de S. Pedro e S. Paulo de Serreleis estávamos longe de imaginar que “a nossa Páscoa” ficaria para a história de Serreleis. Pela primeira vez seria o bispo a percorrer as ruas da aldeia com o compasso pascal. Preparamos a Páscoa com todo o amor e carinho possível. Sabíamos que a honra era imensa. Sabíamos que as pessoas estavam alegres por receber D. Anacleto nas suas casas. A previsão para os dois dias de Páscoa era de chuva, mas só choveu na segunda-feira e apenas na primeira casa. Só isso já era um bom sinal. 

Na Eucaristia matinal, antes da saída do Compasso Pascal, D. Anacleto estava animadíssimo por estar connosco, em Serreleis. Chamou-me ao altar para que lhe explicasse como seria vivida a Páscoa e o que ele tinha de fazer. Não queria cometer erros. Desde o primeiro minuto, D. Anacleto conquistou-nos. Casa a casa, porta a porta, fizemos o percurso. Sempre, mas sempre entrou em cada casa com um sorriso. Sempre, mas sempre, aceitou um copo de água. Sempre, mas sempre, sentou-se e conversou com imensas pessoas. Sempre, mas sempre, mostrou-se afável quando as pessoas queriam apresentar os seus familiares, mesmo em fotografias. D. Anacleto não tinha pressas, quando escutava algo do género: “estão muito atrasados”, D. Anacleto só tinha uma reposta: “eu não marquei hora com ninguém.” E mais um sorriso. Pela primeira vez, em Serreleis, um Compasso Pascal terminou às vinte e duas horas. 

Sei, pela voz do próprio, que a nossa Páscoa também ficou na história de D. Anacleto. Pela primeira vez, numa Páscoa, D. Anacleto andou de autocarro. O motivo é muito simples: o Compasso era composto por muitas mordomas, grupo de bombos e mais alguns acompanhantes, para nos deslocarmos para almoçar ou retornar ao ponto de partida seria necessário muitos carros e o assunto resolveu-se facilmente com um autocarro. E assim foi. D. Anacleto andou de autocarro na Páscoa.

Como é óbvio foram imensas as fotografias destes momentos, mas há uma que ficará para sempre no meu coração. Durante os dois dias, D. Anacleto ganhou uma amiga: a Laurinha, de sete anos. A Laurinha é minha prima e foi nossa mordoma. Desde a primeira casa que a Laurinha sempre andou de mão dada com o bispo. Quando saíamos de uma casa e a Laura não estava na sua mão, D. Anacleto olhava para trás e dizia: “Onde está a minha parceira? Perdi a minha parceira.” E essas mãos dadas ficaram eternizadas numa fotografia carregada de ternura. 

Poderia ficar aqui a escrever, escrever, escrever sobre estes dois dias. Soa a pouco tempo, mas foram tão intensos. Quando a notícia sobre o seu falecimento foi tornada pública, o Facebook foi inundado com fotografias desta Páscoa. Não foi só a Páscoa de 2018 que ficou marcada, foi D. Anacleto também. D. Anacleto tinha o dom da palavra. D. Anacleto entrou nas nossas casas e deixou a sua pegada. D. Anacleto será para sempre recordado com muito carinho, porque uma pessoa que gera o bem só poderá levar o bem. 

Até sempre,Catarina Soares

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