Juntos somos mais fortes

Carlos Costa
11 Jul. 2025 5 mins
Carlos Costa

Com grande sentido de oportunidade, o suplemento satírico da concorrência, “Inimigo Público”, deu-nos conta do estratagema engenhoso encontrado por Luís Montenegro, para cumprimento da meta orçamental para a defesa: apresentar à NATO as faturas das jantaradas, kms de automóvel e escapadelas de fim-de-semana, do executivo. Não será fácil. É muito dinheiro para apresentar em “ajudas de custo”.

Antevendo a dificuldade para se atingir esta meta orçamental, eu posso dar o meu contributo, que talvez se evidencie mais eficaz e com investimento efetivo no setor militar. Porque não afetar ao Ministério das Defesa todas as estruturas militares de Portugal, incluindo as cerca de 250 construções defensivas históricas existentes, e incutir a esse mesmo Ministério todas as despesas relacionadas com a sua recuperação, manutenção e gestão? Se a isto somarmos outras despesas relacionadas com a nossa história militar, muito rapidamente nos aproximaremos da meta dos 5%. Sem faturas de jantaradas, nem kms de autoestrada! Mas adiante. Com esta pequena introdução consigo dar mote ao tema que me traz a esta rúbrica: as estruturas defensivas históricas e o seu papel na definição do nosso território e da nossa cultura.

Na região do Alto Minho existem14 fortificações de caracter defensivo. Cerca de metade não estão classificadas, estando em ruína ou apresentando apenas alguns dos seus vestígios; as mais importantes – a Fortaleza de Valença e o Forte do Ínsua – estão classificadas como Monumento Nacional; as restantes, com maior ou menor grau de utilização, melhor ou pior estado de conservação, estão classificadas como Monumento de Interesse Público.

A Fortaleza de Valença, uma das fortalezas abaluartadas mais notáveis da Península Ibérica, surge como farol, na forma como interpretamos e promovemos este tipo de estrutura. A Fortaleza tem sido assiduamente objeto de notícia, seja pelas intervenções de estabilização e recuperação da estrutura, seja pelo processo em curso de classificação como Património Mundial da UNESCO.

Mas as notícias mais recentes relativamente à valorização promovida nestas estruturas militares do Alto Minho, dão-nos conta do Forte da Lagarteira, em Vila Praia de Âncora. Com um pequeno investimento de 200 mil euros, o Município de Caminha dotou esta estrutura, classificada como Monumento de Interesse Público, de um espaço dedicado à valorização da identidade marítima do concelho: o “Espaço de Memórias do Mar”. Este projeto permitirá trazer público e vida ao Monumento, garantindo paralelamente a sua manutenção e conservação: o projeto, iniciado ainda em 2022, incluiu também uma intervenção de reabilitação da estrutura fortificada. Avalizando-se dos apoios comunitários necessários, foi esta a fórmula encontrada pelo município para garantir a conservação, valorização e usufruto deste Monumento.

Nos Arcos de Valdevez, separados por apenas 750 metros, entre si, os Fortes de Bragantelo e o Forte de Pereira, são um outro exemplo – ainda que, de uma forma muito embrionária – de valorização deste tipo de estrutura. De características únicas, este conjunto fortificado esteve durante séculos praticamente esquecido sob a vegetação, chegando aos nossos dias parcialmente destruído. Representaram entre 1640 e 1668 a última linha defensiva da passagem natural de entrada no Alto Minho, e foram cruciais durante a Guerra da Restauração; foi tal a sua importância que no local é até referido que “foi nos Arcos que Portugal se fez e, no Extremo, foi de vez”!

Estes dois fortes têm vindo a ser alvo de inúmeros projetos de investigação, foram classificados como Monumentos de Interesse Municipal – como garantia de imediata de proteção – existindo ainda o desejo da sua elevação a Monumentos Nacionais. Estão previstos ambiciosos projetos de requalificação, dotando também o local com um centro de interpretação e acolhimento. Já existe sinalética e divulgação, o que permite fazer deste território – há bem poucos anos no anonimato – um novo polo de interesse turístico na região.

Muito sinceramente, não sei o que será mais ficcional: se a crónica do “Inimigo Público”, se a minha sugestão de afetação, ou se a possibilidade remota do Ministério da Defesa absorver cerca de 14,3 mil milhões de euros por ano. Duas vezes o orçamento da Educação. O que eu sei, é que é essencial que se conheça, preserve e se promova o bom uso desta tão importante tipologia de Monumentos. Não poderemos ter, nem é conveniente que se tenha, um museu em cada Forte. Se algumas destas estruturas são já valorizadas, é certo que outras se mantêm no esquecimento e abandono. É de facto, muito trabalho e está ainda agora a começar.

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