“Jovem, levanta-te e vamos! (em situação de pandemia)” dá mote ao novo Ano Pastoral na Diocese de Viana do Castelo

O Centro Pastoral Paulo VI acolheu, no dia 3 de outubro, o lançamento do novo Ano Pastoral da Diocese de Viana do Castelo com a apresentação da Carta Pastoral “Jovem, levanta-te e vamos! (em situação de pandemia)”, último escrito de D. Anacleto Oliveira enquanto Bispo diocesano. A iniciativa, que inaugurou um triénio pastoral (2020-2023) dedicado à Pastoral Juvenil, contou com a presença do clero e dos representantes dos vários movimentos e departamentos diocesanos.

Notícias de Viana
9 Out. 2020 11 mins
“Jovem, levanta-te e vamos! (em situação de pandemia)” dá mote ao novo Ano Pastoral na Diocese de Viana do Castelo

No momento em que a Diocese de Viana do Castelo vive em sede vacante, dado o recente e inesperado falecimento de D. Anacleto Oliveira, vítima de um acidente de viação no dia 18 de setembro, foi lançado o novo Ano Pastoral através da apresentação do calendário diocesano e da Carta Pastoral, ambos já terminados e aprovados aquando da sua morte.

Assim sendo, Monsenhor Sebastião Pires Ferreira, na oração inicial que ritmou os momentos que se seguiram, afirmou que, “apesar de ser um momento em que [enquanto Igreja Diocesana] se chora, é, igualmente, ocasião para entrar na porta grande da esperança”. “Vamos lançar o ano pastoral para que a Diocese não pare e, ultrapassando as atuais circunstâncias, esteja verdadeiramente unida, quando nos for dado o sucessor de D. Anacleto”, acrescentou o novo administrador diocesano depois de convidar todos os presentes “a ser uma bênção para os irmãos, retomando a figura de Abraão e a passagem da carta de S. Paulo aos Romanos”, em que se afirma “Bendizei aqueles que vos perseguem”.

O calendário diocesano, apresentando pelo Pe. José Correia Vilar, inclui as atividades dos vários movimentos e departamentos diocesanos, e reforça a intenção de D. Anacleto Oliveira, que pretendia que este ano começasse um triénio pastoral dedicado à Pastoral Juvenil, com vista a uma preparação mais intensa rumo à Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em 2023. 

Já a Carta Pastoral, intitulada “Jovem, levanta-te e vamos! (em situação de pandemia)”, foi apresentada pelo Pe. Vasco Gonçalves, Chefe de Gabinete de D. Anacleto. “Esta Carta é dirigida aos jovens e remonta ao texto da assunção, lema da JMJ do Panamá, e faz ainda a ponte com o texto da visitação, lema da JMJ de Lisboa”, afirmou, adiantando que tem como “modelo jovem” Nossa Senhora (Maria). Nesta linha, salientou que este primeiro ano seria dedicado à descoberta e redescoberta da vocação cristã de cada um(a), conforme o falecido Bispo deixou expresso logo no início do texto, aproveitando ainda para focar as mudanças de paradigma, em particular, no campo da pastoral catequética e juvenil, que a Carta Pastoral lança à reflexão dos diocesanos, em linha com o magistério do Papa Francisco, nomeadamente, em relação à inserção comunitária dos jovens e ao recurso aos seus ambientes como modo de evangelização. “Este tempo de preparação até 2023 é uma graça e, por isso, não o podemos desperdiçar. É um tempo de reavivar e reorganizar a Pastoral Juvenil”, acrescentou. 

Na Carta, o Bispo diocesano frisou ainda que “a Igreja precisa de jovens”. “Os jovens são, muitas vezes, os melhores evangelizadores de outros jovens, e são eles que podem trazer juventude para a Igreja”, concluiu o Pe. Vasco Gonçalves.

A Carta Pastoral “Jovem, levanta-te e vamos! (em situação de pandemia)” tinha sido assinada por D. Anacleto no dia 15 de agosto, aniversário da sua ordenação presbiteral e da entrada na Diocese de Viana do Castelo, e estava pronta para publicação aquando da sua morte. Como destaca Monsenhor Sebastião Pires Ferreira, administrador diocesano, numa nota introdutória ao texto: “À maneira de um último legado, de um verdadeiro testamento, a atual Carta Pastoral, ainda que, através da frescura e fecundidade que exibe e deixa transparecer, se dirigida às gerações jovens, como um subsídio de preparação para a próxima Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, ela dirige-se a todos e para todos os diocesanos, apontando e perseguindo o futuro”. 

O calendário diocesano e a Carta Pastoral podem ser adquiridos na Cúria Diocesana e no Instituto Católico de Viana do Castelo. “Desafio todos os Arciprestados a fazer chegar esta Carta Pastoral aos jovens através das suas paróquias e movimentos, mesmo que exija um investimento extra. Temos de difundir esta Carta para que seja lida, refletida e rezada por todos”, apelou Monsenhor Sebastião Ferreira. 

A sessão encerrou com uma oração que, durante os três anos de comemoração jubilar da Diocese de Viana do Castelo, foi usada nas várias paróquias, em que se pede que ela seja “jovem e bela, livre, fiel, e cheia de amor”.

No final, Monsenhor Sebastião Ferreira e o Pe. Vasco Gonçalves estiveram à conversa com o Notícias de Viana e explicaram os novos desafios que a Diocese de Viana do Castelo enfrentará no novo Ano Pastoral. Apesar de terem perdido o seu pastor, mostram que será um tempo de esperança.

Monsenhor Sebastião Ferreira: “A Carta Pastoral está entremeada com léxico, textura e descrição maravilhosa que cativa os nossos jovens”

Quais os desafios que a Diocese poderá enfrentar sem D. Anacleto? D. Anacleto deixou-nos o seu legado que vem de uma experiência grande do contacto com as pessoas, a começar pelos mais pequenos (crianças e jovens) até chegar aos mais velhos (idosos). Este legado é fundamentado pela sua inteligência e pela sua expressão de diálogo, abertura, doação e omnipresença. Ou seja, ele estava sempre onde era preciso. Ele não fugia a ir à ponta mais distante e mais escondida da Diocese para, numa festa, inauguração ou em qualquer ato, estar presente. 

Neste momento, sinto realmente uma certa dificuldade, mas uma grande esperança porque não estou só. Tenho os membros do Conselho de Consultores, mas, sobretudo, conto com a assistência do Espirito Santo, com a presença amiga, todos os dias e momentos, não apenas da figura, mas da pessoa de D. Anacleto. Portanto, vivo da esperança para que realmente seja capaz de conduzir tanto quanto me for possível.

Como sintetiza o novo Ano Pastoral e, em particular, a Carta Pastoral?Quando a li, fi-lo com gosto porque ela é um misto de poesia e abertura do coração e de um caldeamento com a palavra de Deus que está ali, mas que está entremeada com léxico, textura e descrição maravilhosa que cativa os nossos jovens, que são o futuro da Igreja. Aliás, é através deles que vemos a Igreja do futuro. Eles são a Igreja que vejo lá no futuro através da sua presença, por quem tenho muito carinho, porque tive a oportunidade de conviver com grupos de jovens enquanto pároco. 

Como é que a Diocese de Viana do Castelo vê este tempo de pandemia?A Carta Pastoral também o diz. Numa resposta rápida, é uma pandemia e, portanto, olhamos para o aspeto negativo; mas tanta coisa positiva trouxe. Antes de mais, é o reconhecimento da nossa debilidade. Ou seja, o reconhecimento de que eu, se não tiver cuidado comigo, basta isto para estar a afetar os outros, prejudicando-os. Ao mesmo tempo, a necessidade de estar a uma certa distância para poder ver o outro e, no outro, reconhecer a pessoa que é. Portanto, merece não só o meu respeito, como também o cumprimento do mandamento do amor (Amar o outro), olhando para as pessoas e vendo as suas qualidades, e preservá-las. Ou seja, ver no outro alguém que me leva a olhar para mim e considerar-me um existente, porque a minha existência depende também da existência do outro. Isto é, o princípio da comunicabilidade e sociabilidade exige-me não apenas um eu ou ele, mas um “nós”. É com base nisto que tenho de olhar para a pandemia com uma certa expressão de positividade. Leva-nos a olhar para o outro através de uma responsabilidade e convivência (apesar de condicionada).  

Pe. Vasco Gonçalves: “Foi Deus que inspirou D. Anacleto a colocar-nos esta Carta Pastoral, para que possamos fazer a travessia com alguma tranquilidade e a serenidade de quem espera a chegada de um novo pastor”

Como sintetiza o novo Ano Pastoral e, em particular, a Carta Pastoral?Este é um Ano Pastoral que nos prova e nos traz alguma ansiedade, um pouco pela morte do Bispo D. Anacleto Oliveira. Ficamos órfãos, em que uma família ficou sem pai e guia espiritual. No entanto, ele deixou-nos a bússola e é essa a definição a atribuir a esta Carta Pastoral. Foi o mapa e a bússola que ele nos deixou para continuarmos a caminhar como Igreja com um objetivo: rumo à Jornada Mundial da Juventude 2023. Deixou-nos algumas orientações tripartidas. Este ano, dirigido à vocação, tendo como referência Nossa Senhora no seu “Sim” no Mistério da Anunciação e, depois, num outro ano, mais comprometido, missionários e ao encontro dos outros, tendo também Nossa Senhora como referência na sua dimensão do Mistério da Visitação, de quem se levanta e se põe a caminho. Deixou-nos as coordenadas, tocando em alguns aspetos concretos da vida da comunidade, dos ambientes sociais, a oportunidade para pensar na Pastoral Juvenil da nossa Diocese, mas também para a ação da Pastoral Vocacional e, naturalmente, da Catequese e de toda a vocação na vida da Igreja. Portanto, não estamos cegos. Temos uma bússola. Parece que ele pensou em tudo isso e tudo foi oportuno. No fundo, sabemos que é o braço de Deus que nos conduz, que tal como no exílio, na travessia do deserto, Deus dizia ao povo que ia colocar o seu anjo à sua frente e que o ia conduzir. Assim, também nós, neste tempo de travessia, de pandemia e de incertezas, temos um anjo do Senhor; aqui pode ser mais do que uma figura celeste, o próprio Deus, é o Divino Espírito Santo. Foi Deus que inspirou D. Anacleto a colocar-nos esta Carta Pastoral, bússola e mapa, para que possamos fazer a travessia com alguma tranquilidade e a serenidade de quem espera a chegada de um novo pastor, mas quando ele chegar, sinta que o seu rebanho, esta Igreja Diocesana, está consistente, tem objetivos, sabe onde caminha e assim ele entrar e assumir a sua responsabilidade, conduzir-nos.

Quais os desafios que a Diocese poderá enfrentar sem D. Anacleto? Neste momento, não há nenhum grande desafio. O desafio que temos é de continuar o que o D. Anacleto nos deixou. Estávamos a caminhar com ele e, por isso, devemos continuar a manter isso. Não são tempos de mudança, decisões de fundo, e não é o tempo de procurarmos novos caminhos. É um tempo de nos mantermos como estamos, permanecendo em comunhão, porque sabemos que o Bispo é sempre o que garante a comunhão de todos e, portanto, não há nada de novo e a espera não será de muito tempo. Serão meses e chegará o novo guia e pastor para a nossa Diocese.

D. Anacleto Oliveira deixou algumas orientações de preparação para a Jornada Mundial da Juventude que se vai realizar em 2023, em Lisboa. Como é que a Diocese vai abraçar este desafio?A preparação para a Jornada Mundial da Juventude passa pela coordenação do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil. D. Anacleto – e este é um mérito –, não só deixou esta Carta Pastoral para nos orientar, toda a Diocese e todos os diocesanos, mas também caminhou com a Pastoral Juvenil. Ou seja, é um tempo de oportunidade para a revitalização e reorganização da Pastoral Juvenil Diocesana. Ele já começou esse trabalho. Já começou a caminhar com os jovens, ouvindo-os. Naturalmente que esse trabalho não é só da Pastoral Juvenil, mas de toda a Diocese, começando pelos padres, párocos e comunidades, com o objetivo de desafiar os jovens. A Pastoral Juvenil dará coordenadas e uma delas é a criação das equipas de Arciprestado para começarmos do mais local e assim, todo este movimento pastoral ter força para que a nossa Diocese seja capaz de tornar essa Igreja jovem e bela.

Como é que a Diocese de Viana do Castelo vê este tempo de pandemia?D. Anacleto lança-nos o desafio, na sua Carta Pastoral, para este tempo de pandemia: que nós, Igreja Diocesana, tenhamos um olhar de fé. O cristão é aquele que olha para o mundo com olhar de fé. Ou seja, o olhar para a pandemia como aquele em que temos de ”conviver”. Não é de “conviver” naquele sentido de procurar estratégias para ver como escapamos ao vírus ou o evitamos, mas, sobretudo neste tempo que oportunidades, por onde é que o Senhor nos convida a caminhar? A Escritura faz também essa referência ao povo nos momentos de crise; é aí que ele descobre a força da presença de Deus e o caminho que Deus propõe. Portanto, ser um tempo de oportunidade e sentir o bem e a força de Deus no meio de nós. É um tempo para não perdermos a esperança, para não desanimarmos e em que queremos continuar a fazer a caminhada. No nosso caso, na Igreja diocesana.

Tags Religião

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