Rita Valadas é presidente da Cáritas Portuguesa e esteve em Viana do Castelo a propósito das Jornadas Diocesanas de Pastoral. O Notícias de Viana esteve à conversa com a responsável que acredita que a proximidade é a chave para o combate à pobreza. E, nos diferentes territórios, as soluções devem ser locais e humanizadas porque “não há nenhuma estratégia nacional que consiga resolver o problema”.
Notícias de Viana (NdV): Quais são os principais desafios que a Cáritas tem enfrentado nos últimos anos, especialmente, com a crise económica?
Rita Valadas (RV): A coisa mais preocupante é o afastamento das pessoas. Depois de uma fase com muitos problemas sociais, e tendo passado uma fase muito dura com a pandemia, as pessoas encontram, naturalmente, caminhos para sua proteção. Esquecem a vizinha e presença, afastando-se no sentido de não serem contaminadas com os problemas que aparecem.
(NdV): A crise económica tem vindo a acentuar as desigualdades sociais em Portugal? Quais as principais consequências que a Cáritas tem observado?
(RV): Todos os dias, temos novas consequências. A realidade, hoje, é que não se consegue contar como dantes.
Dantes, conseguíamos olhar para a realidade e descrever quais os problemas e os caminhos. Hoje, não temos essa visibilidade, o que torna mais difícil fazer intervenção social.
A Cáritas não tem uma varinha de condão, nem uma forma única de agir. O que faz é procurar, em cada território, as necessidades e os dons para poder encontrar melhor casamento entre a correção dos problemas
(NdV): Quais são as populações mais vulneráveis que a Cáritas tem acompanhado nos últimos tempos?
(RV): Nós, não temos problemas únicos. As pessoas que moram numa aldeia sozinhas têm um problema de solidão em que nenhum problema económico se torna mais importante. Ou seja, estar sozinho, não significa estar numa situação de pobreza económica porque podem ter um terreno e animais e conseguir resolver a sua situação. Mas, estão sozinhos. Portanto, qualquer problema pessoal, interior e exterior não tem feedback.
O isolamento, que é transversal a todas as pessoas, neste momento, faz com que seja muito difícil encontrar soluções que sejam resolvidas por varinhas de condão. Aliás, até os estudos são difíceis. Como podemos fazer um estudo num território em que as pessoas sofrem de maneira diferente e encontramos soluções diferentes? Na verdade, não posso dizer que aquilo que se vive numa aldeia de Trás-os-Montes é igual a uma aldeia do Alentejo. E, nas cidades, a mesma coisa.
Antes, as pessoas sem-abrigo viviam, essencialmente, nas grandes cidades. Hoje, não. Hoje, vemos pessoas sem-abrigo nas aldeias do interior porque procuram soluções e encontram sítios em que não são, na primeira fase, muito perseguidos, porque são quase transparentes.
Torne-se assinante e tenha o poder da informação do seu lado.
Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.
Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.