Partiu em 6 de setembro para o Pai o meu amigo Pe. José Brito Alves.
Conheci o Pe. Zé ainda menino, como eu, porque tendo por referência o Extremo, eu fui nado e criado na Portela, na vertente para Monção, e ele na vertente para os Arcos de Valdevez, nas terras de Mei.
A primeira memória era das viagens para Braga, no regresso de férias, em que eu e os outros seminaristas de Monção, que ficavam nas proximidades da estrada 101, viajávamos na carreira da automotora de Braga, logo pelas sete da manhã. Na Ervideira entrava não o José Brito, mas o Pe. José de Eiras, seu padrinho. Fato preto, chapéu e cabeção, era rigor na época. Depois mais abaixo, já por alturas da Áspera, entrava o Zé Brito, que tinha lugar junto do padrinho, a quem pedia a bênção e recebia já o bilhete pago.Depois crescemos juntos até ao 4º ano, separados por divisões e no 5º por edifício. Quando cheguei a Filosofia, em Santiago, o Zé era já filósofo feito, mais velho dois anos no curso, ele finalista e eu principiante. Quando cheguei a Teologia, o Zé andava no terceiro ano. Terminou o curso, ordenou-se em Fátima e de seguida foi nomeado para Cossourado e Linhares, em Paredes de Coura. Passaram dois anos e, em 1969, eu vim para Bico e Vascões, no mesmo Arciprestado.
Passámos a encontrar-nos nas reuniões, nos serviços religiosos, eu ia pregar a S. Bento e ele vinha às minhas Paróquias, até porque aproveitava e, na sua Vespa e depois no Carocha, ia visitar a mãe a Mei, descendo em Lamas, por Barreirós.
Vivia pobremente, no casarão de Cossourado.
Começou a dar umas aulas na Telescola de S. Martinho.
Em 1975, depois da revolução, as más-línguas falaram de problemas políticos. Eu julgo que foi a convite do Mons. Constantino Caldas, que então estava em Bridgeport, nos Estados Unidos da América do Norte, para onde o Pe. José Brito Alves emigrou, nessa data.
Vinha religiosamente a Portugal, ao princípio de dois em dois anos, depois todos os anos.
Viajava até Lisboa desde Boston, pegava o expresso, dormia em Fátima, aí estava três dias, rumava a Braga, onde alugava carro, depois do seu velho Volkswagen já ter dado o berro, tendo ficado ao cuidado do Pe. Marques de Arão, Valença, de saudosa memória.
Era visita da minha casa e pelo menos uma vez para larga cavaqueira ou, se fosse horas disso, para o almoço.
Depois regressou em 1919, definitivamente.
Reservado que era, estava hospedado em pensão, quando os colegas da comunidade dos Arcos de Valdevez o acolheram na sua companhia. Bem hajam por isso.
Em outubro de 2019 veio ao encerramento da missão que realizei em Bico, Cristelo e Vascões com os Padres Passionistas e, no convívio, foi abordado por D Anacleto, de saudosa memória, para tomar conta de duas Paróquias confiadas ao Pe. Joel, já que este viria para Paredes de Coura, substituir o Pe. Meira.
Aceitou temporaneamente. Depois de deixar as Paróquias, continuou na comunidade a ajudar em tantos serviços e celebrações, dada a penúria de clero.
A doença bateu à porta. Optaram, e bem, porque teve mais qualidade de vida, por não o operar.
Visitei-o e encontrei-o várias vezes.
A última foi no Lar de Guilhadeses, há três semanas atrás. Já quase não nos reconheceu: eu, o Pe. Alberto e o Pe. Gama Nogueira, aí em visita pela mão do Pe. Bruno.
Surpreendeu-me a notícia, em seis de setembro, do seu passamento.
Estive na celebração nos Arcos de Valdevez, em sete de setembro e ouvi o sentido comunicado nas palavras do Pe. Aventino, que fez eco do que veio da América, onde foi Pároco, o Pe. Brito, 44 anos. Carinho, saudade, admiração, prece – eis o resumo da sentida mensagem vinda do outro lado do Atlântico.
Depois fui a Mei dizer o último adeus.
Amigo, descansa em paz. Deixaste saudade, recordação, bom exemplo. Rezo por ti e pelos outros que já foram. Junto do Pai, lembra-te do nosso presbitério.
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