In Memoriam: Padre Armandino Vilaça de Almeida

Conheci-o nos bancos do Seminário. Era discreto, calado, direi até ensimesmado, e porque um pouco mais velho na carreira académica, imprimia um ar de respeito. Ordenou-se e veio para terras que, naquele tempo, eram consideradas de castigo, mas de gente aberta, franca e amiga.  Refiro-me a Campos, em Cerveira.Vim também eu, depois de ordenado, para […]

Notícias de Viana
18 Jun. 2021 3 mins
In Memoriam: Padre Armandino Vilaça de Almeida

Conheci-o nos bancos do Seminário.

Era discreto, calado, direi até ensimesmado, e porque um pouco mais velho na carreira académica, imprimia um ar de respeito.

Ordenou-se e veio para terras que, naquele tempo, eram consideradas de castigo, mas de gente aberta, franca e amiga. 

Refiro-me a Campos, em Cerveira.Vim também eu, depois de ordenado, para terras de igual fama no meio eclesiástico, mas afinal o castigo para mim durou até hoje, porque por cá fiquei e acabarei os meus dias, se nada houver em contrário… O boato era falso!

Cruzei-me com o Pe. Armandino não tanto em Campos, mas em Covas, em Estorãos e nas Argas.

Na minha qualidade, então de Promotor Diocesano do Apostolado da Oração, em tríduos frequentes e outros atos festivos, o Armandino, com delicadeza, pedia se podia ir lá…

Era uma delicadeza quase acanhada!

De há uns tempos a esta parte, desde que em Ponte de Lima havia um lugar de “Encontro” para recoleções mensais, cruzava-me mensalmente e almoçava com o Pe. Armandino e mais uma dezena e meia de colegas. Eram, e serão, para os que estiverem depois da pandemia, bons momentos, umas boas manhãs de refresco sacerdotal, esses encontros.A morte do Armandino não nos separou. Ele está a morar no andar de cima e nós ainda estamos por cá, até que subamos para esse andar.

Sabíamos o Pe. Armandino doente do foro oncológico, mas foi uma simples apneia de sono noturna que colocou o Pe. Armandino no andar de cima. Assim sofreu menos.

O falecido era um homem de pobreza quase espartana. Viveu pobre, num casarão em Estorãos. No arranjo da sua igreja, disse-me ter despendido as suas economias pessoais, chegando a mendigar, para ajuda, parte da renúncia diocesana da Quaresma, que julgo não ter conseguido, dadas outras prioridades.

Não falei mais com ele desse assunto, depois duma longínqua conversa de há uns anos atrás.

Silencioso, partilhava pouco as suas coisas.

Ouvia mais.

CHOCOU-ME A SUA PARTIDA 

NÃO APETECE NADA, EM DIA DE ANIVERSÁRIO NATALÍCIO, IR A UM FUNERAL

Mas era o funeral do Armandino, e não podia faltar. Era um colega, era um amigo.Lá estive com trinta sacerdotes, em Campos, seu primeiro amor de Paróquia e porque um irmão seu ali vive e constituiu família, ali estão sepultados os pais, ali quis ser sepultado.

Fui com os restos mortais à última morada.

Sei que posso rezar em qualquer parte, mas ali passo muitas vezes, por razões pessoais, e não deixarei de fazer o desvio para conversar com o Patrão da casa eterna, do andar de cima, para que tenha em bom lugar o Pe. Armandino.Descansa em paz, amigo, deixaste boa memória, bom exemplo e amizade.

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