Futsal, a modalidade que ainda tem muito a evoluir

“Não se trata apenas de ganhar e perder, ou de ser melhor, ou pior” é assim que se apresenta o clube de futsal mais antigo da cidade de Viana do Castelo, Santa Luzia FC, que assenta em valores como a responsabilidade, o respeito, a disciplina, a tolerância e o espírito de equipa.

Notícias de Viana
21 Abr. 2023 6 mins
Futsal, a modalidade que ainda tem muito a evoluir

Em Portugal, segundo os números revelados, em dezembro de 2022, pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), “já são mais de 13 mil mulheres a praticar futebol ou futsal federado”. Para estes números está a contribuir o crescimento nas camadas jovens, nomeadamente, nas sub-13 e sub-15, que viram o número ser reforçado em 570 praticantes, passando de 8.117 para um total de 8.967. E, de acordo com a FPF, “esta evolução foi decisiva” para terem sido criadas mais competições, nomeadamente, de clubes e de seleções: as sub-18 no futebol, bem como as sub-15 e sub-17 no futsal.

“A nossa tendência é comparar o incomparável” 

Para além deste crescimento, há um outro dado que está a “desconstruir estereótipos” de que “as mulheres não jogam tão bem como os homens” e que “o futebol ou futsal é só para homens”. Uma mulher que jogue à bola já não está ‘condenada’ a ser vista como ‘Mariarapaz’. “Hoje em dia, já não existe a visão de parentalidade e machismo. Antigamente, éramos Marias-rapaz, mas a própria família gosta de ver as suas meninas a jogar à bola ou outra modalidade qualquer”, assegurou Ana Azevedo, defendendo que, “acima de tudo, o desporto faz bem, principalmente, àquela criança que está a começar a formar-se e, se o fizer num bom clube, será uma melhor atleta e mulher.” “A nossa tendência é comparar o incomparável. Haverá sempre discrepâncias e futsal masculino será sempre superior. É normal. A nós, cabe-nos lutar por aquilo que é nosso. Cada vez mais, há competições para nos tornar melhores profissionais”, acrescentou. 

Maria, de 28 anos, tem “mais de dez anos no futsal” e partilha da mesma opinião, defendendo que, embora não sejam profissionais, a equipa funciona como tal. “Quando vimos treinar, vimos com seriedade e o que eu sinto aqui, acima de tudo, é que existe respeito e compromisso”, frisou, concluindo: “Vai sempre haver pessoas a pensar que jogar à bola não é para mulheres, mas temos provado que jogamos tão bem como os homens.” 

Ana Azevedo, como grande parte das atletas, trabalha e é, neste sentido, que defende que a evolução do futsal passa pelas coletividades. “Não é uma mobilidade profissional porque, muitas de nós trabalham e, só no final, é que vimos treinar, mas, a partir do momento que reunamos boas condições, não vejo porque não evoluir”, referiu, especificando: “Quando falo em boas condições, falo das estruturas técnicas e médicas. Isso é importante para os atletas, mais ainda para quem vem do trabalho treinar. Além disso, um clube que se apresente nestas condições acaba por ser melhor.” 

“A pouco e pouco, o futsal tem evoluído” 

A praticar futsal “há mais de 20 anos”, Ana Azevedo de 36 anos começou no futebol de salão, mas foi no futsal que encontrou a sua “grande paixão”, que suspeita ter vindo já da barriga da sua mãe. “A modalidade tem evoluído sempre para melhor. Lembro-me que, quando comecei, era distrital. Havia uma taça nacional. Nem era campeonato. Mesmo a própria seleção, só em 2010 é que a reativaram com competições a nível internacional”, salientou, especificando: “A pouco e pouco, o futsal tem evoluído e a prova disso é a criação do campeonato nacional, taça da Liga, taça da Europa, campeonato da Europa e futuramente campeonato do mundo.” 

Já Maria, tem “mais de dez anos no futsal”. Praticava natação, mas uma participação numa atividade no desporto escolar levou-a a descobrir a sua “paixão” pelo futsal. “Andava no liceu e um professor de Monserrate viu-me e levou-me para a sua equipa. A partir daí, comecei a praticar futsal”, contou. 

“Desde o primeiro ao último segundo, o futsal é diferente do futebol” 

É no pavilhão do Seminário Diocesano que se ouve o chiar das sapatilhas e o eco das conversas entre as atletas e os gritos que o jogo exige. 

Nas bancadas, há quem ainda assista aos treinos, mas é dentro das quatro linhas que a magia acontece, comandada pelo treinador António Fonseca, de 50 anos. “Sempre gostei muito de desporto. Estive muitos anos ligado ao futebol de 11 e, mais tarde, desafiaram- -me para fazer uns treinos de futsal e o bichinho puxou-me. Fiz formações e nunca mais parei”, contou, explicando que começou no futsal feminino, passou pelo masculino e, recentemente, voltou ao feminino. “Desde o primeiro ao último segundo, o futsal é diferente do futebol. Podemos mexer, enquanto, no futebol, consegue-se controlar um jogo com o resultado 2-0. No futsal, até ao último segundo, perdendo por dois ou três golos, podemos mudar as coisas, exigindo que estejamos mais ativos e em constante pensamento do que se pode ou não alterar”, disse. 

O treinador confidenciou ainda o “prazer” que lhe dá preparar os treinos, reconhecendo “a exigência” de a equipa estar na primeira divisão, que “é o topo do futsal feminino” como é a Liga para o futsal masculino. “Cada jogo é um jogo. Não há jogos iguais. Por vezes, prepara-se uma coisa, em que dois ou três minutos, tem de se alterar porque nem tudo corre como tínhamos previsto. Ou seja, temos de alterar as situações e optar pela melhor solução para ultrapassarmos os adversários”, explicou, defendendo: “Também devíamos ter melhores condições e outro tipo de apoios porque, na sua maioria, somos amadores. Embora queiram fazer desta divisão mais profissional, ainda estamos longe disso.” 

Em termos de jogo, de acordo com António Fonseca, também existem diferenças entre o futsal masculino e feminino: na intensidade e na força. “Apesar disso, há muita qualidade técnica no futsal feminino, como há no masculino. Já a nível de condições, o futsal masculino está um pouco mais adiantado porque há mais apoios e equipas mais próximas, enquanto o feminino ainda está longe disso”, atirou, reforçando a necessidade de mais apoios monetários. “Os clubes, por exemplo, não têm pavilhões próprios”, exemplificou, especificando: “Nós nem treinamos no campo em que jogamos, o que exige criar condições, mas não é possível viver do futsal.”

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