Francisco Prieto: “Temos de evitar que essa massificação destrua o sentido do que é o Caminho de Santiago”

O Arcebispo de Santiago de Compostela (Espanha), Francisco Prieto, apelou para que as administrações civis e públicas, cada uma com as suas responsabilidades, evite “perder a essência e o significado” do Caminho de Santiago de Compostela.

Micaela Barbosa
11 Dez. 2023 3 mins
Francisco Prieto: “Temos de evitar que essa massificação destrua o sentido do que é o Caminho de Santiago”

Para Francisco Prieto, a importância dos Caminhos de Santiago recai sobre cada trilho que conduz os peregrinos à cidade que conserva, na sua Catedral, o túmulo e a memória de Santiago. “Fazer o caminho é fazer a própria vida do homem. As razões que levam alguém a fazê-lo parte de diferentes motivações, sobretudo de uma procura de algo que, sem dúvida, abre um horizonte de transcendência”, considerou, recordando uma expressão de Dom Quixote, na obra universal de Miguel de Cervantes: “Na vida, é melhor uma estrada que uma pousada. Ou seja, no sentido de que temos de estar sempre em busca.”

O Arcebispo enalteceu “a experiência de humanidade” que se sente naquele lugar aquando da chegada dos peregrinos. “Os Caminhos de Santiago são uma oportunidade extraordinária para continuarmos a aprofundar quem somos, como humanidade”, sublinhou.

Crentes e não crentes percorrem os Caminhos em busca de uma espiritualidade fora das paredes da igreja. A natureza é um ponto em comum. “Para o crente, a natureza é obra de Deus, que pede para ser respeitada, cuidada e conservada por todos. Em qualquer parte do Caminho, somos chamados a preservar, porque fazemos parte da natureza”, alertou, acrescentando: “Um crente verá a mão de Deus nisso, mas toda a humanidade tem de ver uma natureza na qual temos de aprender a viver juntos e a respeitarmo-nos, pensado nas gerações futuras.”

Francisco Prieto lembrou ainda as palavras do Papa Francisco na Encíclica «Laudato Si’», em que apela à responsabilidade de todos, enquanto humanidade, para zelar por este planeta. “A natureza é um espaço de convivência onde todos. Temos de garantir que continue a ser a casa comum de toda a humanidade”, frisou.

Questionado sobre a possibilidade de os Caminhos de Santiago se tornarem um negócio, o Arcebispo não deixa de defender a preservação de todos os trilhos que compõem o Caminho, uma vez que “o seu melhoramento é um fator de desenvolvimento”, mas “não se pode esquecer a experiência humana e a fé” que ali se vivem. “Temos de evitar que essa massificação destrua o sentido do que é o Caminho de Santiago. Creio que, fundamentalmente, é um caminho de espiritualidade e de humanidade, com outros fatores que beneficiam aqueles lugares por onde passa, mas não percamos de vista o fundamental”, declarou, admitindo que, nesse aspeto, “a Igreja tem uma responsabilidade importante”.

Nos últimos anos, o Caminho de Santiago tem tido um forte crescimento no número de peregrinos, com o caminho francês a liderar e com Portugal em segundo lugar. “Nestes últimos anos, o Caminho Português da Costa já representa quase 40% dos peregrinos”, indicou.

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