Festas e romarias do Alto Minho em tempo de pandemia

O verão marca um tempo especial no Alto Minho, com festas e romarias, a marcar o ritmo das comunidades. Mesmo que ainda debaixo das regras de segurança, ditadas pelas exigências de saúde, em que o distanciamento social impera, procuram-se soluções alternativas para marcar as datas em que se reencontravam amigos e conhecidos. Que significam as festas? Como foram vividas? São duas das perguntas às quais o Notícias de Viana procurou resposta junto dos responsáveis por algumas das festividades.

Notícias de Viana
9 Set. 2021 7 mins
Festas e romarias do Alto Minho em tempo de pandemia

Romaria de Nossa Senhora da Peneda [Arciprestado de Arcos de Valdevez]

Local que recebeu, ao longo da sua história, peregrinos notáveis como São Bartolomeu dos Mártires, o Santuário da Peneda que, no ano passado comemorou 800 anos de culto, recebeu a Romaria de Nossa Senhora da Peneda entre os dias 1 e 8 de setembro, que alberga, conforme explicou o Pe. César Maciel, “duas dimensões: o religioso e o popular, que se conjugam perfeitamente”.

“Trata-se de uma festa espontânea, sem qualquer tipo de organização, em que as pessoas cantam, tocam as concertinas e dançam, num tempo sem Covid-19”, afirmou ainda, referindo que é visível um acréscimo de afluência ao Santuário, nomeadamente por parte de portugueses, com “as pessoas a permanecerem mais tempo”.

Festas de Nossa Senhora da Lapa [Arciprestado de Arcos de Valdevez]

Retomadas em 2009, as Festas de Nossa Senhora da Lapa, cujo culto se implantou em 1758, são, hoje, as Festas do Concelho, sempre realizadas no segundo fim-de-semana de agosto, retomando “a grande devoção mariana do Alto-Minho” e contribuindo para o “reencontro das comunidades que estão na emigração”, segundo contou o Pe. Aventino Freitas. 

Num ano em que as festas foram vividas “acima de tudo num recordar e centradas na celebração da Eucaristia, no dia 8 de agosto, que correu bem, apesar das limitações”, o Pároco assinalou uma maior afluência do que no ano anterior, mas, igualmente, o desejo de que “a pandemia marque um maior cuidado na organização das festividades”.

Romaria de São João d’Arga [Arciprestado de Caminha]

A Romaria de S. João d´Arga, classificada há um ano como uma das 7 maravilhas da cultura popular, decorre num lugar afastado dos grandes centros, convocando quem lá se dirige para um clima quer de rigor e silêncio, característico da serra que envolve o Santuário, quer de ancestralidade, pelas tradições e simplicidade dos costumes. 

Este ano, a Romaria, sempre celebrada no dia do Martírio de S. João, foi vivida unicamente através da celebração de duas Eucaristias, nos dias 28 e 29 de agosto, invocando todos os injustiçados e esquecidos da história, “tal qual S. João às mãos de Herodes, vítima das lutas de poder que levaram à sua morte”, conforme afirmou o Pe. Paulo Emanuel, “em especial, a partir do convite do Papa Francisco na Fratelli Tutti”.

Romaria de Nossa Senhora da Bonança [Arciprestado de Caminha]

“São a expressão do amor de todas as pessoas e dos pecadores, em particular, para com a mãe do céu”. É deste modo que o Pe. Valdemar Fernandes explica o significado da Romaria de Nossa Senhora da Bonança deixando claro que sente que “estamos a viver uma fase em que esse amor se exprime de forma ainda mais forte”. 

A Romaria, que se prepara através de uma novena constituída pela oração do terço e da celebração da Eucaristia, é marcada, este ano, por uma “a oração do terço com velas na mão”, na quinta-feira de noite, dia em que, habitualmente, se fazia a procissão ao mar. 

Ainda sobre a devoção à Senhora da Bonança, o Pároco da comunidade destacou o interesse dos turistas, salientando, da mesma forma, o quão “impressionante é passar muitíssima gente pela capela durante o verão”.

Romaria de Nossa Senhora d’Agonia [Arciprestado de Viana do Castelo]

Com a sua capela voltada para o cais, de onde os pescadores saíam e entravam ao longo dos seus dias de trabalho, e com vista para os lugares onde os seus familiares os aguardavam, o Santuário da Senhora da Agonia é o epicentro da Romaria das Romarias. “Apesar de estarmos mais limitados, não deixamos de viver a Romaria. As circunstâncias não o permitem, mas vivemos como podemos”, afirmou o Pe. Vasco Gonçalves falando sobre a vivência deste ano que, ainda assim, contou com uma programação “mais aberta”, de que se destaca a celebração da Eucaristia nos dias 20 e 22 de agosto. 

Festa Nossa Senhora da Boa Morte [Arciprestado de Ponte de Lima]

Nascida “a pouco e pouco”, com explicou o Pe. José Vilar, a Festa de Nossa Senhora da Boa Morte “é hoje uma das grandes romarias de Ponte de Lima e do Minho”, que decorrem no Santuário da mesma invocação, em Correlhã, que oferece um “panorama campestre da mais poética e emocionante perspetiva”.

“Nos tempos de pandemia, as celebrações festivas reduziram-se ao mínimo… apenas com as celebrações religiosas exteriores, andores expostos no Santuário, sem desfile de mordomos(as) e Comissão de Festas, nem “majestosa procissão” e sermões a condizer. Mas o miolo da festa – religiosa e de convívio – manteve, reunindo amigos e famílias, além de forasteiros ocasionais”, explicou ao Notícias de Viana, exprimindo ainda o desejo de retomar as festividades, dentro em breve, “de forma empenhada e equilibrada”. 

Festa em Honra à Virgem das Dores [Arciprestado de Monção]

Em Monção, a Festa em Honra à Virgem das Dores é a festa do Concelho, congregando na vila do Alto-Minho um número significativo de fiéis, motivados pelas promessas feitas.

Este ano, a festa foi vivida “sobretudo com a celebração litúrgica”, sendo que o essencial, conforme garantiu o Pe. Salvador Fernandes “foi feito, com o tríduo e as pregações”. “A festa começou dia 12 de agosto e prolongou-se até ao dia 16, dia dedicado ao emigrante, sendo que este ano senti, apesar de tudo, uma abertura maior”, destacou.

Festas de Nossa Senhora do Livramento [Arciprestado de Paredes de Coura]

Entre 1961 e 1974, as famílias portuguesas sentiram os dramas da guerra colonial. Foi neste contexto que a angústia e a incerteza quer de pais e avós, quer de esposas e namoradas, deu um sentido particular à devoção a Nossa Senhora do Livramento, num tempo em que a ida para o ultramar colocava em causa o futuro da grande parte dos jovens portugueses.

Desde então as festas têm-se mantido, hoje congregando, também, as comunidades que vivem além-fronteiras, e que no verão regressam à sua terra natal. Este ano, reduzidas à celebração da Eucaristia, “num espaço amplo anexo à igreja”, conforme explicou o Pe. Manuel Alberto, pôde, ainda assim, ser registada uma maior afluência de fiéis.

Festas de S. Sebastião [Arciprestado de Vila Nova de Cerveira]

Com uma capela erigida em sua honra na zona envolvente do castelo de Vila Nova de Cerveira, perto do Rio Minho e, assim também, das encruzilhadas bélicas entre portugueses e espanhóis, a figura de S. Sebastião é o centro das Festas Concelhias. “S. Sebastião foi sempre chamado para a defesa da pátria e ainda hoje é invocado, para interceder, contra a peste e a fome”, refere o Pe. Jorge Esteves.

Durante este tempo de pandemia, as festividades foram reduzidas “ao essencial”, com a celebração da Eucaristia. “Curiosamente a do ano passado foi presidida pelo saudoso Dom Anacleto, que decidiu surpreender os cerveirenses com a sua presença e o seu afeto”, conclui o presbítero. 

Festa de Nossa Senhor da Orada [Arciprestado de Melgaço]

As festas em honra de Nossa Senhora da Orada acontecem na quinta-feira da Ascensão, que também é o feriado municipal em Melgaço, uma devoção que, segundo o Pe. Arcélio Sousa, “terá começado em tempos de peste, com um pedido de proteção à Senhora da Orada, quer pela população de Melgaço, quer de concelhos vizinhos”, e onde se destaca tradicional canto das ladainhas nos três dias anteriores ao dia da festa, a procissão de Velas da Capela da Senhora da Orada até à igreja matriz e a celebração da Eucaristia na mesma igreja, no dia da Festa e regresso, em procissão à capela, sendo a imagem é transportada em carro dos Bombeiros.

Este ano houve, unicamente, a celebração festiva da Eucaristia, no dia, e a procissão da imagem entre a capela e a igreja matriz, apenas acompanhada pelos Bombeiros.

Fotografia: Rui Carvalho

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