O resultado do processo de auscultação registou o sentimento de que existe uma “Igreja cristalizada, na qual se caminha por obrigação” e que “urge ‘humanizar’ a Igreja, aproximando-a da vida concreta das pessoas, acolhendo-as, sobretudo das que se encontram à margem da vida eclesial, e ajudando-as a percecionar o Evangelho a partir das suas circunstâncias”. Uma representação demasiado hierárquica e cooperativa da Igreja, assim como grupos e movimentos fechados em torno de si próprios, foram outras das conclusões apresentadas.
Sublinharam-se, ainda, “os entraves existentes à participação plena de algumas pessoas nas celebrações e serviços da pastoral”, assim como “o papel, meramente passivo, atribuído à generalidade dos fiéis”, “horários das celebrações desadequados à realidade” e Eucaristias pouco atrativas, por vezes melancólicas, em que não existe um verdadeiro acolhimento.
Do resultado da escuta sinodal houve, também, o lamento pela “existência de uma certa ‘viciação’ de alguns cargos e respetivos grupos em torno das pessoas escolhidas”, as “inúmeras dificuldades sentidas no funcionamento dos órgãos sinodais”, tal como os obstáculos, os tabus e preconceitos que existem em processos de participação e corresponsabilidade no âmbito eclesial, ressaltando-se tanto o “ reconhecimento de iliteracia evangélica”, com a “necessidade de abrir espaços de diálogo entre as comunidades e os órgãos/estruturas da Igreja local: diversificando-se os intervenientes; provocando-se momentos sinodais de reflexão, de modo a gerar uma comunidade que se pensa, critica e cresce em conjunto”.
Na sua intervenção, posterior à apresentação dos resultados, D. João Lavrador agradeceu a participação das comunidades e referiu-se ao sínodo como “hora de graça para a Igreja”, na “sequência de várias décadas de receção” do Concílio Vaticano II. O Bispo de Viana do Castelo afirmou que o “primeiro desafio diz respeito a reconhecer e promover a comunidade cristã como Povo de Deus”, enquanto povo chamado não só “a ser fermento do Evangelho”, como “desafiado a escutar a sociedade e a cultura envolvente”, tendo em vista a “renovação da comunidade cristã”.
“Afetados por uma longa história eclesiológica que não teve em conta uma comunidade verdadeiramente articulada em ministérios, serviços e carismas, e por uma acentuação clerical que, tanto da parte do clero como dos leigos, teima em não ceder à conceção da Igreja povo de Deus, estamos prisioneiros de uma realidade eclesial que já não corresponde aos tempos em que vivemos, e que exige de nós um redobrado esforço de transformação”, confessou, deixando claro que existe a necessidade de uma reforma no modo de pensar e ser Igreja.
“Teremos de renovar esforços na promoção de vocações sacerdotais, religiosas e de consagração; urge preparar e dignificar o Sacramento do Matrimónio e acompanhar as famílias; exige-se uma atenção privilegiada à atuação do Espírito Santo que concede à comunidade cristã dinamismos evangelizadores que devem ser acolhidos e acompanhados. Refiro-me aos movimentos apostólicos”, referiu, apontando, ainda, o diaconado permanente e a instituição do ministério de catequista como fundamentais.
O prelado evidenciou que “sem comunidade, a ação pastoral da Igreja fica desvalorizada ou mesmo anulada” e que, por isso, “faz parte dos direitos de todos os fiéis cristãos a sua participação não apenas pessoal mas, e sobretudo, nos organismos eclesiais de comunhão”.
“Itinerário difícil, a exigir paciência e capacidade para reiniciar permanentemente, mas absolutamente necessário na renovação da Igreja e de cada comunidade cristã”, reconheceu, por fim.