Chamado ao Consultório: As vacinas causam autismo?

Maria Luís Cambão
2 Set. 2024 3 mins
Maria Cambão

Setembro está aí à porta e, para muitos, este é o mês do regresso às aulas. É muito comum as escolas pedirem aos pais o Boletim de Vacinas dos filhos, ou até, uma declaração médica que certifique que o aluno tem o Plano Nacional de Vacinação cumprido. É, também, neste contexto que surgem, muitas vezes, as campanhas “antivacinação” e, por isso, este mês, é Chamado ao Consultório para falarmos sobre este bicho-papão que são as vacinas.  

O slogan que ouvimos mais frequentemente refere-se a uma suposta relação de causalidade entre as vacinas e as perturbações do espectro do autismo. Este mito surgiu no seguimento de um estudo realizado por Andrew Wakefield e publicado na revista médica Lancet, em 1998, que sugeria uma possível associação entre a vacina tríplice viral MMR (sarampo, papeira e rubéola) e o autismo. Para que entenda do que estamos a falar, este estudo incluiu apenas 12 crianças e, destas, grande parte já tinha um diagnóstico estabelecido previamente. Para além disso, posteriormente, descobriu-se que o investigador não só manipulou os factos, como ocultou alguns resultados, estando, ainda, associado a um conflito financeiro importante, em processos contra os fabricantes de vacinas, numa luta relacionada com patentes e farmacêuticas. Nos anos seguintes, vários estudos surgiram e todos apoiaram, com maior evidência científica, a conclusão de que a vacinação com MMR não aumenta o risco de perturbações do espetro do autismo, nem está associada ao aumento de casos após a vacinação. O estudo inicial acabou por ser considerado uma fraude e retirado dos arquivos da revista. Até à data de hoje nenhum estudo demonstrou haver uma associação entre esta vacina e o autismo. 

Todas as vacinas são submetidas a vários e extensivos processos de avaliação de eficácia e segurança, até serem incluídas no Plano Nacional de Vacinação. Podem ter alguns efeitos secundários e esses devem ser sempre reportados. Habitualmente, os efeitos adversos mais comuns são limitados ao dia da toma ou ao dia seguinte e incluem uma sensação ligeira de mal-estar ou dor no local da administração.   

As vacinas são um enorme avanço da Medicina, sendo uma das principais ferramentas de prevenção e controlo de doenças infeciosas em todo o Mundo. Antes da introdução da vacinação de rotina nas crianças, doenças como a rubéola, a difteria, a poliomielite ou o sarampo eram uma importante causa de morte na infância e de incapacidade permanente. Graças à vacinação generalizada, estas doenças hoje estão erradicadas ou limitadas a casos raros. É importante que todos tenhamos em mente que a decisão de nos vacinarmos defende não só a nossa saúde, como a saúde pública, devendo, por isso, ser entendida como um direito e um dever de todos.  

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