A nova emigração do Alto-Minho por uma oportunidade garantida

Eduarda Miranda, Carolina Pires e Beatriz Rego, fazem parte da esmagadora maioria dos jovens que procura melhores condições de trabalho fora de Portugal e, mais concretamente, de Viana do Castelo. Mas, só o fazem com uma oportunidade garantida.

Notícias de Viana
16 Jun. 2023 7 mins
A nova emigração do Alto-Minho por uma oportunidade garantida

A emigração foi, para alguns dos jovens, a única forma de sair de casa dos pais. Juntando a esta realidade, há ainda um mercado de trabalho precário e enormes obstáculos para aceder à habitação. E, portanto, a emigração torna-se a única alternativa para um futuro melhor. Para as três jovens vianenses, a intenção é regressar a Portugal, mas não num futuro próximo.

A enfermeira no Reino Unido

Há três anos e meio, Eduarda partiu para o Reino Unido à procura de melhores condições de trabalho. “Em Portugal, os enfermeiros não têm um salário justo e aqui, como em outros países, somos mais valorizados”, considerou, descrevendo a experiência da emigração como “muito positiva”. “O facto de ter emigrado com amigos ajudou no processo de adaptação e, atualmente, no Reino Unido, o que não falta são pessoas na mesma situação. Ou seja, jovens que deixaram o seu país e que se aventuraram”, referiu, enaltecendo ainda a possibilidade de ir a casa (Portugal) com “alguma regularidade”. “Como é normal, sinto saudades de casa. Ter um horário tão flexível e saber que, se for preciso, existem imensos voos a ligar os dois países, deixa-me mais tranquila. É, de facto, uma mais-valia”, salientou.

A jovem de 25 anos assegurou que se sentiu “muito bem acolhida” no Reino Unido, contando que recebeu a proposta de trabalho ainda antes de terminar a licenciatura, assim como outros colegas. “Quando cheguei ao Reino Unido, tinha um português na equipa de recrutamento do hospital que nos ajudou nos primeiros meses, tanto com aspetos relacionados com o hospital, como com outras burocracias relativas ao processo de emigração. Os hospitais, aqui, estão habituados a receber emigrantes, e existem programas de integração em todos os serviços, o que torna a adaptação muito mais fácil”, disse.

O estar longe da família e amigos é a principal desvantagem que Eduarda vê na emigração, reconhecendo que, mesmo estando a trabalhar como enfermeira no seu país, não iria conseguir marcar presença em alguns momentos importantes, devido à quantidade de trabalho. “Para além das saudades da minha família e dos meus amigos, sinto falta do bom tempo e do estilo de vida, e de viver perto da praia e da comida portuguesa”, admitiu, acrescentando que algumas das vantagens da emigração são poder trabalhar na área que gosta, com um bom salário, e ter férias e folgas. “Atualmente, trabalho nos cuidados intensivos, e adoro. Mas, se amanhã me apetecer trabalhar noutra área, tenho uma facilidade de mudar de serviço que não teria em Portugal, e sinto que isso também me possibilita crescer enquanto profissional, porque é normal uma pessoa investir na sua formação quando se encontra a trabalhar em algo que gosta”, especificou.

A médica dentista em França

Carolina tem 26 anos, e está há um ano e três meses em Lille, França. Também saiu de Portugal “em busca de melhores oportunidades de trabalho”. Quando tomou a decisão de emigrar, estipulou uma data de regresso, caso as coisas corressem bem durante cinco anos. No entanto, já lhe trocaram as voltas. “Quero regressar a Portugal um dia mais tarde, mas não quero a pressão de ter de conquistar tudo em cinco anos. É uma data irrealista para quem tem muito que trabalhar e conquistar”, confidenciou.

Em Portugal, faltaram-lhe oportunidades com remuneração justa. “A nível de formação, somos fortíssimos, mas formamos em massa. Portugal é um país muito pequeno para acolher tantos jovens formados, e talvez seja por isso que as oportunidades que temos não correspondam às nossas expectativas”, considerou, descrevendo a sua experiência como “agradável, espetacular e gratificante”. No entanto, requer “alguma coragem”. “O início é sempre assustador, porque não estamos só a sair da nossa cidade. Estamos a sair do nosso país e somos ‘obrigados’ a adaptar-nos a novos costumes e a outra língua”, admitiu.

Carolina assegurou que foi “muito bem” acolhida. “Talvez por já ter a minha irmã e dois amigos aqui e por falar a língua, a minha integração tenha sido supertranquila”, disse, contando que a proposta de trabalho surgiu por intermédio da irmã, que é também médica dentista. “Antes de integrar a equipa, já conhecia algumas pessoas. E, portanto, quando comecei a trabalhar já me sentia à vontade com todos”, contou, acrescentando que os pacientes também são “muito simpáticos e até curiosos” quando percebem que não é francesa. “Posso dizer que tive sorte, porque o povo de Lille, no geral, é muito acolhedor e simpático para com os estrangeiros”, frisou.

A emigração, para a jovem vianense, é “uma experiência de crescimento interpessoal incrível” e, em Lille, há “várias oportunidades” no que toca ao tempo de lazer. “Lille está muito bem situada em relação a outras grandes cidades de França e da Europa. Podemos fazer viagens rápidas e económicas utilizando diversos meios de transporte, algo que em Portugal não é possível”, especificou, acrescentando que outra das vantagens é o salário, “mesmo tendo um custo de vida mais elevado”.

As saudades de casa, da família e das tradições, são também desvantagens apontadas por Carolina. “Sinto falta de casa, da família e dos amigos, do mar e do sol. Sinto falta das minhas antigas rotinas. A comida… que saudade da nossa gastronomia”, confidenciou, reconhecendo que “é bom estar fora, mas não há nada melhor do que estar em casa”. “Nós só damos o verdadeiro valor às coisas quando já não temos aquilo que outrora demos por certo. Não me arrependo de ter saído de Portugal, mas, se tivesse uma boa oportunidade de trabalho, voltava sem hesitar”, reiterou.

Técnica de laboratório na Alemanha

Já Beatriz, de 26 anos, partiu para a Alemanha em fevereiro por “falta de oportunidades de emprego na sua área: bioquímica. “Em Portugal, faltam melhores ordenados, mais oportunidades de emprego, e melhores condições de trabalho, especificamente na minha área”, apontou.

Na hora da partida, sentiu um aperto no coração por ter de deixar a sua família. Ao mesmo tempo, assegurou sentir “muito entusiasmo” por começar uma nova fase. “Fui quase sempre bem acolhida, mas também já tive alguns dissabores, principalmente devido à barreira linguística”, admitiu, contando que a procura de trabalho foi feita online, quando ainda estava em Portugal. “Só me mudei para cá quando foi, realmente, para começar a trabalhar. E tive muita sorte por ter surgido esta oportunidade. O meu grupo de trabalho acolheu-me muito bem, e falamos sempre em inglês. O facto de não saber falar alemão não é um problema nesse contexto”, acrescentou. Como Eduarda e Carolina, a jovem vianense sente saudades da família, dos amigos e, claro, da comida. “Uma das principais vantagens é que há muito mais oportunidades de emprego na minha área no estrangeiro, os ordenados e as condições de trabalho são melhores”, apontou, lamentando: “A principal desvantagem, é talvez, não saber falar alemão; nos serviços públicos, às vezes, torna-se complicado comunicar, mas a gente chega lá”.

Tags Economia

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