A Igreja vive um tempo único na sua história. Decorre em Roma o Sinodo dos Bispos sobre a «Sinodalidade na Vida da Igreja- Comunhão, Participação e Missão».
Após a auscultação feita em todas as dioceses e países, passou-se à chamada etapa Continental, na qual se reflectiu nas sínteses elaboradas em cada Conferência Episcopal e chegou-se a um documento final que serviu de Instrumento de Trabalho para a Assembleia que se reúne, durante este mês de Outubro, em Roma.
A temática da Sinodalidade, um novo rosto da Igreja, que assenta na sua realidade de Povo de Deus, presente na reflexão Conciliar do Vaticano II e que ficou consagrada na Constituição dogmática Lumen Gentium, quer incentivar à renovação da Igreja, fiel ao Evangelho de Jesus Cristo.
Passados cerca de sessenta anos do Concilio e com enumeras acções de recepção do mesmo, a experiência de sinodalidade, caminhar juntos, deveria ser uma realidade já alcançada e que não provocasse qualquer estranheza. Mas parece que estamos perante o contrário.
A denuncia tantas vezes feita pelo Papa Francisco de uma Igreja demasiada clerical continua a ser pertinente e ajustada à realidade das nossas comunidades cristãs.
Este Sinodo coloca-se não só na sintonia com a doutrina conciliar do Vaticano II, mas sobretudo quer manifestar, em síntese e como culmen, o que este acontecimento impar na vida da Igreja, oferece à vida das comunidades cristãs.
Acertadamente o Papa Francisco convida a reflectir a Igreja em renovação permanente e em rosto sinodal começando pela exigência da Comunhão. O mistério de Comunhão que a identifica e que nela se reflecte é o que de maior alcance se poderá descobrir a partir da renovação conciliar. Isto mesmo foi referido pelos Padres Sinodais, em 1985, no Sinodo dos Bispos a propósito dos vinte anos da clausura do Concilio Vaticano II.
Este Mistério de Comunhão que se enraiza na Trindade divina e que alimenta a vida de cada comunidade cristã é algo a descobrir e a fortalecer permanentemente. Sem a vivência deste Mistério tudo o resto fica no vazio.
O Povo de Deus formado por todos os Baptizados é chamado à participação activa de todos e de cada um segundo a sua vocação e carisma.
Eis o longo caminho que somos chamados a percorrer, deixando de lado inércias do passado e abrindo-nos à novidade que o Espirito Santo quer oferecer à Igreja. Na verdade, a evangelização, única tarefa da Igreja, só atingirá a sua finalidade quando todos e cada um dos baptizados se capacitarem de que são membros activos e participantes na comunidade cristã. Daí a terceira interpelação deste Sinodo, a missão evangelizadora da Igreja que deve ser assumida conscientemente por todos os membros do Povo de Deus.
Quando nos referimos à Igreja Povo de Deus chamado a evangelizar somos convidados a reconhecer a primordial importância da Comunidade Cristã alicerçada e alimentada na Eucaristia.
Em tempos de uma cultura individualista, a Comunidade parece estranha à vida das pessoas em geral e tantas vezes secundarizada pelos cristãos.
Tal como afirmava Santo Inácio de Antioquia, só se experimenta a riqueza de ser cristão quando participamos numa comunidade que sendo eucarística se articula em diversos carismas e serviços.
Este Sinodo dos Bispos, dada a relevância do que se pretende para a renovação da Igreja, despertou muito interesse na opinião pública que, em tantos casos, ficou tão só pelo epidérmico e naquilo que chamamos de questões fracturantes.
O Sinodo, como lugar de reflexão e de escuta do que o Espirito Santo diz à Igreja, em todos os seus membros, deve colocar-se em atitude de despojamento interior para que se dê espaço à voz de Deus que conduz a Sua Igreja.
Tal como afirma o texto da Gaudium et Spes «para levar a cabo esta missão, é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas» (GS., 4). E, continua o texto, «é, por isso, necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu carácter tantas vezes dramático» (GS., 4).
A Igreja, cada Comunidade Cristã, em todos os Baptizados, é chamada a colocar-se em atitude de discernimento, auscultando o que o Espirito Santo lhe diz em ordem á evangelização do mundo de hoje.
Neste sentido e com este alcance, o Sinodo dos Bispos que se debruça sobre a Sinodalidade, diz respeito a todos nós, em qualquer contexto em que nos situemos.
Deve merecer a nossa atenção a advertência do Concilio quando refere que «a humanidade vive hoje uma fase nova da sua história, na qual profundas e rápidas transformações se estendem progressivamente a toda a terra» (GS., 4). Na verdade, «provocadas pela inteligência e actividade criadora do homem, elas reincidem sobre o mesmo homem, sobre os seus juízos e desejos individuais e colectivos, sobre os seus modos de pensar e agir, tanto em relação às coisas como às pessoas» (GS., 4).
Conclui, então o texto conciliar dizendo que «de tal modo que podemos já falar duma verdadeira transformação social e cultural, que se reflecte também na vida religiosa» (GS., 4).
No contexto da nossa diocese, a iniciar um novo ano pastoral que abrirá para a preparação do Jubileu, que se pretende a olhar o futuro com esperança e oferecendo-lhe o Evangelho de Jesus Cristo de maneira credível por parte do Povo de Deus, exorto todos os diocesanos e eu convosco a percorrermos frutuosamente o itinerário deste Sinodo que decorrendo em Roma nos quer iluminar e incentivar a todos.
Esta é uma hora de graça para a Igreja e para o mundo de hoje.
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