Somos do tempo da Missa em latim, com um texto epistolar do Novo Testamento em latim e com outro do Evangelho também em latim. Ao Domingo, o Sacerdote explicava o que tinha lido, mas tudo continuava como grande mistério no entendimento simples do povo.
Passadas dezenas de anos, as escolas começaram a ser para todos e, sobretudo, mudaram-se os seus ingredientes. A Bíblia, desde o século XIX e particularmente depois do Concílio Vaticano II, sofreu uma reviravolta e foi traduzida para todos. As diferentes traduções chegaram ao ambiente de todos e a preço acessível. A catequese mudou e a Eucaristia passou, como Sacramento, a ser entendida por todos e a ser comentada nas conversas entre os crentes.
Mudaram-se os tempos, e com eles apareceu um maior manuseamento da Sagrada Escritura. Este conjunto de livros, Palavra de Deus, passou a ser entendida na língua de cada povo e começou a ser utilizada para tudo. Abundam as ocasiões para a oferecer em livro aos amigos e às crianças, que começaram a ser utilizadores dos textos mais propícios para a sua idade.
Houve homens e mulheres que muito contribuíram para este estado de coisas, hoje. Sobretudo alguns, dedicaram-se a esse manancial em toda a vida. Entre nós, é o caso do Professor Manuel Isidro Alves (1940-2002), que entregou a sua vida ao estudo aprofundado da Bíblia. Primeiro em Roma e depois em Jerusalém, tendo em seguida sido professor exímio dos Seminários de Braga, onde ensinou os seminaristas que então puderam entender melhor este manancial da Palavra de Deus. Este homem dedicou a vida ao estudo e ensino da Escritura e, depois de ter sido Reitor da Universidade Católica Portuguesa, entregou a sua vida a Deus e está com Deus. Os seus restos mortais encontram-se entre nós, no cemitério de Vilar de Murteda, donde era natural. O Professor Isidro (como era conhecido) foi um pioneiro da abertura da Bíblia para todos e sabia incutir nos alunos o gosto e o amor às Santas Escrituras.
Falava muito daquilo que sabia e instruía os discípulos no encanto de algo que descobriam, como o tinham feito descobrir a ele, nunca faltando a quem o questionava e a quem gostava de saber mais. Incutia o gosto por aventuras “perigosas” para alguns superiores, abrindo/desvendando este tesouro e tornando-o acessível a todos. Muitas vezes deixava os alunos “suspensos” a algumas frases que dizia e que, em particular, explicava, remetendo para autores conceituados no tempo. “Embrulhava” os pupilos no seu saber e tudo explicava a quem o procurava para saber mais. O tempo estava sempre diante e nunca o regateou a quem lho solicitava. Amava os colegas professores e não se poupava a esforços por quantos davam provas de gostar de saber mais. Abria com esmero os cofres do seu grande saber e acreditava que o futuro seria melhor para todos. Quem não gostava do “prato” não era catalogado, mas deixado em liberdade. O seu bom saber emprestou-lhe alguns dissabores.
Hoje, o ensino é diferente. A Escritura embebe todos os grandes tratados e os professores são instruídos todos no saber bíblico, quanto é necessário para a seu ramo de saber. A Escritura faz parte da vida da Igreja, particularmente na sua Liturgia, e reflete os seus ensinamentos na prática crente de forma garantida.
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