Ao longo do seu pontificado, o Papa Francisco tocou profundamente aqueles que tiveram “o privilégio” de se encontrar com ele. O testemunho de quem o conheceu de perto é uma lembrança de simplicidade, proximidade com gestos de acolhimento, palavras que desafiavam e inspiravam, e um sorriso que se tornava um símbolo do seu compromisso com a mensagem de Jesus Cristo.
“Era capaz de observar tudo e todos”
Mons. José Fernando Caldas viveu a sua primeira experiência com o Papa Francisco no dia 13 de março de 2013, data em que se viu “sair fumo branco” da chaminé da Capela Sistina, no Vaticano. “Surpreendido”, o sacerdote recorda com emoção o momento em que o novo Papa se apresentou ao mundo com um simples “boa noite”, marcado por “simpatia e um sorriso enorme nos lábios”.
Na altura, estava no Colégio Português e acompanhava o cardeal Policarpo, que participou no Conclave. Nesse mesmo dia, foi buscá-lo e teve a oportunidade de saudar o Papa porque fez questão de se despedir do cardeal à porta. “Foi muito rápido, mas aquele gesto simpático mostrou já um pouco de como seria o seu pontificado”, contou.
A 13 de maio do mesmo ano, a Conferência Episcopal Portuguesa quis consagrar o pontificado do Papa Francisco a Nossa Senhora de Fátima. Nesse sentido, o sacerdote pediu-lhe que os padres do Colégio Português pudessem participar na missa que o Papa celebraria em Santa Marta, nessa manhã. Ele acedeu ao pedido. “Após a celebração, fez uma oração pessoal e, no final, foi para a porta da capela, saudando um a um. Ficámos boquiabertos. E aí foi a primeira vez que, com tempo, o olhei nos olhos. Quis dar-lhe um abraço, mas contive-me (risos) e tive, ainda, oportunidade de lhe dizer, a pedido da minha avó, para rezar por ela, ao que ele me respondeu: ‘Diz à tua avó que o amor delas e a oração delas são o motor do mundo’”, recordou.
“Tive outras ocasiões de voltar a encontrar-me com ele durante os anos em que estive em Roma, mas uma delas aconteceu numa visita ao Dicastério Romano na Congregação para a Educação Católica”, onde visitou “cada um dos oficiais no seu local de trabalho” e, na ala geral, foi possível “dialogar, colocar questões, apresentar os seus problemas e partilhar a sua visão”.
O último “grande” encontro aconteceu em maio de 2017, uns dias antes do centenário das aparições de Fátima. Ele veio a Portugal e pediu-lhe que toda a família fosse recebida em audiência privada, e ele concedeu-a. “O Papa Francisco deixa-me três coisas: um sorriso, um olhar e uma bênção. Num encontro com a pessoa, ele sorria sempre. Tinha um olhar que nunca condenava, que não colocava ninguém de lado, e que conseguia ver, no meio da multidão, a senhora com flores amarelas. Era capaz de observar tudo e todos. Estava preocupado com os de mais longe”, acrescentou, sublinhando: “Estes 12 anos de pontificado foram uma grande bênção, porque ele mostrou-nos um Papa à maneira de Pedro e à maneira do cego, como discípulo de Jesus Cristo”.
“O sorriso não engana”
O Pe. Ricardo Correia esteve quatro anos em Roma e também lidou “várias vezes” com o Papa Francisco. Entre os vários encontros, destacou três. O primeiro foi o dia da canonização de Paulo VI, em que sentiu “a vibração que emanava do Bispo de Roma”. Outro momento marcante ocorreu quando viu uma comitiva de carros “de elevadíssima gama” passar perto do Pontifício Colégio Português, sendo surpreendido por “um carro pequeno, possivelmente um Renault 5, com o Papa Francisco a sorrir e a saudar as pessoas”.
De todos os momentos, guarda com “especial carinho” um encontro pessoal, em que lhe pediu para que rezasse por ele e pelos seus”. “Imediatamente o seu rosto se iluminou com o sorriso a que nos habituou ao longo destes anos, sorriso de alguém que sabia claramente viver a sua missão de batizado, à qual foi acrescentando camadas de coerência e dedicação”, recordou, considerando: “O seu genuíno sorriso exteriorizava a graça que o habitava interiormente, sinal evidente de alguém cujo cristianismo era
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