“Ler a Bíblia na Liturgia” foi o tema da Semana Bíblico-Litúrgica que decorreu de 25 a 27 de novembro, no Centro Pastoral Paulo VI, em Darque, e, durante a qual, os presentes foram convidados pelo Padre Pablo Lima a deixarem-se apaixonar pela Palavra de Deus! Falando da centralidade que a Palavra de Deus tem na Liturgia, citou a Constituição Sacrosanctum Concilium do Concílio Vaticano II, sobre a Sagrada Liturgia, onde é dito que o maior e principal motor da reforma litúrgica é o amor à Sagrada Escritura.
Referiu que mais de 90% da Liturgia é Sagrada Escritura, pois tudo o que se proclama na Liturgia, retirando a homilia, são textos bíblicos. As palavras da Consagração são a colagem de vários versículos dos vários evangelistas. Tudo aquilo que a Igreja faz é o anúncio da Palavra de Deus, ou seja, a Igreja existe para evangelizar e evangelizar é anunciar o evangelho. E onde encontramos o evangelho? Na Sagrada Escritura, apontou o conferencista.
Na Sagrada Liturgia e na Sagrada Escritura, nós somos também instruídos, embora a Liturgia não tenha uma função didática. A Liturgia não existe para nos instruir, mas sim para nos dar a Vida de Deus, para realizar em nós a ação de Deus. Mas a ação de Deus é pedagógica e formativa, ajuda-nos a desenvolver, por isso, a Liturgia também tem uma dimensão didática como consequência da proclamação da Palavra de Deus que nela é feita, sendo, por isso, uma abundante fonte de instrução para o povo de Deus. Na Liturgia, Deus fala ao seu povo e Cristo continua a anunciar o Evangelho; ela é a fonte onde tudo nasce e o cume, o ponto mais alto da vida cristã, como nos diz a Sacrosanctum Concilium. Razão pela qual temos à nossa disposição um instrumento riquíssimo de acesso à Palavra de Deus e que nos apresenta uma chave para a sua interpretação, que é o Lecionário utilizado nas Eucaristias, como consequência de um desejo dos padres conciliares de que se criasse na Liturgia uma disposição da Sagrada Escritura.
Para responder à questão colocada: “O que nasceu primeiro, a Bíblia ou a Liturgia?”, fomos convidados a ler a primeira carta aos Tessalonicenses, a qual S. Paulo quis que fosse lida na assembleia litúrgica. Por isso, S. Paulo ajuda a dar início à Liturgia Cristã. Podemos dizer que há uma relação umbilical entre a Bíblia e a Liturgia e que não conseguimos compreender a Escritura sem o seu húmus, sem o seu útero que lhe deu origem que foi a Celebração da Liturgia na Comunidade de Israel e depois na Igreja nascente. Foi neste contexto que os textos que hoje nós temos na Sagrada Escritura se desenvolveram, foram acolhidos e reconhecidos como Palavra de Deus. É esta a relação mútua entre a Sagrada Escritura que ilumina a Celebração da Liturgia e a Liturgia que deu o contexto, para que a Palavra de Deus continuasse a chegar e fosse reconhecida pelo Povo. Por isso, a Liturgia deu origem às Escrituras e as Escrituras deram origem à Liturgia. Para conhecermos a Bíblia temos que celebrar a Liturgia e para celebrarmos a Liturgia temos que conhecer os textos da Bíblia. Pela força do Espírito Santo, a Palavra de Deus quando é proclamada na Liturgia é de forma superior a qualquer tipo de leitura individual que façamos ou noutra qualquer ação pastoral a que possa estar associada a Palavra de Deus. Não há nenhum momento em que a Palavra de Deus tenha uma ação tão forte como na Sagrada Liturgia. De tal forma que aquilo que diz, verdadeiramente se realiza. É uma Palavra que se realiza e concretiza na Celebração da Eucaristia, que nos consola, que nos julga, que nos liberta, que nos perdoa e que nos santifica. É a sacramentalidade da Palavra, como nos fala Bento XVI na sua Exortação Apostólica Pós-Sinodal, VERBUM DOMINI, com o apelo ao carácter performativo da Palavra de Deus na ação sacramental e o aprofundamento da relação entre Palavra e Eucaristia.
O Pe. Pablo falou-nos também dos critérios litúrgicos de leitura da Bíblia, sendo o primeiro o da totalidade, ou seja, a leitura da Bíblia conforme a Liturgia nos ensina e a Igreja nos convida a fazer: ler a Sagrada Escritura por inteiro nos seus 73 livros (do Génesis ao Apocalipse). Toda a Sagrada Escritura (AT e NT) é Palavra de Deus. A Igreja, na sequência do Concílio, criou dois ciclos de leitura da Palavra de Deus: o ciclo Dominical trienal para a leitura dos três Evangelhos Sinóticos: S. Mateus; S. Marcos e S. Lucas; o Evangelho de S. João de um modo diverso é lido nos três anos em algumas Solenidades, de um modo especial na Páscoa. O ciclo Ferial (dias da semana) bienal é todo o resto da Palavra de Deus em anos pares e ímpares. O segundo critério é a união entre o AT e o NT, que pode ser percebida nos Domingos e Festas pela relação umbilical que existe entre a primeira leitura e o evangelho. Torna-se, desta forma, explícito o terceiro critério, o cumprimento messiânico, isto é, realização das profecias do AT e a plenitude da Palavra de Deus na pessoa e na Palavra de Jesus, por isso, não podemos desprezar o AT. O quarto critério são os acontecimentos da História da Salvação organizados de tal forma que nós podemos vivê-los na Celebração Litúrgica ao longo do Ano Litúrgico. Seguidamente, o Pe. Pablo apresentou-nos a distribuição da Palavra de Deus segundo S. Mateus, nos diversos tempos litúrgicos para este novo Ano Litúrgico (Ano A) que estamos a iniciar, em que o Evangelista S. Mateus nos apresenta Jesus Emanuel, Filho de Deus vivo, cumpridor das Escrituras, novo Moisés, “fundador da Igreja”.
O Pe. Nuno Ventura, por sua vez, usando da palavra na terça-feira, falou-nos de como fazer a Lectio, seguindo-se um exercício prático.
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