Sinodalidade: compromisso permanente de todos na comunidade cristã

Terminou, no final de outubro, a primeira fase do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade. Com a participação de Bispos, presbíteros, consagrados e consagradas, leigos e pessoas de outras religiões, durante várias semanas, refletiu-se, debateu-se e procurou-se encontrar caminhos de futuro para um novo rosto da Igreja. 

Notícias de Viana
9 Nov. 2023 6 mins
Sinodalidade: compromisso permanente de todos na comunidade cristã

Este acontecimento foi antecedido por uma auscultação feita a todas as Dioceses, que tiveram a possibilidade de propor o que se julga mais importante para este novo rosto das comunidades cristãs através do exercício da sinodalidade. 

Seguiu-se, por vontade do Papa Francisco, a reflexão e a abertura às propostas vindas de cada um dos cinco continentes. Deste modo, o Sínodo dos Bispos a acontecer em Roma, tem já um longo itinerário de reflexão a que todos foram chamados e que o sustenta. 

Com a palavra “sinodalidade”, reconhece-se que ela sintetiza em proposta pastoral tudo aquilo que o Concílio Vaticano II ofereceu através das suas constituições e decretos. 

Partiu-se da realidade da Igreja Povo de Deus, cujos membros são iguais em dignidade e convidados a participar corresponsavelmente na missão evangelizadora da Igreja, cada um segundo o seu carisma, vocação e ministério. 

Com a indicação de que o debate e a reflexão sinodal deveriam atender à comunhão, participação e missão, o Papa Francisco centrava a sinodalidade, caminhar em conjunto, no mistério fundamental da Igreja: ser mistério de comunhão. Enraizada na Trindade Divina, a Igreja, Povo de Deus, nutre-se da comunhão divina, vive esta mesma comunhão em comunidade que se edifica a partir da celebração da Eucaristia, expressa a alegria de viver em comunhão eclesial, e transmite ao mundo os frutos da comunhão.

Em profunda vivência de comunhão, todos e cada um dos batizados, reconhecendo-se discípulo de Jesus Cristo, sentem-se membros ativos e participativos da comunidade cristã e, por isso, assumem como critério de vida a partilha de dons e capacidades, do ser e do ter, com os seus irmãos da família que é a comunidade.

Por fim, o Papa Francisco indica que a sinodalidade, caminhar em conjunto, na vivência da comunhão e na participação ativa se orienta para a missão evangelizadora da Igreja. Daí, a Igreja Povo de Deus, na qual todos e cada um é discípulo de Jesus Cristo, se reconhecer corresponsável pela missão que lhe é entregue pelo próprio Jesus Cristo. 

Esta primeira fase do Sínodo dos Bispos, tal como aconteceu em outros anteriores, prepara uma outra, que terá lugar em outubro do próximo ano. Essa sim, já com propostas concretas a entregar ao Santo Padre para que ele as acolha de modo a oferecer à Igreja propostas e determinações que orientem os fiéis na sua prática cristã e pastoral. 

Contudo, como a sinodalidade é uma experiência que se insere na mensagem do Evangelho, que reproduz a forma de ser e de atuar das primeiras comunidades cristãs e que concretiza o que de mais profundo a doutrina conciliar nos oferece, exige uma atuação permanente na vida das comunidades cristãs. Esta aplicação deve ser constante e deve ser tida em conta desde já. 

Este debate sinodal provocou muitas expectativas, muitas reações, dentro e fora da Igreja, e mesmo alguma apreensão. 

Nem sempre se teve em conta o que se pretende com um Sínodo, quem é o verdadeiro agente de renovação, quais as atitudes a interiorizar e o compromisso que provocam. 

Este é um tempo de discernimento que terá de ser feito atendendo ao impulso do Evangelho, centrados em Jesus Cristo, e sob a ação do Espírito Santo. 

Do mesmo modo, estamos perante uma exigência de aprofundamento teológico, seguindo os ditames da Sagrada Escritura, a Tradição viva da Igreja e o Magistério, para descobrir, com seriedade e verdade, o querer de Deus para a Sua Igreja.

Igualmente, segundo a doutrina conciliar, os Sinais dos Tempos interpelam a Igreja para que, verdadeiramente interpretados, conduzam a comunidade cristã segundo a Sabedoria do Espírito Santo. 

Os participantes na aula sinodal terminaram esta primeira fase do Sínodo com uma carta ao Povo de Deus na qual exortam à escuta, atitude tão proclamada e exigida pelo Papa Francisco. 

Dizem eles que «para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar a todos, a começar pelos mais pobres». 

Esta escuta estende-se, segundo as suas palavras, aos leigos, mulheres e homens, às famílias, aos ministros ordenados, aos consagrados. Contudo, uma iniciativa com a profundidade que se requer e com o alcance que se pretende, tem de partir de uma autêntica escuta de Deus e do que o Espírito Santo oferece à Sua Igreja, Povo de Deus, que caminha na história no meio de tantas vicissitudes e ambiguidades. Sem a escuta primordial do Espírito Santo, todas as outras escutas estão sujeitas a reduzir-se a meras opiniões ou interesses humanos. 

Por isso, o Papa Francisco, na homilia da Eucaristia de encerramento desta primeira fase do Sínodo, convidava a dar prioridade ao amor a Deus que se manifesta na adoração e no serviço. Diz ele que «a adoração é a primeira resposta que podemos oferecer ao amor gratuito, ao amor surpreendente de Deus», E acrescenta que «a maravilha própria da adoração é essencial na Igreja». 

Só deste modo, em atitude de adoração, podemos libertar-nos do risco de «pensar controlar Deus, encerrar o Seu amor nos nossos esquemas, quando, pelo contrário, o Seu agir é sempre imprevisível, ultrapassa-nos e, por isso, este agir de Deus suscita a maravilha e exige a adoração». 

Ligado com a adoração, está o serviço. Como realça o Papa Francisco, «ser Igreja adoradora e Igreja do serviço, que lava os pés à humanidade ferida, acompanha o caminho dos mais frágeis, dos débeis e dos descartados, sai com ternura ao encontro dos mais pobres». 

Já na homilia da celebração da Eucaristia de abertura da caminhada sinodal, em outubro de 2021, o Papa Francisco indicava o caminho da Igreja com três verbos: encontrar, escutar e discernir. E acrescenta que «um verdadeiro encontro só pode nascer da escuta», à maneira de Jesus Cristo, isto é, escutar com o coração. 

Termina dizendo que «o Sínodo é um caminho de discernimento espiritual, de discernimento eclesial, que se faz na adoração, na oração, em contacto com a Palavra de Deus». 

Na esperança de que a preparação da segunda fase ultrapasse a sensação de algo muito genérico e pouco concreto, refletido seja na Mensagem ao Povo de Deus, seja nas propostas já apresentadas, somos todos convidados a dar expressão à vida sinodal nas nossas comunidades cristãs e desde já.

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