É num “ambiente de montanha, espiritual e religioso”, em pleno Parque Nacional da Peneda Gerês, que tudo se conjuga no Santuário da Senhora da Peneda, situado na Paróquia de Gavieira, no Arciprestado de Arcos de Valdevez, para acolher uma das grandes festas da Diocese de Viana do Castelo: a Romaria da Nossa Senhora da Peneda. Entre os dias 31 de agosto e 8 de setembro, a Romaria traz milhares de peregrinos até ao alto da montanha, entre eles, galegos. Este ano, o Bispo diocesano, D. João Lavrador, presidiu às celebrações.
“A Romaria correu bem”
No dia da celebração de encerramento, os carros faziam fila para estacionar e os táxis deixavam vários devotos à entrada do Santuário para participar na Eucaristia. Fora estes, também muitos aproveitaram para subir o escadório e visitar o Santuário.
No largo central do Santuário, José Costa “gere” os espaços comerciais, onde se incluem os edifícios e as tendas que por ali estão durante as festividades. Há 13 anos que é membro da Confraria e colabora na organização da Romaria. “Nasci cá e, por isso, vinha todos os anos até à Senhora da Peneda. Vinha com os meus pais. Mais tarde, emigrei e deixei de vir com tanta frequência”, começou por contar, salientando que o que o cativa é a história do Santuário. “De como, quando e por quem foi construído. É por isso que gosto deste Santuário”, frisou.
Infelizmente, o responsável sofreu um acidente durante a Romaria e não conseguiu participar todos os dias, mas não deixou de assegurar que o feedback das pessoas é “muito positivo”. “A Romaria correu bem. As pessoas participaram em massa, mesmo com o mau tempo”, garantiu.
“É uma festa diferente”
Do outro lado, estava Maria Marques. É de Ponte da Barca e é vendedora de doces e farturas. “Participo há 47 anos nesta Romaria. Comecei com uma tenda e hoje, tenho uma roulotte”, começou por contar, referindo as diferenças do antigamente com o presente. “As pessoas passavam a noite aqui. Vinham nas excursões e acabavam por passar a noite do dia 5 para o 6 no escadório (risos). Umas estavam mais casadas e outras dançavam pela madrugada”, recordou, referindo que, este ano, vieram “muitas” pessoas até à Romaria. “Nos últimos quase três anos, a festa não aconteceu nos moldes habituais devido à pandemia, mas as pessoas continuavam a visitar a Senhora da Peneda”, disse, salientando que gosta “muito” de vir por causa do ambiente “diferente” que se vive naquele lugar. “É uma festa diferente de muitas outras porque é organizada pelo povo”, frisou.
“É sempre bom voltar”
Já lá em cima, depois da celebração eucarística, Maria e a sua filha saíam do Santuário para apanhar boleia até Lindoso.
Com 87 anos, Maria continua a vir à Senhora da Peneda devido à sua devoção. “Desde os meus onze anos que participo e é sempre bom voltar. Não é nada como antes, mas gosto muito”, reiterou.
“A Senhora da Peneda tem um grande impacto na minha vida”
Mais à frente, estavam três devotas de Cabana Maior, também de Arcos de Valdevez. Duas delas seguravam figuras em cera para “cumprir a tradição”. Outra, veio de Paris para participar na Eucaristia. “Este ano vim mais tarde e não consegui vir todos os dias, mas, sempre que posso, venho à Romaria para dançar, mas, sobretudo, para rezar”, disse, contando que tinha 11 anos quando veio pela primeira vez ao Santuário. “A Senhora da Peneda tem um grande impacto na minha vida. Sou uma fiel católica e sempre que me dirijo a Deus peço sempre pelos outros e agradeço-Lhe pelas minhas graças”, acrescentou emocionada.
“A animação é do povo”
Os dias mais importantes da Romaria da Nossa Senhora da Peneda são os dias 5 e 6. O dia 5 é dedicado aos espanhóis e o dia 6, é o dia da festa.
A programação, que se iniciou com a Novena e terminou com a Solenidade, incluiu a bênção das concertinas e, este ano, pela primeira vez, benzeu-se as gaitas de foles, um dos instrumentos mais populares da Galiza.
O Capelão, Pe. César Maciel, contou ainda que, para além das celebrações diárias, a procissão saiu do Santuário percorrendo todo o escadório. No encerramento, a procissão não decorreu como previsto devido ao mau tempo, mas as pessoas puderam venerar a imagem de Nossa Senhora da Peneda e ainda rezaram uma oração, agradecendo-Lhe pelas suas graças.
Segundo o Capelão, a Romaria da Senhora da Peneda é “muito antiga” e é “genuinamente popular”. “Só são organizadas as celebrações litúrgicas. Tudo o resto é espontâneo. A animação é do povo”, explicou, salientando que “a Romaria tem todos os benefícios que se podem desejar desde o património arquitetónico, espiritual, religioso e ambiental”.
Este ano, o balanço é “positivo pela participação e pela forma como foi vivida por todos”. “Não tivemos a afluência esperada devido à chuva, mas não deixou de se fazer Romaria”, afirmou o Pe. César, salientando o significado que a Nossa Senhora da Peneda tem na vida de cada romeiro. “O impacto é pessoal para quem participa na Romaria, em que aparecem muitos romeiros que, no seu conjunto, procuram viver ou experimentar as diferentes manifestações da romaria e da religiosidade popular e, ao mesmo tempo, da fé da Igreja”, reiterou.
No final da Romaria, é feita uma avaliação. “É preciso perceber o que correu menos bem, procurando melhorar para o ano seguinte”, explicou, acrescentando: “A Romaria da Peneda é uma Romaria tradicional na sua orgânica e, por isso, não pensamos em grandes mudanças na programação/organização para o ano. Aliás, pensamos sempre numa renovação que se vai fazendo aos poucos.”
“As pessoas sentem necessidade de vir”
Também o Arcipreste, Pe. Luciano Costa, participou na celebração de encerramento e afirmou que a Romaria, para quem vem e participa nela, é “muito marcante”. “Do que se vê, há um grupo de pessoas muito presente todos os anos porque sente necessidade de vir até cá, agradecendo a Nossa Senhora pelas suas graças”, começou por referir, confidenciando que, este ano, as pessoas voltaram a vir até à Senhora da Peneda, mas ainda em número reduzido, devido aos últimos anos de pandemia. “Depois destes tempos mais difíceis, procuramos gerir as receitas da melhor forma possível, guardando parte delas para o período de outono e inverno, que é o mais ‘fraco’ e, deste modo, garantir o cumprimento das nossas obrigações institucionais”, acrescentou, enaltecendo o apoio da Câmara Municipal de Arcos de Valdevez.
“Se nos entregarmos a Deus, algo maravilhoso vai aparecer”
Na homilia, D. João Lavrador enalteceu o nascimento de Nossa Senhora e apelou a que “o Santuário (da Peneda) seja não só diocesano, mas de todos”. “Convido-vos para um olhar contemplativo voltado para Nossa Senhora, com sentido de gratidão e de aprender”, começou por dizer, enaltecendo o mistério de Jesus Cristo. “Todas as devoções a Nossa Senhora têm que encaminhar sempre para o encontro com Jesus Cristo”, reiterou.
O Bispo diocesano relembrou ainda a missão “própria” enquanto cristãos: “Tornar presente Jesus Cristo ao mundo, encarnando-O na vida comunitária e pessoal.” “Os grandes sonhos da humanidade não prescindem da nossa colaboração”, acrescentou, afirmando: “Se nos entregarmos a Deus, algo maravilhoso vai aparecer.”
Por fim, o prelado apelou aos fiéis para não terem medo dos tempos de hoje e afirmarem o mistério da Encarnação de Jesus Cristo. “Nossa Senhora e São José ajudam-nos a não ter medo”, referiu, terminando: “Lancemo-nos com coragem a ser testemunhas de Jesus Cristo.”
A lenda
A Senhora da Peneda terá aparecido a 05 de agosto de 1220, a uma criança que guardava algumas cabras; a Senhora apareceu-lhe sob a forma de uma pomba branca e disse-lhe para pedir aos habitantes da Gavieira para edificarem naquele lugar uma ermida. A pastorinha contou aos seus pais, mas estes não deram crédito à história. No dia seguinte quando guardava as cabras no mesmo local, a Senhora voltou a aparecer, mas sob a forma da imagem que hoje existe, e mandou a criança ir ao lugar de Roussas pedir para trazerem uma mulher entrevada há 18 anos, de nome Domingas Gregório, que ao chegar perto da imagem recuperou a saúde.
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