A paisagem é verde, o som da água constante, mas o que parece intocado esconde sinais de abandono. Nas margens do rio Neiva, especialmente nas zonas interiores, entre a União das Freguesias de Barroselas e Carvoeiro e parte do concelho de Barcelos, a degradação fala mais alto que o canto dos pássaros. São terrenos esquecidos por onde o rio passa - ou tenta passar.
Apesar de estar em marcha um projeto de reabilitação que vai intervir em 10 quilómetros do rio Neiva, entre Alvarães e Castelo do Neiva, algumas das áreas onde os problemas são mais visíveis, ficaram de fora. O projeto, liderado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), tem como objetivo melhorar a qualidade ecológica do rio, recuperar margens e controlar espécies invasoras.
Raimundo Castro pertence à direção da Padela Natural, Associação Promotora, e acompanha o rio há décadas. “O rio corre-me nas veias”, afirma. Para ele, “o rio mudou muito desde o desaparecimento dos Guarda-Rios (1995)”, e quando a fiscalização passou para o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da GNR (SEPNA). “Para quem tem terrenos junto à margem, a burocracia é exigente e o pessoal acaba por não querer chatear-se com isso”, referiu, reconhecendo que também “há pouca fiscalização”. “Esta situação de abandono levou à criação de barreiras ao longo do leito do rio que, consequentemente, vieram a provocar algumas alterações na sua morfologia”, lamentou.
A esta realidade junta-se um problema ecológico crescente. Nos últimos 15 anos, o rio Neiva foi invadido pela Egeria densa, mais conhecida como Elódea brasileira — uma planta aquática comercializada em Portugal para aquários e lagos ornamentais, mas que, acidentalmente, entrou no Neiva, onde encontrou condições favoráveis, tornando-se “uma espécie invasora bastante agressiva e expansiva” que, segundo Raimundo Castro, está “a asfixiar o rio”. “As colónias que se fixam bloqueiam por completo o leito do rio, e criam dificuldades na progressão dos peixes”, explica, acrescentando que “árvores e seus sobrantes, tombados sobre o leito ou encurralados nas pontes, podem servir de apoio à sua fixação, provocando um maior bloqueio às águas e à fauna”. “As áreas balneares podem ficar com os espaços reduzidos devido à sua compacta expansão”, alerta.
A parte “mais crítica”, na opinião de Raimundo Castro, localiza-se precisamente na zona que não está abrangida pelo projeto: o município de Barcelos. “A Elódea começou a surgir em Balugães, e a maior concentração estende-se até Fragoso. Como este espaço da margem esquerda pertence ao concelho de Barcelos, acabaram por ser excluídas do projeto também algumas freguesias vizinhas da margem direita, pertencentes ao município de Viana do Castelo, como Barroselas e Carvoeiro”, pressupõe, questionando a decisão, uma vez que é precisamente nessas zonas que existem “mais árvores tombadas”.
Apesar de acreditar que o incentivo terá continuidade num futuro próximo, Raimundo Castro defende que “o projeto deveria ser implementado de montante para jusante, a partir de Balugães”, uma vez que “a limpeza das margens e a desobstrução do leito ajudariam a empurrar a invasora em direção ao mar”. “A falta de limpeza, de há mais de 30 anos, e a forte radicação da
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