Parcerias reforçam papel do cuidador informal na sociedade

São cerca de 1,4 milhões os cuidadores informais que dedicam os seus dias e, alguns deles, a sua vida, a cuidar de alguém. Os dados são do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, que foi criado em 2019 aquando o Estatuto, para ‘ajudar os cuidadores informais’. Em Viana do Castelo, segundo dados revelados no ciclo de capacitação Viana Cuida, existem 310 cuidadores informais com estatuto, dos quais 98 são principais e 39 são não principais.

Notícias de Viana
19 Out. 2023 6 mins
Parcerias reforçam papel do cuidador informal na sociedade

O ciclo de capacitação Viana Cuida, promovido pelo Município de Viana do Castelo, decorreu na Biblioteca Municipal pelo segundo ano, no mês de sensibilização para a importância dos cuidados paliativos e no mês em que se assinala o dia mundial da saúde mental. A iniciativa visou “debater sobre as necessidades e os desafios colocados aos cuidadores informais, refletindo-se sobre a prática para melhorar os cuidados”, e “refletir sobre o luto e as perdas na família”. 

Na sessão de abertura, Manuela Cerqueira, sub-diretora da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESS – IPVC), enalteceu a pertinência do evento e explicou a sua parceria porque “é através de um trabalho em rede e articulado que se consegue pensar global, agir local e cooperar a nível nacional e internacional”. “Estamos disponíveis para consolidar este trabalho em parceria”, reiterou.

Manuela Duarte, vogal no Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM), felicitou os participantes por dedicar uma segunda-feira para falar sobre cuidar e cuidadores. “A ULSAM está disponível, com a Academia, autarquia e a comunidade, para estas parcerias e creio que debater estes temas é inevitável porque a sociedade, em cada momento, traz novos desafios”, referiu.

Já o vereador com o pelouro da saúde, Ricardo Rego, salientou a consistência, a estratégia e as parcerias. “As instituições vivem, por vezes, de costas voltadas. Estabelecemos parcerias, mas a realidade é que, na implementação, vivemos desconectados e separados”, lamentou, enaltecendo que com a pandemia, as instituições começaram a trabalhar em conjunto para a comunidade. “Temos de ouvir a comunidade para ir de encontro às suas necessidades e, por isso, o Viana Cuida resulta de um conjunto de parcerias para debater os problemas, criando projetos com impacto e que sejam uma mais valia para a comunidade”, defendeu, mostrando-se “orgulhoso” pelos cuidados de saúde que são prestados no Alto Minho. “O Município está a trabalhar numa estratégia de recolha de dados/indicadores para criar projetos que vão de encontro a esses dados/indicadores para que se canalize recursos”, acrescentou, reiterando a importância das parcerias e da implementação de medidas.

O ciclo iniciou-se com a conferência sobre “A literacia em saúde mental e o bem-estar do cuidador informal”, seguindo-se com a mesa de discussão sob o mote “Uma visão integrada no apoio aos cuidadores informais”.

Rosinda Costa é vogal de enfermagem do Conselho Clínico e de Saúde da ULSAM e foi uma das oradoras da mesa. Apresentando a realidade vivida na ULSAM, no distrito e, mais especificamente, no concelho de Viana do Castelo, os dados mostram que existem 2808 “dependentes graves” e  310 cuidadores informais com estatuto, dos quais 98 são principais e 39 são não principais. “Os primeiros passos já foram dados, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, frisou, enaltecendo a criação do estatuto do cuidador informal. “Todos nós devemos reconhecer a real importância do papel do cuidador informal e as consequências, não acauteladas, a saúde e o bem estar biopsicossocial destas pessoas. É necessário empenho, definir e implementar estratégias neste sentido”, defendeu.

Gabriela Silva, técnica superior da Segurança Social, recordou os desafios que o estatuto de cuidador informal trouxe no terreno às oito técnicas que estão responsáveis pelo levantamento e avaliação no distrito. “A grande parte dos cuidadores cuida de uma população muito idosa. Há outra população, mas esta é a mais significativa”, apontou, contando que, durante a pandemia, notaram um desgaste nos cuidadores. “O número de cuidadores é volátil. Todos os dias parecem novos cuidadores, mas há outros que desaparecem”, referiu, defendendo o reconhecimento dos cuidadores informais na sociedade. “Precisamos desta mobilização da comunidade porque o Estado é muito limitado”, apelou.

Já Carla Faria, docente na Escola Superior de Educação do IPVC, falou das necessidades, desafios e intervenções dos cuidadores informais. “Com o estudo, percebemos que o nível de exigência está para além das capacidades dos cuidadores informais”, deu nota, evidenciando, por exemplo, que “os problemas de comportamento por parte da pessoa cuidado tinha uma associação mais forte com relatos negativos dos cuidadores do que a sua limitação física dessa pessoa”. “As consequências negativas do ato de cuidar estão muito mais dependentes de aspectos como a qualidade da relação entre o cuidador informal e a pessoa cuidada do que o número de horas por semana que se cuida e o número de anos em que se está a cuidar”, acrescentou.

Um dos outros aspetos importantes do estudo está, segundo a docente, relacionado com o género. “Esta plateia de cuidadores informais é maioritariamente feminina”, afirmou, atirando que “não há qualidade de género nos cuidados informais”. “As mulheres foram, são e, muito provavelmente, continuarão a ser as principais cuidadoras informais”, reiterou, acrescentando que “a forma como as pessoas se tornam cuidadoras informais parece ser determinante para os resultados do processo de cuidar”. “Há linhas de intervenção de linhas extremamente promissoras. E, todo o tipo de intervenções focadas em partilha e na prática de estratégia de repercussão de problemas são as que trazem maior benefício”, referiu. 

Por fim, o vereador Ricardo Rego fez uma perspectiva territorializada de apoio aos cuidadores informais, no âmbito do programa municipal de apoio aos cuidadores informais. “Este programa, em parceria com a Segurança Social e a ULSAM, visa complementar projetos, medidas e ações que estão a ser desenvolvidas quer pelo Estado, quer pelas diversas instituições e entidades locais”, salientou, acrescentando que querem “capacitar os cuidadores informais e a sociedade”, onde estão inseridos os próximos cuidadores informais. “É importante para nós implementar medidas que, de alguma forma, na população, acrescente valor a quem está neste processo”, frisou, terminando: “Queremos ser um território que cuida de todos.”

Da parte da tarde, decorreu a mesa de discussão “Refletir sobre a prática para melhorar a qualidade dos cuidados”, seguida da conferência “Perdas na família: apoiar e acompanhar as crianças e os jovens”.

O dia encerrou com uma visita à exposição “Um Novo Estado Criativo”, projeto de Arte na área de Psiquiatria e de Saúde Mental que resulta de uma parceria entre a P28 do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL) com o Instituto S. João de Deus (ISJD).

No dia seguinte, realizou-se workshops na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, dedicados ao “Luto complicado: avaliação e intervenção”, “Luto dos profissionais”, e “A esperança de doentes e familiares na transição para os cuidados em fim de vida”.

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