O verdadeiro sentido do Dia de todos os Santos

Vivemos tempos em que a aparência se sobrepõe ao significado e o barulho do mundo abafa valores. Um exemplo disso é o modo como o “Halloween” tem vindo a ocupar o lugar do Dia de todos os Santos, como se uma importação cultural pudesse apagar séculos de memória espiritual.

O Dia de todos os Santos, que durante gerações foi um tempo de oração, de recolhimento e de homenagem àqueles que viveram a fé, está a ser substituído por uma festa de máscaras e sustos, onde se celebra o medo, sendo uma inversão da luz em trevas.

Não se trata de rejeitar a alegria, nem de olhar com desdém para as brincadeiras, trata-se de perceber o que estamos a ensinar.

“Crê o que lês, ensina o que crês, vive o que ensinas.”

Quando banalizamos o horror e transformamos o medo em entretenimento, perdemos o sentido do sagrado e o respeito da vida e da morte.

O “Halloween” não celebra as almas, nem os nossos antepassados.

O Dia de Todos os Santos e o dia seguinte com a celebração dos Fiéis Defuntos é, pelo contrário, um convite ao reconhecimento de que a vida não termina no túmulo e que há uma comunhão entre os que caminham e os que já partiram, bem como a celebração da santidade anónima daqueles que sem imagem e procissões viveram no silêncio do bem, na humildade do serviço e na fé.

Importar tradições não é problema quando há respeito e sentido, mas substituir o essencial pelo superficial é um sinal de empobrecimento da sociedade. Cada país e cada povo tem a sua fé, e a nossa está enraizada na espiritualidade, na família e na memória, mas quando trocamos as velas dos cemitérios pelas máscaras de plástico, trocamos também uma herança de séculos por um espetáculo de um dia.

Em tempos de confusão e de perda de referências o verdadeiro desafio é voltar a dar sentido aos nossos valores, porque quem perde o sentido das suas festas, perde o sentido da sua própria identidade. Talvez seja essa a reflexão mais urgente, sobre a vida que vence a morte, ou a morte transformada em brincadeira.