O futuro começa na Califórnia

José Lago Gonçalves
19 Nov. 2024 4 mins
José Lago Gonçalves

No passado dia 4 de novembro, assistimos a uma clara vitória de Donald J. Trump nas eleições presidenciais americanas, ao derrotar Kamala Harris no colégio eleitoral e também no voto popular.

Após a divulgação dos resultados e da análise dos peritos, nos Estados-Unidos surgiram várias questões em torno dos derrotados da noite: qual a explicação para o declínio de votação em relação a 2020 (que elegeu Joe Biden), à cabeça e desde logo a falta de causas que mobilizassem o voto no partido democrata, e, quem se segue?

Em relação à primeira questão, muito se dirá nos próximos tempos. Em relação à segunda, não demorará tanto, uma vez que o governador da Califórnia, Gavin Newsom, assumiu um papel de oposição à presidência de Trump e anunciou logo, na quinta-feira seguinte, uma assembleia estadual para desbloqueio de fundos que permitam combater as políticas que o presidente eleito já anunciou. Mas, claramente, traz “água no bico”, a verdadeira agenda de Newsom não se prende com a oposição a Trump, mas sim com ocupar um espaço que ficou completamente vazio depois da eleição, o da nova face do partido democrata.

Embora todas as vezes que foi confrontado com a pergunta, tenha dito expressamente que não tinha qualquer interesse em candidatar-se à Casa Branca e tendo sempre defendido a recandidatura de Joe Biden e o apoio inequívoco ao atual presidente, a verdade é que Newsom deixará de ser Governador em 2026, não podendo recandidatar-se por ter atingido um limite de mandatos.

Mas, quem é realmente esta figura que sempre geriu o tema da presidência como se tratasse do maior fardo que não desejaria a ninguém, mas que, com elevada probabilidade, acabará na corrida por ela? Pois bem, se fosse um país a Califórnia seria a 5.ª economia mundial, e o seu governador há muito que tem vindo a construir um “track record” e perfil de dimensão nacional, mais especificamente, em áreas que hoje são transversais a toda a América.

As suas políticas em áreas como ambiente, justiça social, habitação e educação destacam-no como uma opção moderna e progressista, capaz de atrair tanto os eleitores tradicionais do partido como uma nova geração que exige respostas concretas para desafios do século XXI. Newsom liderou iniciativas inovadoras, como o compromisso da Califórnia com a neutralidade carbónica, que não só alavanca a sustentabilidade ambiental, mas também incentiva o desenvolvimento de tecnologias verdes, que são cada vez mais fundamentais para a economia americana.

Além disso, a sua abordagem para enfrentar a crise de habitação e de pessoas em situação de sem-abrigo tem sido vista como uma resposta pragmática e humana a um dos problemas sociais mais complexos da Califórnia. Em vez de criminalizar a pobreza, Newsom tem procurado alternativas para o realojamento e para a criação de habitação acessível, desafiando outras regiões a seguirem o mesmo caminho.

A sua defesa dos interesses do setor tecnológico, como a recente oposição a uma lei que restringia a inteligência artificial, revela a consciência sobre a importância da inovação e da competitividade dos Estados Unidos. A Califórnia, na qual estão sediadas as maiores empresas do sector, como a OpenAi, criadora do ChatGPT, com o seu ecossistema único, desempenha um papel crucial na economia global e, ao proteger as grandes empresas de tecnologia, também protege empregos e avanços tecnológicos que impactam diretamente o país,

Por último, com a Fair Pay to Play Act, uma medida impulsionada por Newsom, em 2019, e que permitiu que os atletas universitários pudessem passar a ser pagos pelos seus direito de imagem e que, provavelmente, foi uma das medidas de maior justiça social e de maior reconhecimento. Esta medida, que impulsionou um movimento nacional, permitiu que atletas jovens, muitas vezes oriundos de classes trabalhadoras, pudessem beneficiar do seu trabalho e talento sem ficarem à mercê das regras restritivas da NCAA.

Em 2028, os EUA enfrentarão um novo ciclo político e um momento de transição inevitável. A era das administrações Obama e Biden, que projetaram figuras como Hillary Clinton e Kamala Harris, poderá ceder espaço para um rosto renovado e uma visão diferente para o partido. Será Gavin Newsom, com o seu perfil progressista e experiência no estado mais populoso e economicamente poderoso do país, essa nova face?

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