O cinema como ferramenta educativa

As luzes apagam-se. O silêncio reina na sala. O necessário para começar o filme. “O cinema em Portugal, do ponto de vista da criação, está espetacular. Temos cineastas fantásticos e filmes premiados e conhecidos nacional e internacionalmente”, apontou Daniel Maciel, membro da AO NORTE – Associação de Produção e Animação Audiovisual.

Notícias de Viana
12 Mai. 2023 5 mins
O cinema como ferramenta educativa

Daniel é “apaixonado” pelo cinema e responsável pela promoção dos Encontros de Cinema de Viana, que são promovidos pela AO NORTE – Associação de Produção e Animação Audiovisual em parceria com a Câmara Municipal de Viana do Castelo. Reconhece que “Portugal não tem uma indústria de cinema como outros países”, mas enaltece “o jeito de fazer as coisas muito voltadas para a visão de artista” e que tem dado origem a um cinema “importante”. “Só tenho pena que as pessoas não tenham esta consciência, porque quem sabe, sabe que temos cinema muito bom”, lamenta.

Entre os dias 02 e 14 de maio, a Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESE-IPVC) está a acolher a 12ª Conferência Internacional de Cinema de Viana, que integra os Encontros de Cinema de Viana e visa “proporcionar um espaço comum de partilha, formação e debate, em que confluem estudantes de cinema e das escolas da região, cineclubistas de Portugal e da Galiza, e público em geral, enriquecido com a participação ativa de profissionais deste meio artístico”. “Há uma proximidade relacional (entre Viana do Castelo e Galiza), mas há uma distância institucional e legal, porque somos diferentes, mas acredito que aprender pela diferença é muito importante. E, por isso, ouvirmos o que e como se faz noutros sítios, ensina-nos também a olhar para aquilo que fazemos”, defende.

Para a mesa-redonda, em que se abordou o tema “Cinema. Educação. Comunidades”, a organização convidou Miguel Zabalza Beraza, diretor da Mostra Internacional de Cine e Educación do Ateneo de Santiago e Professor Catedrático de Didática e Organização Escolar da Universidade de Santiago de Compostela, e Ana Moreiras, membro da organização do Festival Audiovisual Escolar Olloboi e docente/formadora na área de Tecnologia e Audiovisual, para “falar sobre os caminhos trilhados pelo cinema exibido e produzido em contextos de aprendizagem”. Aqui afirmou-se que “o cinema é visto como um ato formativo” e defendeu-se que “deve ser utilizado como ferramenta educativa”, em que “o produto final é tão ou menos importante do que o processo de criação e produção”. “No cinema, sabemos as forças e os talentos que cada um tem e aprendemos a usar isso no nosso quotidiano. E, portanto, em contexto escolar, o processo é de tal forma pedagógico e enriquecedor que não interessa o produto final”, afirmou Ana Moreiras. “Nós podemos ensinar através do cinema e, portanto, é importante torná-lo parte do desenvolvimento de formação”, acrescentou Miguel Zabalza, defendendo a criação de conteúdos curriculares de formação em cinema. “É preciso que os professores aprendam cinema para depois o replicar em sala de aula e o usarem como processo de formação”, reiterou.

Daniel Maciel não poderia estar mais de acordo e felicita a criação do curso de cinema na ESE-IPVC, um passo “importante” na educação e que acompanha o que está a ser feito para se valorizar ainda mais o cinema, como o Plano Nacional de Cinema. “É quase uma urgência ter uma educação para a linguagem fílmica porque a imagem (estática e em movimento) é a forma privilegiada de comunicação que existe na nossa sociedade”, considera, acrescentando: “As redes sociais são muito voltadas para as imagens em movimento, assim como youtube e outras plataformas de streaming. Não me parece que isso vá diminuir. Aliás, a tendência é intensificar, e todas essas ferramentas de comunicação partem de um tipo de linguagem: cinematográfica. Portanto, perceber e saber como se faz cinema, é crucial para saber interpretar a realidade que nos é mostrada através da imagem.”

Segundo o responsável, o cinema oferece ainda outras valências, que vão desde a fotografia ao desenho e à música. E, mais importante ainda, princípios de conhecimento tecnológico e de organização. “Para se fazer um filme, é preciso coordenar uma equipa vasta com diferentes talentos e características. Portanto, é uma ferramenta pedagógica a vários níveis”, salienta.

Os Encontros de Cinema de Viana são abertos ao público em geral, mas, principalmente, à comunidade escolar da ESE-IPVC. Segundo Daniel, a receção está a ser “ótima”. “O que nós fazemos, em primeiro lugar, é chegar aos docentes e pedir-lhes que se envolvam e tragam os seus alunos para as atividades. Só assim conseguimos contribuir para o processo pedagógico e de trabalho dos docentes”, explica, afirmando que “o feedback perfeito é saber que as pessoas veem, sentem-se realizadas e não estão a apanhar uma seca, mas a relacionar-se com os conteúdos”. “O feedback, que tem sido importante, sente-se através da participação crescente dos alunos e da comunidade docente. São processos lentos, mas, este ano, estamos contentes, porque todos os eventos têm a participação de professores da ESE, que se envolvem individualmente e com as suas turmas”, acrescentou.

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