Ilda Novo é professora de profissão. Paralelamente, é vereadora do CDS na Câmara Municipal de Viana do Castelo. Um serviço público que aprendeu a apreciar e a valorizar como seu pai, “uma pessoa considerada, respeitada e isenta”.
Com anos de experiência, reconhece que a política exige tempo e “muito trabalho”. No entanto, sente que “nem sempre é reconhecido” devido “à falta de informação dos órgãos de comunicação locais”.
“Imputo à comunicação social local a responsabilidade pela falta de informação sobre o verdadeiro papel da oposição, que impede a população do concelho de nos julgar pelo que fazemos: quando o CDS não concorda com as prioridades ou decisões apesar de as sustentar”, justificou, frisando: “O que acontece é um permanente anúncio de planos, intenções, ações e eventos, alguns dos quais, nem são iniciativas da Câmara Municipal. E, outros são, e acho bem que o presidente esteja presente, mas a verdade é que os vereadores da oposição parecem que são transparentes.”
Aliado a esta falta de informação, segundo Ilda Novo, há ainda um receio da mudança que não existe desde as eleições de 1994, em que o PS venceu a Câmara Municipal.
Para a vereadora, “tem havido uma predominância lógica de quem está no poder” que “acaba por se implementar no concelho e transmitir a ideia de que a mudança trará impedimentos de acessos e dificuldades de continuar os apoios”. “Isto é aquilo que me parece e, portanto, continuam a votar naqueles que lá estão e continuarão a votar até porque a oposição, do partido maioritário, não tem sido a adequada. Tem sido fraca porque não há uma forma de apresentar alternativas que seja constante e coerente”, acrescentou. “Mas, ao longo dos anos, foram várias vezes que o CDS se coligou com o PSD. O que é que faltou à oposição para quebrar essa predominância lógica”, questionou o Notícias de Viana. Em resposta, a vereadora recordou a candidatura de Teresa Almeida Garret que, muito embora seja “uma pessoa com muito valor e muito bem preparada, não foi aceite por ser de fora”, reforçando ainda que, nacionalmente, “o partido tem algum peso nas opções locais”. “Vimo-nos forçados, de algum modo, a aceitar. Eu estava de pé atrás devido à situação anterior (2017) em que nos tinham deixado pendurados e me pediram para ser a candidata do CDS na coligação e, como não consegui dizer que não, aceitei”, contou, sublinhando a autonomia do CDS, que tem como objetivo “contribuir para um melhor governo, criticando positivamente, sugerindo e chamando à atenção em algumas situações” em prol dos munícipes. “Ainda estou à espera do dia em que o senhor presidente retire uma proposta porque considera a opinião dos vereadores, em especial, a do CDS, oportuna e reconheça que melhora a sua proposta”, confidenciou.
Ainda sobre “o poder do PS” no concelho, a vereadora reconhece que “há alguma relutância em querer aparecer pelo PSD e pelo CDS porque, apesar de existir a vontade de servir e trabalhar para a freguesia, os candidatos sentem-se uma menos valia ao invés de se apresentarem independentes, pois terão, à partida, mais hipóteses”. “A própria população vai achar que a independência lhes traz alguma vantagem. Só que a independência, é fictícia porque, normalmente, são independentes apoiados pelo PS”, afirmou, considerando que, “na generalidade”, o executivo municipal não apoia, nem beneficia as Juntas e Uniões de Freguesias PS em detrimento das que não o são.
Ilda Novo reforçou ainda que “o CDS pode sempre fazer a diferença” e, embora seja “muito transparente na comunicação social”, “tem peso em algumas freguesias”, onde é reconhecido o seu trabalho. No entanto, reconhece que, juntamente com o PSD, teriam “grandes hipóteses para fazer a mudança” porque “o CDS sozinho não tem peso suficiente”. “O PSD tem pessoas com valor. Não devia trazer gente de fora, mas buscar pessoas que estão no concelho”, defendeu, elogiando o trabalho desenvolvido do vereador Paulo Vale. “É uma pessoa que é muito considerada, não só pelo tempo que passou na Segurança Social como diretor. Fez um belíssimo papel e ficou com uma aura de respeitabilidade e competência que é inegável da parte de toda a gente que lá trabalhou. Tem sido um elemento da oposição do PSD com razoabilidade nas posições, naquilo que são as opções dentro do espírito do PSD e que deviam valorizar mais”, apontou, admitindo que espera, nas próximas eleições, a continuidade da coligação.
Relativamente a questões mais concretas, o Notícias de Viana quis esclarecer uma afirmação da vereadora sobre a importância da mobilidade para o concelho. Em resposta, Ilda Nova defende que a mobilidade é “um bem necessário e básico”, mas “não implica novas estradas”. “A mobilidade existe e é necessária, mas é preciso circuitos, horários e frequência, que é algo que faz parte das obrigações da Câmara promover como autoridade de transportes”, considerou, dando nota de “algumas” queixas dos munícipes, em particular, sobre a circulação à volta da cidade. “A cidade transformou-se numa gigantesca rotunda. Não há alternativas, não há dois sentidos, não há fugas possíveis e não há escapatórias para quem quer circular. É um suplício”, lamentou, sugerindo repensar os circuitos.
Em relação à nova via do Vale do Neiva, em que o CDS tem “ter sérias dúvidas e reservas” quanto à sua construção, Ilda Nova recordou que Luís Nobre disse que “era uma via com muitos acidentes e até mortes”. Na altura, não contestou. “Eu não falo do que não sei e então, fui verificar. Não há nada que confirme esta afirmação. E, portanto, não é razão para estar a criar uma outra via. É desnecessária e não vai trazer vantagem nenhuma”, referiu, explicando que se absteve e, mais tarde, contra porque “não tinham dados suficientes para tomar uma decisão”. “Depois de estudar, descobri que havia imensos terrenos, com capacidade construtiva nas freguesias, que iam ser totalmente impermeabilizados e, portanto, inutilizados para esse fim. Havia zonas de floresta, zonas de parcelas de terreno com capacidade agrícola que iam ser totalmente destruídas”, especificou, acrescentando que também é contra a construção da nova ponte sobre o Lima por considerar “inútil ” e “só irá servir uma fábrica”. “Onde é que vai facilitar o acesso das pessoas à cidade ou a mobilidade no concelho”, questionou, defendendo e exemplificando que “é necessário uma via pedonal para salvaguardar a segurança de quem vem de Darque para a cidade, sem desvirtuar a imagem da Ponte Eiffel”. “Eu considero ser importante o uso dos dinheiros públicos, mas não sem um plano devidamente delineado e sustentado em estudos. Ou seja, nós temos que fazer um levantamento das reais necessidades das pessoas, quer na zona urbana, quer nas zonas limites, para saber o que é necessário”, salientou.
Para além da mobilidade, a vereadora criticou a publicitação dos eventos culturais e falou da imigração e da necessidade de fixação das pessoas, em particular, dos jovens no território. “O concelho de Viana não é atrativo para os jovens. É um bom concelho para as pessoas assentarem”, disse, considerando que, em termos de oferta de emprego e atratividade, “Viana não corresponde”. “Eu lido com muitos jovens e sinto que eles acabam muitas vezes por ter mais atração localmente, nas suas localidades, com pequenos eventos que acontecem e nos quais eles participam, do que se deslocarem à cidade onde, a partir de certas horas, não há nada, nem ninguém”, lamentou, frisando que reconhece que existem, mas “não corresponde ao nível etário deles” e acabam por procurar alternativas em Braga, na Póvoa e no Porto. Ainda assim, sublinha que Viana do Castelo melhorou a sua oferta cultural, nomeadamente, na vertente do entretenimento.
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