Nas últimas décadas, o sushi expandiu-se em todo o mundo e, em Portugal, não é exceção. Com o tempo, conquistou o paladar dos portugueses com o surgimento dos primeiros restaurantes nas grandes cidades. Hoje, são dezenas pelo país. Em Viana do Castelo, mais concretamente no centro da cidade, existem cerca de 15 e a grande maioria, para além do sushi, também aposta na comida chinesa. Uns com serviço à mesa e outros em self-service.
Para alguns dos proprietários que apostaram na capital do Alto Minho para abrir o seu negócio, é claro que a preferência dos clientes recai no sushi e, apesar de não encontrarem uma explicação concreta, garantem que “a procura é grande” porque apresentam “qualidade e variedade” a um preço “económico”. “Sinto que as pessoas procuram fugir das suas rotinas e, muitas, fazem-no através da experiência gastronómica”, considerou Avi Ye, proprietária do restaurante Glamour Sushi, frisando que, muito embora a comida japonesa seja “bem famosa”, a comida chinesa também está “a ganhar o seu espaço”. “Há cada vez mais pessoas à procura”, assegurou.
No seu estabelecimento, o serviço é feito à mesa. Quando o cliente se senta, já tem acesso à carta com uma oferta de quentes e frios, e pratos como massas, legumes salteados e saladas.
Para além da culinária “diferente e exótica”, estes proprietários também trouxeram o conceito buffet ou self-service. “Temos muita variedade de pratos para o cliente, desde comida chinesa, sushi e grelhados. Também há fritos, saladas e sobremesas”, enumerou Qiaoyan Xu, proprietária do mais recente restaurante Maré Wok, explicando que os pratos são preparados com algum tempo de antecedência para garantir que, quando abrem à hora do almoço ou do jantar, o serviço está pronto. “A preparação do sushi demora entre duas e três horas. Já os pratos, aproximadamente 30 minutos”, especificou, sublinhando: “Todos os dias, o chef de cozinha compra produtos frescos. A qualidade tem de ser boa. Tem de ser tudo fresquinho”, vincou. No restaurante Sage Buffet e Sushi, de Adriano Ying, há mais de 20 variedades. “No nosso sushi não pode faltar arroz, salmão, alga nori, cream cheese, vinagre e soja”, confidenciou, frisando a promoção no combate ao desperdício. “Se existirem sobras em grandes quantidades, o cliente paga uma taxa extra”, disse.
“O sushi é visualmente atrativo”
Ana, Carla e Sara são amigas e costumam, pontualmente, comer sushi não por ser um fenómeno, mas por ser “diferente”.
Ana, “provavelmente ao contrário da maioria das pessoas”, gostou de sushi “logo à primeira”. Não considera que seja um fenómeno ou uma moda, mas um reflexo das dinâmicas culturais, sociais e económicas. “Estamos na era da globalização. Temos, diariamente, sem sair do nosso país, acesso a várias culturas e costumes e, obviamente, que a comida é uma das grandes ‘marcas’ de uma cultura e de um povo. E esta abertura ao mundo faz com que, efetivamente, queiramos provar e experienciar novos sabores e paladares diferentes dos nossos”, justificou, referindo que poderia também falar das comidas mexicana, tailandesa ou indiana, porque “estão muito in”.
Também Sara não vê o sushi como fenómeno, apenas como “mais uma opção para jantar”. E, ao contrário de Ana, não gostou da primeira experiência. Teve “uma pequena paragem de digestão”, talvez, por “má confeção”. “Experimentei uma 2ª vez os hot rolls e melhorou bastante. Na 3ª, 4ª,… comecei a entranhar”, admitiu.
O mesmo aconteceu com Carla. Primeiro estranhou devido ao sabor, mas sobretudo, às texturas que são “muito diferentes do habitual”. No entanto, já “entranha” e considera que o sushi é “uma tendência que veio para ficar”, porque, apesar de Portugal ser “um país pequeno”, é “muito bom a incorporar e enraizar sabores que não são dele”. “Apesar da excelente gastronomia que temos, nós, enquanto consumidores, procuramos viajar no palato sem ter de apanhar um avião e pisar solo desconhecido, e a gastronomia é a forma perfeita para isso. E, acho que o sushi é um excelente exemplo disso”, argumentou, frisando que tornou a gastronomia “mais vasta, rica e cultural”.
Segundo Sara, o sushi não é visto como uma refeição económica e que “a atmosfera do local e o hype [promoção exagerada]” do estabelecimento nas redes sociais, é que o tornam caro. “Já comi em locais bem acessíveis e de uma qualidade excelente”, garantiu, destacando a estética do sushi. “Só quem gosta realmente de sushi percebe o fascínio pelas fotografias (risos), mas muita gente também decide experimentar pelo chamado “food porn [fotos apelativas]” porque a estética do sushi, seja em fotografias ou vídeos, desperta a atenção”, justificou.
Partilhando da opinião de que o sushi é “dispendioso”, Carla exemplifica ainda com “a manipulação” dos restaurantes all-you-can-eat [tudo o que conseguir comer] que “não vendem qualidade”. “O sushi é tendencialmente caro. Basta olhar para os preços da carne e do peixe, em Portugal. Está sobejamente ligado a um estilo de vida mais cosmopolita”, apontou, referindo que quem fica reticente a estas experiências, para além de associar o sushi a sociedade média/alta e que “é impossível suportar custos”, é devido ao peixe cru. “Hoje em dia, há muitos e bons restaurantes de sushi onde há qualidade, e o preço está dentro daquilo que é o expectável quando vamos a um jantar de gastronomia portuguesa”, salientou.
“Estimula o consumo de peixe, mesmo entre os mais novos”
O nutricionista João Rodrigues é igualmente um fã de sushi e considera que é, “globalmente, uma opção interessante”. “Estimula o consumo de peixe, mesmo entre os mais novos, o que nem sempre é fácil. Além disso, aumenta o consumo de gordura ómega-3, que é a gordura mais interessante, bem como de vitamina D, presentes nos peixes gordos, como o salmão, por exemplo. E, se não se considerar o sushi que é frito, de uma maneira geral é uma forma de confeção muito simples, sem utilização de gorduras. Por último, é também, tendencialmente, um tipo de alimento que se come acompanhado, muitas vezes em grupo, o que reforça o caráter social da alimentação”, enumerou, alertando para a importância da escolha do eixe, do seu armazenamento e preparação.
No entanto, o nutricionista esclarece que pelo peixe ser cru e o arroz ser cozido, não se trata de algo inofensivo do ponto de vista calórico. “O facto de o peixe ser muitas vezes gordo, o arroz estar muito compactado, e, acima de tudo, a quantidade significativa de peças de sushi que normalmente se come, faz com que o total de calorias possa ser, de facto, elevado”, acrescentou, reforçando que, comido equilibradamente, é “interessante”.
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