Contracena, a fazer sorrir Viana do Castelo através da dança, do canto e da interpretação

“Julieta” é o quarto espetáculo de teatro musical Contracena. Um sonho de Rita Correia que contempla a dança, o canto e a interpretação. Os bilhetes para os dias 15, 16 e 17, pelas 16h00 e 21h30, já estão à venda no Teatro Municipal Sá de Miranda.

Micaela Barbosa
11 Set. 2023 7 mins
Contracena, a fazer sorrir Viana do Castelo através da dança, do canto e da interpretação

O espetáculo tem a duração de duas horas e conta com dois elencos. “Estamos dedicados a este musical desde janeiro. Mesmo assim, ainda há coisas para rever”, afirmou Rita, enaltecendo o entusiasmo dos alunos. “É sempre um desafio e, portanto, há muita ansiedade e nervosismo a pairar. As pessoas não estão à espera do que vai acontecer, mas tenho a certeza de que se vão divertir. Além disso, é um musical moderno que aborda valores e temas muito atuais, como o poder feminino e a resiliência”, avançou.

Marta Xavier é Julieta e André Barreto é Lance. São duas personagens que vão surpreender. “A Julieta é muito curiosa, extrovertida, divertida e quer seguir o seu sonho. Os rapazes não interessam para nada. Ou seja, vamos ver uma Julieta mais independente do que aquela que conhecemos”, desvendou Marta, não contando se ficará com Romeu. “O Lance é um nobre francês. É pai de um do novo interesse da Julieta. É uma pessoa severa. Ele tem muito a dizer na pretendente do seu filho. No entanto, vamos ver um Lance perdido de amor ao reencontrar uma das suas maiores paixões”, confidenciou André, referindo que a preparação do espetáculo foi um processo “interessante”. “É uma peça pouco conhecida pelo público. Exigiu um grande trabalho de pesquisa e de relações com as outras personagens com que o Lance vai contracenar”, acrescentou.

Os dois jovens fazem parte dos cerca de 80 alunos, “dos quatro anos aos mais graúdos”, que estão no Contracena. Têm 18 e 17 anos respetivamente e, este ano, vão para a Universidade. Marta Xavier vai estudar teatro na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, no Porto, e André Barreto vai estudar Ciências Políticas e Internacionais, em Lisboa. “Entrei no secundário para seguir psicologia, mas, quando comecei as aulas no Contracena, as coisas mudaram. Desde pequena que dizia que queria ser atriz, mas, no secundário, mudei de ideias. Já não fazia teatro. Perdi, mas, quando voltei, sabia que era por aqui o meu futuro”, salientou Marta, agradecendo o apoio de Rita e dos seus pais. “Eles apoiam-me incondicionalmente. Eles querem que eu seja feliz. Só isso”, reiterou, acrescentando: “A Rita é uma das razões por ter seguido esta área artística. Fez-me perceber o quanto gosto disto e ensinou-me a ter mais confiança em mim. Antes, nem aceitaria ser personagem principal. Tive momentos difíceis, e a Rita ajudou-me imenso”, confidenciou. “Entrei no Contracena há cerca de um ano. Vai ser o primeiro espetáculo em que vou participar. Já sigo o trabalho da escola há algum tempo, mas não surgiu oportunidade de fazer parte. Esta foi a primeira experiência com o canto e a dança. Não estava à vontade nestas áreas e, por isso, foi um desafio. Se já era reticente na interpretação, o canto e a dança trouxeram um desafio em escala maior. Foi uma experiência incrível e enriquecedora”, contou André, enaltecendo o grupo e o trabalho desenvolvido pela professora. “A Rita trouxe-me novos desafios. Há um ano, não acreditava que chegaria aqui. Lembro-me de ter entrado com dois pés esquerdos e uma voz rachada, mas todo o trabalho desenvolvido valeu a pena”, assegurou, entre risos.

Marta e André querem manter a ligação com o Contracena. Marta vai continuar a ter aulas, e André quer procurar oportunidades em Lisboa.

O Contracena nasceu em 2021, em tempo de pandemia. Um sonho de criança que se concretizou após o término da licenciatura em Teatro na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Vila Real). “Desde pequena que gosto muito de palco. Primeiro, descobri a dança, depois, o canto e, mais tarde, o teatro. Quando estive em Viana do Castelo, senti a necessidade de estar nas três áreas. Financeiramente era muito carregado e depois, também não surgiu oportunidade de frequentar as três áreas e foi aí que surgiu a ideia do Contracena. Eu queria um espaço em que pudesse fazer as três coisas”, contou Rita Correia, assegurando que “está a correr tudo muito bem”. “Após abrir, fui obrigada a fechar. As aulas foram online, mas tudo superou as minhas expectativas, porque os alunos mantiveram-se comigo e muitos outros chegaram”, explicou, confidenciando que iniciou com “cerca de 20 alunos”. 

A jovem de 28 anos, desvendou que, este ano, vai abrir aulas de teatro musical para os adultos. “Viana está a acolher-nos de uma forma muito boa. Temos público e, passo a passo, vão conhecendo o nosso trabalho, que se evidencia por ser diferente”, afirmou, reconhecendo a estranheza inicial. “As pessoas não sabiam muito bem aquilo que o Contracena ia fazer… Se íamos só dançar, cantar ou interpretar. O Contracena foi, e é, uma escola dedicada ao teatro musical. Quem vem, trabalha as três áreas, mas deixo-os completamente à vontade, onde se sentem bem. Não cantam ou dançam sozinhos se não quiserem”, referiu, assegurando: “Hoje, as pessoas já estão mais familiarizadas, e não é por acaso que estão a surgir mais escolas de teatro musical em Viana do Castelo. O teatro musical é um teatro feliz, as pessoas gostam e sentem-se bem a ver. Aliás, os miúdos, muitas vezes, dizem que vêm o sorriso das pessoas quando estão em palco e, portanto, não há nada melhor do que isso.”

O Contracena estreou com o espetáculo “The Greatest Showman”. “O primeiro espetáculo nunca se esquece. Ainda hoje as pessoas falam sobre ele. Enchemos a sala”, recordou, especificando que fazem, ainda, pequenas participações de rua e eventos municipais. “Um espetáculo exige muita produção técnica e, por isso, não posso deixar de agradecer à GAM, que me ajuda na parte do som e da iluminação. Uma parte muito importante no espetáculo para além da preparação das personagens, falas, danças e etc.”, salientou.

Rita Correia frisou, ainda, que, para além de professora, procura ser amiga dos seus alunos, transmitindo-lhes alguns valores importantes para a sua vida futura. “Sinto que muitos dos meus alunos procuraram o Contracena pelas mesmas razões por que abri. Gostam das três áreas e não encontraram nenhum projeto assim. Alguns deles vêm com uma área menos apurada, mas, com trabalho e dedicação, chegam lá”, disse, reiterando que “só quem faz teatro musical é que consegue entender a responsabilidade, ansiedade e adrenalina em desempenhar as três áreas”.  “Eles gostam de sentir tudo isto. São incansáveis”, salientou, confidenciando que ainda não sabe se gosta mais de estar em palco do que ser professora. “É esquisito (risos), mas é um desafio constante que vale muito a pena, porque tenho de estar sempre bem disposta e com energia. Quero que eles se sintam bem aqui. Gosto de os conhecer e às suas histórias. Não podia estar mais grata”, afirmou.

E, embora ainda exista o estigma do futuro nas áreas artísticas e de serem mais alunos do sexo feminino do que masculino, o Contracena tem espaço para todos. “Temos cerca de dez rapazes aqui, e estamos a trabalhar para ter mais”, garantiu, acrescentando: “Fiz formações em Lisboa, Porto e Braga. Nesta área, a formação nunca é demais.”

Já a ida para a Universidade, deixa o coração da professora “apertadinho”. “Há miúdos a seguir teatro na Universidade. São apaixonados pelo teatro musical e vão fazer aquilo que gostam, por isso, não podia estar mais feliz. O meu coração está apertadinho, mas fico contente por eles”, referiu

Para o futuro, Rita Correia quer aumentar a equipa e o espaço devido ao aumento do número de alunos. “É desafiante distinguir a minha vida profissional da pessoal, mas gosto do que faço e, tendo o apoio de casa, é muito importante. Dá trabalho. Muitas vezes, é fora de horas, mas vale muito a pena. Sou muito feliz”, terminou.

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