A intenção do presidente norte americano, Donald Trump, de taxar alfandegariamente produtos de outros países, leva a ser discutida nos meios de comunicação a problemática do comércio entre nações, ou seja, do comercio internacional.
Na Europa, a maior parte da população vê as suas necessidades básicas satisfeitas, nomeadamente pelos bens são postos à sua disposição pelo comércio internacional. Contudo, continentes como a África, a Ásia e a Oceânia integram povos a viver abaixo do nível de subsistência e que podem influenciar o desenvolvimento global da humanidade.
Com dados recolhidos no Global Wealth Report 2022 (Credit Suisse) e no World Inequality Report 2022, 50% da população mundial adulta (2,6 mil milhões) detém apenas 1% da riqueza mundial, possuindo os 10% dos mais ricos do planeta, 81% da riqueza.
De acordo, com o Banco Mundial, viviam em situação de pobreza extrema no mundo (menos de 2,15 USD, por dia), no ano de 2019, cerca de 650 milhões de pessoas. Dessas, 60% viviam na África subsaariana (389 milhões) e 24%, (156 milhões), na Ásia do sul.
Entretanto, segundo o Relatório dos ODS 2023 (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) das Nações Unidas, metade da população mundial vive com menos de 6,86 USD/dia; 2,2 mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável e 675 milhões de pessoas não têm acesso a eletricidade. (USD = dólares americanos)
A capacidade de aquisição dos bens pelas pessoas dos países referidos no comércio internacional, é reduzida, As suas necessidades são basicamente satisfeitas com bens e serviços que chegam através de programas alimentares de ajuda e da produção e comércio locais. Daí que, neste caso, não é tanto sobre políticas comerciais de Trump contra regiões favorecidas que interessaria refletir, mas sobre outras políticas que a sua administração tenta implantar, nomeadamente no âmbito dos programas de ajuda ao desenvolvimento.
Vivemos num mundo globalizado em que a pobreza extrema de alguns países nos afeta, não só humanitariamente, mas também socioeconomicamente. Ela dificulta o crescimento global, afetando a economia, a segurança, o meio ambiente e até a estabilidade política mundial, nomeadamente pela reação primária de extremismos e terrorismo e pela corrupção dos poderes aí estabelecidos. Milhões de pessoas tendem a partir em busca de melhores condições de vida, aumentado a problemática dos refugiados. Em termos ambientais e sanitários, as faltas de condições podem levar à degradação ambiental, perda de diversidade e propagação de doenças em pandemias globais.
A resolução dessas questões exige cooperação internacional, investimento sustentável e políticas de desenvolvimento. Por isso, agências das Nações Unidas para o Desenvolvimento e ONGDs (Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento) têm promovido programas de luta contra a fome, a pobreza, pela saúde e erradicação de doenças (SIDA, malária e tuberculose), pelo desenvolvimento da Educação e monitorização climática, agindo no terreno.
Ora, mais de 4 000 organizações deste tipo, operando em mais de 100 países, são apoiadas pela USAID (United States Agency for International Development – Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional).
A anunciada extinção destra agência, um dos maiores contribuidores para ajuda ao desenvolvimento, põe em causa esta luta. Sendo uma prioridade legítima de um governo, revela, contudo, valores que têm menos em conta a solidariedade e cooperação universais. Acusar que grande parte dos fundos transferidos acabam na corrupção dos países ajudados, não é motivo para cortar, mas para reforçar o controlo e a eficiência dessa distribuição.
A este propósito, foi noticiado ter a CÁRITAS INTERNATIONALIS, confederação de 162 organizações em mais de 200 países e territórios, sendo a segunda maior rede humanitária do mundo, condenado a decisão “imprudente e abrupta” da administração de Donald Trump encerrar “os programas e escritórios financiados pela USAID)”.
Refira-se que a USAID tem sido uma parceira vital da CÁRITAS (organismo da Igreja Católica) no apoio a comunidades vulneráveis em todo o mundo, no que toca à fome, à saúde, à educação e abrigo, promovendo estabilidade e desenvolvimento em muitas regiões por mais de seis décadas.
Neste contexto, não é de ignorar a importância da reflexão sobre o Desenvolvimento num mundo em que todos vivemos.
Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.
Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.