O número de mulheres eleitas presidentes de câmara quase duplicou nas eleições autárquicas de 2025, passando de 9% em 2021 para 15,68%. Ou seja, 48 mulheres eleitas num total de 308 municípios. Ainda assim, o país continua longe do limiar mínimo de paridade de 40% definido pela lei, com os Açores como a única exceção.
De acordo com a professora de Direito Administrativo Eva Macedo, a tendência, embora positiva, está longe de ser suficiente. Em declarações à Agência Lusa, sublinha que “este número permanece muito distante do limiar mínimo de paridade” e alerta que “há o risco de esta subida ser apresentada como uma vitória definitiva, o que poderia desincentivar o esforço por uma real igualdade”.
Por regiões, os Açores lideram a tabela, com oito mulheres eleitas presidente (em quase metade dos 19 municípios): quatro pelo PS, duas pelo PSD, uma pelo CDS-PP (a única mulher a nível nacional) e uma pelos grupos de cidadãos. Seguem-se Faro, com cinco mulheres, e Porto, Setúbal e Vila Real, com quatro cada.
Do outro lado do espectro, em dois distritos, Beja e Leiria, num universo de 30 municípios, não foi eleita qualquer mulher.
No Alto Minho, destaca-se Liliana Silva, eleita presidente da Câmara de Caminha, pela coligação O Concelho em Primeiro (PPD/PSD–CDS–PP–PPM), que venceu o PS por apenas 30 votos. A autarca, a segunda mulher a liderar o Município, representa um dos sinais de viragem no mapa político do Alto Minho.
Em entrevista ao Jornal C – O Caminhense, a nova autarca explicou que a vitória “foi fruto do trabalho de oposição construtiva realizado nos últimos 12 anos”, atribuindo o resultado à “necessidade de mudança que sentiu na população” durante a campanha porta-a-porta.
Liliana Silva é apenas a segunda mulher a liderar a autarquia caminhense e já traçou prioridades para o arranque do mandato: a revisão do Plano Diretor Municipal (PDM), o desenvolvimento de uma nova zona industrial entre Argela e Vilar de Mouros, a revitalização da época natalícia no concelho e medidas para enfrentar o problema da habitação. “Vamos apostar no rigor das contas, eliminar gastos desnecessários e aproveitar fundos comunitários. Temos aqui um grande potencial de desenvolvimento”, declarou.
Uma das promessas mais simbólicas da sua campanha foi a construção de uma ponte entre Caminha e A Guarda (Espanha), proposta que considera estratégica para a economia local e para a ligação transfronteiriça. “A ponte é uma reivindicação antiga e necessária. Agora temos todas as entidades alinhadas para discutir seriamente este projeto”, afirmou ao Jornal C.
Liliana Silva pretende também reforçar a transparência da gestão camarária. Vai pedir uma auditoria às contas do Município, referindo-se a uma dívida acumulada de 23 milhões de euros e a encargos adicionais de capital e obras ainda por pagar. “Todos os caminhenses têm direito de saber onde é gasto cada cêntimo do seu dinheiro”, defendeu.
No campo social, a futura presidente promete medidas para melhorar o acesso à habitação, nomeadamente para jovens e famílias residentes, combatendo a especulação imobiliária. Entre os projetos destacados está ainda a implementação da tarifa social da água no concelho, a única autarquia da CIM Alto Minho que ainda não a aplicava.
Questionada sobre a nova composição da Assembleia Municipal de Caminha, mais fragmentada, com representação do PS, da OCP, do Chega e de uma deputada independente, Liliana Silva mostra-se confiante. “Acredito no diálogo e no papel moderador dos presidentes de junta. Teremos um equilíbrio interessante nas decisões”, referiu.
A vice-presidência da autarquia ainda não foi anunciada, mas a eleita garantiu que será uma decisão tomada em equipa, entre os quatro vereadores da coligação.
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